Esta dependência do estrangeiro assume o seu pleno significado quando se conjuga com outro factor e vulnerabilidade: a alta especialização da produção ultramarina.

O produto global bruto do ultramar provém na sua quase totalidade do sector primário e, dentro deste, é originado por meia dúzia de produções.

O desaparecimento de um mercado estrangeiro, a baixa das cotações internacionais num ou dois produtos, podem por si só abalar o equilíbrio económico e social de determinada província e alterar-lhe, por muito tempo, o ritmo do seu crescimento. Na verdade, esta alta e, dizemos, espontânea especialização produtiva torna impossíveis as compensações verificáveis em economias complexas, quando se registam perdas em determinado sector. E também esta especialização, baseada na exploração das condições naturais, nos diz como só a longo prazo se pode reconverter, sem graves perturbações, a economia do ultramar. As exportações das nossas províncias ultramarinas são fundamentalmente constituídas por bens de alimentação e matérias-primas para a indústria. A exportação de bens de consumo duradouros tem um significado muito restrito -a não ser nas trocas inter-provinciais - e são, praticamente, nulas as exportações de matérias-primas para a agricultura e de equipamento.

Deste panorama logo se infere ser diminuto o valor do trabalho incorporado nos produtos vendidos ao estrangeiro.

Note-se que para as duas categorias de bens a que se reduz a exportação, em caso de variação das tensões do mercado internacional, não será semelhante o comportamento nem dos preços nem das quantidades vendidas, por divergir, em cada uma das categorias, a elasticidade da procura.

Assim, em período de depressão verificar-se-á, no geral, que os preços das matérias-primas são mais sensíveis que os dos produtos alimentares não essenciais - o café e o cacau-, mas, em contrapartida, enquanto as quantidades transaccionadas das matérias-primas pouco diminuirão, já as dos produtos alimentares não essenciais serão fortemente reduzidas.

Em fase de prosperidade, os preços das primeiras acusarão os efeitos da alta conjuntura, mantendo-se, praticamente, estacionárias as quantidades vendidas; para os produtos da segunda categoria verificar-se-á uma alta mais modesta de cotações e substancial expansão do volume físico das transacções.

Esta maior independência das quantidades de exportação das matérias-primas perante as fases de depressão prova ser a sua colocação mais fácil que a dos produtos alimentares não essenciais.

De resto, no que toca às matérias-primas, o problema será sempre encarado com maior optimismo, por não ser de admitir que os países industriais consumidores estabeleçam para elas taxas aduaneiras elevadas ou contingentes, sempre que estas medidas provoquem diminuição do seu poder competitivo. A vulnerabilidade do ultramar ainda se agrava na medida em que a metrópole vê continuamente melhorada a sua posição de fornecedora.

Na verdade este facto inibe as nossas províncias, nomeadamente no tocante a produtos alimentares não essenciais e a matérias-primas menos escassas, de procurarem acordos a longo prazo com os países estrangeiros, para a estabilização dos fornecimentos, uma vez que esses países só fariam tais acordos na base de garantia de colocação no ultramar de manufacturas que concorreriam com a produção metropolitana.

Note-se, porém, que, apesar da sua real importância, não é de exagerar o valor deste eventual prejuízo causado pela metrópole, uma vez que as províncias ultramarinas só poderiam tentar com êxito esses acordos a longo prazo se aceitassem preços baixos, pois que a necessidade de concorrência em terceiros mercados obriga os países que assinarem acordos a longo termo a concorrer com outros países industriais que trabalham com matérias-primas à cotação do momento.

Todavia, e feita esta limitação, mesmo assim é de referir a situação das nossas províncias ultramarinas, sobretudo se tivermos em conta a política que, sem dúvida, seguirão os seis países do mercado comum em matéria de produções concorrentes das do nosso ultramar: uma vez assegurada prioridade às produções dos seus territórios ultramarinos associados, esses países irão cobrir os seus deficits de consumo por negociação bilateral com os terceiros países (e nós seremos um desses terceiros países). Como outras regiões, nomeadamente a América Latina e o Oriente, estão em condições de fornecer os mesmos produtos que o nosso ultramar, as possibilidades de exportação dos seis para esses mercados terão sem dúvida grande influência no sentido que imprimirão às linhas do seu abastecimento (veja-se a política de comércio da Alemanha com o Brasil e outros países da América Latina).

A distribuição geográfica da exportação ultramarina A distribuição geográfica das exportações ultramarinas consta do quadro LI.