A proeza de Manuel Faria no Brasil, na noite de S. Silvestre, elevou-o, no consenso unanime de toda a critica, e no campo do atletismo, ao lugar de primeiro atleta português de todos os tempos.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Na verdade, a sua vitória na corrida de S. Paulo confirmativa da que já obtivera o ano passado- reveste-se de circunstâncias verdadeiramente excepcionais.
Disputaram a prova mais de duzentos e cinquenta concorrentes, representando cerca de vinte países - e entre eles os primeiros nomes dos corredores de fundo de todo o Mundo, a principiar pelo célebre russo, campeão olímpico e recordista mundial.
Muitos deles fizeram-se acompanhar pelos seus treinadores, massagistas ou médicos.
O atleta português, franzino, modesto, foi sozinho, apenas amparado pelo seu valor, pela sua fé e pelo seu patriotismo «desejoso (essas foram as suas palavras) de oferecer à Pátria a vitória daquele ano».
Vozes: - Muito bem!
vitória ter tido lugar no Brasil, em S. Paulo, onde mais de meio milhão de pessoas assistiram, nas ruas, ao dramático triunfo do corredor lusitano.
Essa circunstancia valoriza o seu êxito duma forma muito particular, conhecido, como é, de todos o extraordinário entusiasmo patriótico da grande colónia portuguesa no Brasil, cuja alegria e cujo orgulho bem podemos avaliar quando viu, ou soube, que a cortar a meta, distanciado de todos os campeões estrangeiros, vinha um corredor que trazia gravada no peito, e não apenas na camisola, esta palavra: «Portugal».
Essa alegria e esse orgulho em muito hão-de contribuir para suavizar aos Portugueses do Brasil as saudades da Pátria distante.
Vozes: - Muito bem!
Sr. Presidente : Manuel Faria vai chegar dentro de poucas horas.
Lisboa, que tanto vibra e sente nestes momentos de febre popular, irá em grande massa aplaudi-lo à chegada.
O Governo, e em especial o ilustre Ministro da Educação Nacional, não demorará decerto a conceder-lhe o mais alto galardão desportivo, a que criou jus.
Vozes: - Muito bem !
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador foi cumprimentado.
O Sr. Homem de Melo: - Sr. Presidente: durante as farias do Natal, que paralisaram os trabalhos da Assembleia, a imprensa difundiu largamente dois despachos do Ministro das Corporações que regulamentam e protegem o trabalho feminino.
Não pode o meu espirito ficar indiferente à iniciativa do titular daquela pasta nem a Assembleia deverá ignorar medida de tão largo alcance.
Tornou-se lugar-comum dizer que vivemos numa época dominada pelo económico e pelo social. Há, todavia, lugares-comuns que merecem ser repetidos.
Atento às realidades, o Governo procura acompanhar a marcha dos acontecimentos; mas num pais que permaneceu até 1920 divorciado das grandes revoluções económicas e sociais torna-se difícil, e por vezes perigoso, vencer as barreiras alterosas da inércia, do egoísmo e, não raro, de uma definitiva ausência de mentalidade rejuvenescida.
Os velhos do Restelo, que começaram por lamentar a nossa epopeia ultramarina, não mais desapareceram dos nossos hábitos e foram exercendo acção retardadora em muitas das nossas iniciativas.
Assim se agitou o Mundo, sem que nós participássemos em todos os capítulos da renovação, e ficámos, sob certos aspectos, em circunstâncias pouco lisonjeiras, de atraso económico e social.
No esforço notável de actualização que o Governo vem desenvolvendo diligencia-se recuperar o tempo perdido, sem ofensa das tradições da nossa terra e dos costumes da nossa gente.
E que a marcha do progresso nem sempre se identifica com o clima moral em que os povos devem viver, e não raras vezes coincide o ponto mais alto da civilização material com ausência de vida moral.
A Igreja, pela voz dos seus últimos pontífices, não descurou o assunto, versando o tema com a coragem própria da sua missão e corri a energia, apanágio da verdade que lhe cumpre difundir.
Ora, os dois despachos do Sr. Ministro das Corporações sobre o trabalho feminino parecem actualizar as minhas palavras.
Fiéis à dignidade da pessoa humana, que através de todas as vicissitudes temos procurado manter, a protecção conferida à mulher, designadamente à mulher que espera ser mãe ou que já deu filhos ao Mundo, não