(...) dificuldades à exploração agrícola nas condições em que é praticada.

Vamos assistindo à partida dos melhores e mais audazes, que, suportando os dissabores e contratempos das migrações populacionais, vão tentar a sua sorte.

Compreendo a sua ansiedade, aplaudo a sua decisão, avalio a coragem de que dão mostras e os sofrimentos a que se expõem.

Compreendo também os queixumes da lavoura, que, aqui e além, onde a corrente migratória é mais intensa mercê do caminho já desbravado por alguns dos que mais cedo partiram e a sorte favoreceu, ou das possibilidades oferecidas pela colonização africana, compreendo os queixumes da lavoura, que, aqui e além, encontra já dificuldade de braços, tantas vezes sem meios naturais ou humanos ou sem condições de solo, relevo ou cultura que lhe permitam mecanizar a exploração agrícola. Uma e outra das situações exprimem um mesmo problema, representam duas faces de um só drama - as difíceis condições de vida das gentes transmontan as.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Desde o começo do século até hoje a população do distrito de Bragança cresceu apenas na proporção de cerca de um quarto do aumento da população do País e a continuar a processar-se a emigração no pendor actual, julgo que dentro de algum tempo poderá começar a falar-se em despovoamento, isto apesar de ser um dos distritos do País onde a fecundidade é mais elevada e o saldo fisiológico mais alto!

No campo da exploração agrícola o drama da terra bragançana pode exprimir-se no desenvolvimento da cultura do trigo -recorde-se a orografia de Trás-os-Montes-, cuja produção em 1928-1930 não ia além de 3 por cento da produção do País, enquanto nos últimos três anos representou mais do dobro daquela percentagem, ultrapassou significativamente a produção do distrito de Setúbal e igualou, pelo menos, a do de Santarém, que, naquele período, era quase quatro vezes superior.

E não se julgue que este aumento se deu a expensas da cultura do centeio, que em igual período se elevou em cerca de 50 por cento, acompanhando o ritmo de aumento da produção deste cereal no País.

Disse que a expansão da cultura do trigo exprimia a tragédia da lavoura transmontana e poderia dizer mesmo que é a própria medida desse drama, mas importa explicar as razões por que faço essa afirmação, para esclarecimento completo de quantos as não tenham como óbvias.

De facto, o processo do alargamento da cultura cerealífera começa com as arroteias, durante a Campanha do Trigo.

Então verificam-se aumentos sensíveis, frequentemente pelo cultivo de terras declivosas e sujeitas a intensa erosão, mantendo-se depois a área cultivada pouco mais do que estacionária até ao fim da última guerra.

Durante o conflito mundial a escassez de alguns produtos hortícolas, nomeadamente a batata e o feijão, que atingiram elevados preços, levou à arroteia de muitos lameiros, que assim foram perdidos para a criação e sustentação de gado bovino.

Por fim vem a descida dos preços do feijão e da batata, para em seguida esta deixar mesmo de Ter, em grande parte, qualquer venda. E novas terras são destinadas à cultura do trigo, onde é possível, e do centeio, onde aquele não pode ser tentado.

Ao mesmo tempo os poucos montes que se salvaram das arroteias da Campanha do Trigo vêem chegada a sua hora de desaparecer e de cada vez menos terras darem um pão que a dureza do labor e a modéstia das produções unitárias tornam bem amargo.

As produções continuam, porém, a aumentar, apesar de os rendimentos decrescerem pelo esgotamento e pela perda de terra, para o que se exigem e consomem mais hectares, que é como quem diz mais vertentes declivosas e penhascos bravios.

O transmontano cultiva o trigo porque precisa de viver, porque sabe que tem um preço que se cumpre e uma venda que se assegura.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Mas sabe também que não o compensa das canseiras e não ignora mesmo que está a comprometer o futuro.

Cultiva o trigo, insiste na cultura do trigo, porque não tem segurança, nem de preço, nem de colocação, para as outras produções possíveis.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

decorrente da propriedade, função social que bem conhece e sempre tem sabido cumprir!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-São urgentes providências momentâneas, como urgentes são medidas saneadoras e reestruturadoras da economia transmontana, profundamente abalada nos seus alicerces.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

quer saneadoras quer fomentadoras da sua economia, já que (...)