definitivamente convincente acerca da possibilidade de se sustentarem, viverem e fazerem economias aqueles indivíduos ou agregados familiares cujos proventos estão abaixo, muitíssimo abaixo, dos 3.000$ mensais mínimos apreciados nas considerações do Sr. Engenheiro Daniel Barbosa.

O Sr. Daniel Barbosa: - Tenho a impressão de que não foi intenção de V. Ex.ª, ao referir-se às minhas alegações, concluir que eu não tinha reconhecido o avanço que operámos neste campo.

Eu, exactamente, quando aqui protestei contra a classificação dada a Portugal de país subdesenvolvido, destaquei que todo esse movimento que se está a dar é uniforme em todos os países civilizados, que mostram, assim, um importante progresso mundial.

Mas é preciso também notar que, a par dessa melhor alimentação, influem também, e muito, as melhores condições de higiene...

O Sr. Galiano Tavares: - O combate às doenças.

O Sr. Daniel Barbosa: - Exactamente, o combate às doenças, etc.

Mas V. Ex.ª sabe também que uma das grandes preocupações que hoje começa a aparecer é a de que exactamente o avanço da higiene, com o atraso do avanço económico, não possa acabar por provocar, mais tarde, condições económicas de vida piores.

Não podemos tirar conclusões unicamente através das razões que V. Ex.ª invoca e que parecem indicar que estamos vivendo numa situação plenamente satisfatória.

O Orador: - Pois deixemos os índices fisiológicos e passemos à leitura dos depósitos feitos na Caixa Económica Postal.

Ora a movimentação desses depósitos na mencionada Caixa Económica Postal (vide p. 22 do Anuário dos CTT para 1955) tem a seguinte representação nos últimos cinco anos:

Depósitos

(Em números redondos)

Em 1956 o montante anual subiu ainda para 181:545.130$70, divididos por 144 313 depósitos efectuados.

E em Janeiro e Fevereiro deste ano - apenas em dois meses - já se atingiram os 36 300 contos.

Comentar?

Para quê?

Que estranho e original país subalirnentado este, onde as classes mais modestas da população economizam nas gigantescas proporções postas a claro.

E se da Caixa Económica Postal passarmos para o exame do que se passa na Caixa Geral de Depósitos, sempre na área limite dos pequenos depósitos não excedentes a 4.000$ ou 5.000$, as conclusões não sofrem qualquer modificação.

Repito, portanto: comentar?

Para quê?

Sr. Presidente: será razoável, decente e honesto extrair das palavras que acabo de proferir a conclusão de que sou uma nova edição de Pangloss, satisfeito, radiante, a exultar porque tudo corre pelo melhor no melhor dos mundos possíveis?

Que me propus; sustentar que toda a gente desta boa terra vive em pantagruélica abastança, viajando, teatrando, cinemando e acumulando economias sobre economias nas caixas económicas populares?

Repito: será decente, será honesto, será admissível?

Toda a vida tenho sido, e quero morrer, um homem leal, que expõe lealmente as suas razões a quantos o escutam, desagradem elas ou não.

Afigura-se-me tarde de mais para arrepiar caminho.

A atitude que tomo no debate é firme e clara: assistimos à evolução duma situação política que há trinta anos assumiu a direcção dum país sem finanças em ordem, nem meios de comunicação terrestres ou marítimos, nem aproveitamento útil dos seus recursos naturais, nem paz, orientação, conceito mundial, fé no futuro.

Pela acção dominante e decisiva de um Homem - e que Chefe! - ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... construímos e lançámos nos mares uma frota marítima de primeira ordem; reparámos as vias de comunicação existentes e construímos novas estradas; cumulámos cidades, vilas e aldeias de melhoramentos, obras de interesse social, ruas, esgotos, boas vias de comunicação: criámos inúmeras escolas; elaborámos e levámos a bom termo sucessivas instalações hidroeléctricas que assegurarão novos e cómodos meios de desenvolvimento social e industrial da Nação; facilitámos as comunicações entre rios, ligando as respectivas margens por pontes de avultado custo; condicionámos e fizemos o possível por estabelecer as boas regras duma prudente coordenação industrial, etc., etc., etc.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Tudo isto soma e representa o investimento de muitos milhares, milhões de contos.

E esse sacrifício, houve que exigi-lo de uma, de duas gerações!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas, por isto mesmo, talvez não valha a pena permitir que se criem esperanças de uma elevação de salários a curto prazo, ilusões sobre impossíveis imediatas melhorias do standing de vida nacional, euforias, excitações, esperanças fugazes, irremissivelmente condenadas a morrer sem remissão possível para os que as antevêem como de próxima e fácil efectivação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!