O Sr. Melo Machado: -V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Melo Machado: - Nesses números não estão abatidas as casas destruídas?

O Orador: - Não, senhor..

O Sr. Melo Machado: - V. Ex.ª não tem nota das casas que se deitaram abaixo?

proporção de quase 5 (83 por cento) para 1 de uma até quatro divisões (17 por cento), no ano de 1956 as casas deste lote menor totalizaram 63,4 por cento das concluídas, quase dobrando o número das da categoria maior.

O Sr. Melo Machado: - V. Ex.ª dá-me licença?

Parece-me que daqui a pouco não haverá lugar para as famílias que têm muitos filhos.

O Orador: - Não haverá? Já não há. Mas, como as famílias se vão habituando a alugar casas em grupos, um quarto para cada família, suponho que se irão também habituando à ideia de alojarem os filhos por andares, dentro da cada compartimento...

O Sr. Melo Machado: - Nessas casas que se constroem livremente, o critério é justamente reduzir o mais possível, e, por consequência, havemos de chegar a tempo e andar em beliches.

muito -, se seria de facto inevitável tamanho encarecimento da habitação como se tem verificado em Lisboa, com arrastamento, pelo menos, das rendas arrabaldinas.

Encarecimento tão grande, em relação com o de outras comodidades, que até uma ilustração grosseira dará mais nítida a sua medida. Basta recordar o que eram as rendas das boas casas há vinte anos oferecidas ao público no chamado Bairro Azul, então a novidade da urbanização citadina: por 500$ ou 600$ encontrava-se uma habitação de sete ou oito divisões úteis, o que hoje chamam por aí assoalhadas, e já se dizia que os construtores faziam fortunas. Onde se arranjam hoje em Lisboa casas de igual capacidade apenas pelo quádruplo daquele preço, enquanto os ordenados dos chefes de família pouco mais do que dobraram, somente?

O Sr. Melo Machado: - É pena que V. Ex.ª não tenha trazido uma nota sobre o encarecimento dos materiais para vermos se se justifica essa subida de preços. Construir um prédio, hoje, é empreendimento caro a ajuizar, mesmo, por aquilo que custa uma simples limpeza de prédios. Os proprietários que tem casas alugadas por rendas antigas vêem que os seus rendimentos não lhes chegam para mandar limpar o prédio.

O Orador: - Se V. Ex.ª consultar as publicações do Instituto Nacional de Estatística, encontrará que o índice de custo das construções em Lisboa baixou entre os anos de 1946 e 1956 cerca de 13 por cento, salvo erro.

Se V. Ex.ª consultar mestres-de-obras, como eu fiz, ouvirá que entre 1946 e 1956 baixaram cerca de 50 por cento.

Desde o fim da guerra até hoje as construções baratearam e, contudo, as rendas duplicaram; nos últimos três anos ao passo que o custo da construção aumentou 10 por cento, as rendas aumentaram muito mais.

Há, aliás, uma diferença notável entre a subida das rendas na capital do Sul e na do Norte, como já acentuei.

Penso que circunstâncias extrínsecas ao desenvolvimento da cidade e à política dos seus edis, que ocorreria tão facilmente criminar, intervêm neste agravamento, e trago ao debate o seu exame por as considerar de interesse supracitadino, embora se manifestem à roda do problema da habitação, e da habitação em Lisboa.

Quero referir-me ao investimento de capitais na compra de prédios urbanos, para rendimento, que visivelmente se concentra em Lisboa, mantendo aqui activíssima especulação, com constante agravamento nos preços.

No sexénio de 195l a 1956, inclusive, foram aplicados à compra de prédios urbanos em Lisboa, só em relação àqueles que as estatísticas consideraram vendidos no todo, quase cinco milhões de contos, mais de duas terças partes dos quais em prédios de custo superior a 1000 contos, que na maioria, serão precisamente os grandes edifícios de rendimento.

E de ano para ano tem crescido os investimentos, como se pode ler: