latórios de que só a Revolução Nacional seriamente considerou uma situação que já se revelava precária em 1918 o 1919 época em que foram publicados vários decretos que não chegaram a ter grande aplicação, e que o muito pouco que se efectuou apenas em 1926 veio a ser completado, não obstante as quantias que até então haviam sido despendidas.

Não é de mais recordar aqui este facto e ao Ministro das Corporações louvo por tê-lo registado, pois, breve ou tarde, conhecidos inimigos do regime aproveitar-se-ão do desapaixonado e construtivo debate que aqui se travar para utilizaram bocados de frases ou restos de períodos na explorarão da ingenuidade ou da ignorância duns tantos. Estamos demasiado habituados a que tal suceda e não desconhecemos esses processos e hábitos de fácil demagogia para que desde já os não apontemos a todos os de boa vontade.

Ausentes e contrários a todas as demagogias - Salazar ensinou-o com a sua doutrina e o seu exemplo -, devemo-las desmascarar onde quer que surjam, por imperativo da doutrina e para defesa duma séria consciência nacional. Fria e construtivamente analisa esta Assembleia os mais variados problemas da Nação e, com os olhos postos no bem comum, aprecia as soluções propostas com o firme desejo de contribuir para o seu perfeito esclarecimento. E, se não aplaude pelo simples gosto de aplaudir, não nega por sistemática e destrutiva sanha. Trabalha-se, em resumo.

O problema da habitação constitui evidente preocupação do Governo. Para além de providências anteriores e das suas consequentes realizações, ainda há poucas semanas o Ministro das Finanças propôs, com o geral aplauso desta Câmara, o estudo das medidas atinentes à resolução do problema no relativo nos funcionários públicos, que por esse modo veriam justamente melhorada a sua situação, um muitos casos tão dura e difícil.

Hoje outras largas zonas da população portuguesa são postas perante um esforço que exigirá a mobilização de somas grandiosas e das melhores energias. Consideram-se, assim, em vasto plano as necessidades das classes menos abastadas, tendo eu todavia, apreensões quanto à pulverização de actividades que talvez em conjunto estivessem em condições de melhor concorrer para a solução nacional do problema. Tenho, efectivamente, receio de que essa fragmentação estimule o que tanto compraz ao nosso feitio, ou seja a criação de compartimentos que, com o rodar dos anos, se vão tornando estanques e onde cada qual constrói a sua torre e hasteia a sua bandeira.

Bem se sabe que essa diversidade pode justificar-se pela origem dos investimentos, mas talvez mais útil fosse criar e fortalecer uma unidade baseada na identidade dos objectivos.

Creio que, nestes como noutros aspectos, há estruturas que muito convêm que sejam revistas, mesmo que alguns departamentos sejam amputados de atribuições que consideram próprias e, sobretudo, antes de se criaram esses hábitos onde porventura ainda não existam.

Entre as muitas virtudes nacionais não sobressai, efectivamente, a do espírito de colaboração, que por tal forma falha que raramente deixamos de julgar apenas bom o que fazemos e muito excepcionalmente consideramos melhor o que os outros realizam. Até temos um provérbio que regista esta tendência, que, infelizmente, algumas vezes se agrava quando se deixa colorir por sentimentos ruins. Contrariá-la deve ser, por isso, objectivo comum.

Desde o tempo em que os homens se desabituaram de viver nas cavernas - e o facto decididamente ocorreu há tanto tempo que só por extrema desgraça alguns o podem lembrar - que a casa é fonte irradiadora de conforto, no qual se aninham as famílias naquela enternecedora doçura que o poeta, cantou em versos inesquecíveis. E tal sedução exercem no espirito dos homens essas pedras, que o tempo envelhece por entre os risos alegres das crianças ou as lágrimas de alguma mágoa lá vivida, que recente sociólogo classificava de nomadismo do século XX esse saltitar de bairro, rua ou andar que caracteriza o viver urbano do nosso tempo.

Nesse nomadismo situam alguns, não sem razão, certas das angústias contemporâneas que particularmente se exacerbam quando o homem só por extrema e dolorosa ilusão consegue classificar de casa o tecto que o abriga, Na França, na Itália, na Alemanha, até na América do Norte, para não referir as impressionantes lástimas situadas na União Soviética ou noutros países de além da «cortina de ferro», o problema assume, muitas vezes, proporções pungentes.

Também entre nós o conhecemos, mas não ignoramos o combate tenaz que o Governo lhe tem movido, e será justo referir a actividade de alguns municípios e a do Ministério das Obras Públicas, que ainda há pouco gizou o plano em curso de execução e cujo termo marcará a substituição das «ilhas» do Porto por casas saudáveis e alegres.

Não é, no entanto, este o problema que hoje nos cabe discutir, nem tão-pouco a falta de habitação, que, mesmo diferentes, embora possam ser complementares. Enquanto no relatório da proposta perpassa uma indispensável ansiedade de justiça social, no parecer da Câmara Corporativa mais parece vencer a preocupação do financia