Com o apontamento feito sobre a posição metropolitana no mercado europeu, não se quer significar que o mercado português não tenha qualquer interesse para os produtores e consumidores europeus. O alto nível em que se pretende manter a actividade económica faz com que as organizações comerciais dos países, mesmo os mais evoluídos, não queiram perder uma só oportunidade de vender: um grande mercado é quase sempre o somatório de muitos pequenos consumos. Depois há um outro. aspecto do problema que não é aparente nas estatísticas: as ligações de certas empresas estrangeiras com o nosso mercado farão com que elas sejam sempre nossos advogados junto dos respectivos governos.

O que se quis afirmar foi apenas que apresentamos potenciais de importação e exportação extremamente baixos e que, por isso, não os poderemos considerar, por si só, arma decisiva em hipotética negociação. Em contrapartida, essa fraqueza também pode ser argumento em nosso favor: se aos países altamente industrializados cumpre ajudar os menos evoluídos, não constituirá paira eles grande sacrifício o darem-nos os benefícios resultantes da participação na zona e receberem imediatamente a totalidade da contrapartida a que teriam direito.

Mas o valor da nossa força de negociação precisa ainda de ser completado com a determinação da posição do ultramar português como fornecedor do consumo europeu.

A importância dos mercados externos no desenvolvimento do ultramar O comércio das províncias ultramarinas com o estrangeiro não pode deixar de ser examinado à luz das características que definem as economias daquelas províncias.

Não se fará aqui a caracterização dessas economias, mas far-se-á simples enumeração de dois ou três dos seus aspectos fundamentais que melhor ajudem a interpretar o sentido e o valor dos números referentes às correntes de troca do ultramar. É muito grande para as províncias ultramarinas a sua dependência dos mercados externos. A carência de elementos estatísticos não nos permite fundamentar esta afirmação, o que em nada a invalida.

Sabe-se como é pequeno -quando não nulo- o consumo interno dos mercados ultramarinos no tocante à maioria dos produtos que compõem a sua exportação. Daí que para estas províncias os mercados estrangeiros não possam considerar-se complementares, mas antes mercados-base do consumo.

Pode assim dizer-se que, ao exportarem, as províncias ultramarina» não visam a colocação de excedentes no estrangeiro, anãs sim a colocação aí das suas produções. O consumo dos produtos ultramarinos passa assim a depender de acções e reacções estranhas e incontroláveis pela região produtora, a não ser quando esta se encontra em posição de economia dominante no sector (caso que não se verifica em relação a qualquer das produções do nosso ultramar).

Esta dependência externa, que const itui um dos ariscos sérios e permanentes para o desenvolvimento do ultramar, diminuirá na medida em que a metrópole garanta o consumo de paute importante da produção ultramarina.

Já atrás se abordou este ponto para se verificar que, embora considerável, a importação na metrópole de produtos ultramarinos não assegura presentemente nem assegurará tão cedo base de suficiente estabilidade à economia geral das províncias. Isto se deve à pequena capacidade do mercado metropolitano, por um lado, e, por outro, à alta especialização da produção ultramarina.

As excepções que se verificaram, em casos como, por exemplo, o do açúcar e o do algodão, quanto a produtos, e o de Gabo Verde e Guiné quanto a províncias no seu conjunto, não invalidam a regra enunciada. Por esta situação e pelo conhecimento da medida em que a exportação de mercadorias determina a capacidade de compra do ultramar, conclui-se que o desenvolvimento económico ultramarino se encontra, directa e indirectamente , dependente da existência de mercados estrangeiros, que assegurem o escoamento, a preços razoáveis e estáveis, das suas produções.