cujo primeiro cuidado consiste em levantar escolas - que servirão tanto para o ensino da língua francesa como para celebrar actos de culto e ministrar a catequese. As igrejas serão edificadas mais tarde.

Sr. Presidente: nos Estados Unidos existem emigrados de sangue português desde os meados do século XVII, tendo-se fixado muitos deles na Nova Inglaterra e na Califórnia há mais de cem anos: o seu montante não tem cessado de aumentar, ainda que nas duas últimas décadas em menor escala, devido às restrições da lei de emigração americana.

Bastantes dos nossos antigos emigrantes, quando deixavam a Pátria, mal sabiam ler e escrever o seu nome, partindo pobres de bens materiais, de instrução literária e profissional e de protecção religiosa; iam dispostos a trabalhar afanosamente e a fazer todos os sacrifícios para brevemente regressarem à terra natal com meios de fortuna. Porque a sorte não favorecia todos, a permanência forçada levou-os, anos mais tarde, a reunir-se em missionárias ministram, na nossa língua e em inglês (como determina a lei norte-americana), ensino religioso e literário a muitos milhares de crianças de origem portuguesa.

Assim como as 29 paróquias presentes e os 62 padres nacionais estão muito longe de satisfazerem as necessidades do culto do meio milhão de luso-americanos, igualmente os nossos colégios da América do Norte não podem dar instrução às várias dezenas de milhares de filhos dos portugueses da Nova Inglaterra e da Califórnia.

Não será ousado admitir que para as exigências espirituais e intelectuais dos Luso-Americanos serão precisos acima de 150 paróquias e mais do dobro do sacerdotes, cerca de 400 colégios de ensino primário e os religiosos bastantes para neles preleccionarem, algumas escolas de ensino secundário ou médio e um seminário, situados onde se encontrem mais concentrados os agregados da população luso-americana.

Empresa tamanha é, salvo melhor opinião, a única capaz de salvar para Portugal os 500 000 luso-americanos. Ao enunciá-la, tenho na mente as expressões autorizadas do Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, escritas em 1945 na

carta-prefácio do interessante trabalho do antigo e ilustre membro desta Assembleia major Luís da Câmara Pina, apresentado ao II Congresso da União Nacional, defendendo a criação de um centro de cultura e língua portuguesa na América do Norte:

Os melhores centros serão sempre as igrejas portuguesas da América, como os melhores agentes serão os sacerdotes saídos do nosso povo. Cremos até que tudo o que se fizer terá do ser ao lado daquelas e com o apoio destes. Mas a sua acção e influência precisam de ser ampliadas e continuadas com instituições de cultura e língua, sem as quais até nas igrejas se deixará de rezar em português...

Sobretudo se for rareando cada vez mais a emigração portuguesa.

A obra sugerida alicerça-se nas magnificas doutrinas da Ersul Família, exemplificadas fecundamente na experiência italiana e nos belos conceitos do Sr. Cardeal Patriarca, e está em perfeito acordo com os interesses espirituais, políticos e económicos de Portugal, além de que, para pô-la em marcha, não se exigem incomportáveis encargos financeiros ao Tesouro nacional.

Trata-se de um programa de resolução a longo prazo, como é óbvio; o fundamental é planificá-lo com perfeito conhecimento do meio americano, estabelecer prioridades de acção e iniciá-lo sem demora; de contrário, será tarde de mais, tantas e tão grandes solicitações assimiladoras enleiam os nossos jovens e adolescentes da América do Norte.

E depois não temamos a naturalização norte-americana nem que perdure o complexo de interioridade étnica dos filhos dos nossos emigrantes - obsessão de muitos deles, felizmente em via de esmorecimento; graças a Deus que as novas gerações já se orgulham de descender de por tugueses, desde que Salazar dirige os nossos destinos, começando a perder a «vergonha» - sentimento derrotista criado e desenvolvido por suspeitas propagandas estrangeiras, empenhadas em amesquinhar a actividade civilizadora de Portugal, minimizando a sua cultura e denegrindo os brilhantes leitos da nossa história, juízo que, lamentavelmente, a situação política anterior ao 28 de Maio consentia e ajudava a corroborar.