pão nosso de cada dia naquelas ilhas, só preocupa n sua população o não saber, quando eles começam, como acabam.

Familiarizada assim com os tremores de terra, o mesmo não sucede com as erupções vulcânicas...

A actual população da ilha do Faial nunca tinha visto um vulcão em erupção nem sentido as suas consequências. O último que lá surgiu foi o do Capelo, em 1072. Porém, em Setembro do ano findo foi o Faial, como de costume, abalado por uma série infinita de tremores de terra.

Um vigia da baleia, no seu posto junto ao farol dos Capelinhos, avista perto da costa um repuxo de água semelhante ao que fazem os cachalotes quando percorrem as águas do oceano.

A sua primeira intenção foi fazer o sinal de «baleia à vista», para as embarcações varadas naquelas proximidades arriarem e irem à sua caça. No entanto, como fosse homem experimentado no seu oficio e soubesse que os cachalotes não se aproximam a tão curta distância da terra, voltou de novo a mirar mais atentame nte aquele repuxo, e, verificando que este era embelezado por um débil e incipiente vapor de água, concluiu que não se tratava de cachalotes...

Era o vulcão dos Capelinhos que surgiu do fundo do mar!

A notícia espalhou-se rapidamente por toda a ilha e com ela o terror na sua população.

O vulcão, que no principio parecia inofensivo, cresce rapidamente e transforma-se naquele monstro que, sem piedade, tem lançado fogo, escorias e cinzas a muitas centenas de metros de altura, que destrói pastagens numa grande parte da ilha e obriga a população das suas proximidades a abandonar os seus lares com todos os seus humildes haveres.

Sr. Presidente: quem pretendesse fazer uma pormenorizada descrição das suas tristes consequências, desde o dia em que surgiu em pleno mar ato à presente data, não teria de fazer grandes esforços. Bastaria consultar o arquivo daquela ilha e copiar parte do que se encontra escrito acerca do vulcão de 1072, que surgiu naquela mesma zona.

O que se passou há duzentos e oitenta e seis anos repete-se, quase por assim dizer, com o vulcão de 1957, e ato, por curiosa coincidência, o capitão-mor de então, cuja acção naquele doloroso transe foi de uma benemerência e de uma dedicação sem igual para as populações sinistradas, tinha o mesmo apelido do actual governador da ilha.

Ao ler-se a notável acção do capitão-mor Jorge Goularte Pimentel tem-se a impressão de que essas palavras foram escritas para o Dr. Freitas Pimentel, quando, duzentos e oitenta e seis anos mais tarde, tivesse, como governador, de prestar à população da ilha do Faial, em idênticas circunstâncias, todo o sou carinho, toda a sua inteligência e toda a sua abnegação.

Como em 1672, foi a freguesia do Capelo a zona mais atingida pelo novo vulcão.

Cerca de 3000 ha de terras foram completamente cobertas pelas cinzas por ele vomitadas, do lugar do Norte Pequeno estas cinzas atingiram tal altura que tornaram inabitáveis todas as coisas e inutilizaram completamente todas as pastagens.

Houve necessidade do evacuar cerca de 1100 pessoas e mais de 600 cabeças de gado, serviço este que foi feito primorosamente sob a orientação carinhosa e inteligente do governador do distrito.

A população atingida, pelos efeitos do vulcão foi dividida em dois grupos: os que podiam trabalhar e os que por doença ou velhice nada podiam fazer. Ao primeiro foi-lhe facilitado trabalho em obras públicas ou prestado todo o auxilio e facilidades por intermédio dos serviços agro-pecuários da Junta Geral, para que pudesse continuar a tirar do seu gado o habitual rendimento do leite, enquanto o gado restante era embarcado para Lisboa com destino a ser abatido para o consumo público.

Ao grupo dos inválidos foi e continua a ser prestada a mais completa assistência, graças ao auxílio do Governo da Nação, que desde a primeira hora pôs à disposição do governador da Horta todas as verbas que fossem necessárias para socorrer aquela infeliz gente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Não seria justo esquecer neste momento o ilustre Ministro do Interior, Sr. Dr. Trigo de Negreiros, que desde a primeira hora procurou estar em permanente contacto com aquela ilha, atenuando assim, com o seu interesse e com o seu apoio incondicional, as graves responsabilidades que pesavam sobro o difícil cargo do governador.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- As suas palavras, tantas vezes espaçadas e mal ouvidas por única responsabilidade das deficientes comunicações telefónicas, traduziam para a população do Faial e para o seu governador a certeza de que o Sr. Presidente do Conselho e todo o seu Governo seguiam com o maior carinho e atenção o desenrolar do triste acontecimento.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Os tempos, felizmente já remotos, em que os Açores eram votados ao esquecimento ou indiferença do Governo Central não poderiam ressurgir.

Um Governo que tem como Chefe o Homem que conseguiu unir num todo indivisível as dispersas parcelas do território português dá às suas populações, sejam elas da África ou da Índia, a certeza do que em nenhumas circunstâncias, e sobretudo nos momentos difíceis e dolorosos, lhes faltará com o apoio moral e material que lhes é devido.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Assim, satisfazendo umas vezes os rogos do governador e outras tomando o próprio Governo a iniciativa, fórum dadas todas as providências aconselháveis, que remataram com a publicação de uma portaria dos Ministros do Interior, Obras Públicas e Economia nomeando uma comissão para prestar toda a