O problema instante que se impõe resolver, ou, pelo menos, atenuar, é o de redução acentuada no déficit da balança comercial. Só melhorias consideráveis na produção interna podem levar a soluções definitivas ou tranquilizadoras.

Essas melhorias têm de incidir sobre a substituição de alguns produtos até agora importados e susceptíveis de serem produzidos internamente e no desenvolvimento da exportação. Na verdade, apesar de a agricultura e a silvicultura concorrerem em elevado grau para a exportação, ainda é possível, por organização adequada, intensificar a saída de produtos agrícolas, sobretudo dos relacionados com a vinicultura, frutas e outros. Convém estudar a evolução do comércio externo durante um longo período, e por isso se continua a publicar o quadro do seu quantitativo, desde 1929.

Não se consideram os quantitativos em toneladas por ser limitado o espaço destes relatórios.

Neste aspecto, como em outros, o assunto foi pormenorizadamente estudado em 1947 e 1948 (à).

Ao examinar as cifras, até expressas em escudos do ano, sem fazer intervir o índice dos preços, que variou consideràvelmente desde 1929, nota-se que as importações quintuplicaram e que as exportações são oito vezes maiores do que as daquele ano. Este facto revela que o País fez um esforço sério no sentido de aumentar as suas exportações. E verdade que o nível destas era muito baixo .no início da reorganização financeira.

Há dentro do País possibilidades que permitem produzir mais e em condições melhores, e é nesse sentido que devem ser feitos todos os esforços.

Não pode ser esquecido que algumas das exportações se valorizaram bastante no intervalo de tempo a que se alude acima. Esse facto concorreu para melhoria na balança do comércio, ou, antes, para menores deficits. Mas as variações acentuadas no preço de algumas mercadorias exportadas como se ilustrou recentemente com os valores da cortiça levam a crer que a subida importante nas exportações não depende inteiramente da produção interna.

Na verdade, o peso da exportação no longo período que vem desde 1929 não chegou a triplicar. Exportaram-se naquele ano 1 161 000 t, e em 1956 o peso exportado foi de 2 775 000 t. O problema das importações tem merecido largos comentários desde o início da publicação dos pareceres.

Ao examinar o seu conteúdo, verifica-se que 50 por cento do que se importa é formado por matérias-primas, cerca de 14 por cento de substâncias alimentícias e 23 por cento provém de máquinas e aparelhos. Estes são os números de 1956, porque em anos anteriores variaram sobretudo o último.

Mas, de um modo geral, as matérias-primas andaram quase sempre à roda de 47 a 50 por cento.

Com o reapetrechamento do País e novas indústrias há-de certamente aumentar a rubrica de máquinas e outros aparelhos.

Se fosse possível obter dentro do País maior somatório de matérias-primas e intensificar a produção de artigos na rubrica manufacturas diversas, melhorar-se-ia bastante o desequilíbrio do comércio externo. E parece haver margem nos recursos internos, tanto físicos como humanos, para obter resultados satisfatórios.

O exame em pormenor das mercadorias importadas mostraria certamente possibilidades de reduzir o déficit se fosse preferido o consumo de produtos portugueses em igualdade de preço e qualidade com os provenientes do estrangeiro.

Embora não se possa considerar de importância decisiva esta modificação nos hábitos ou até no modo de ser de muitos consumidores, ela ajudaria nalguns casos bastante pronunciadamente certos organismos industriais que não podem melhorar as suas condições de produção por falta de consumos.

Em qualquer caso, o próprio aumento do nível de vida implica alargamento de importações, de modo que se torna essencial intensificar cada vez mais a política da exportação.

Para 1956, o quadro das principais rubricas das importações, com as percentagens que correspondem a cada uma, tem a forma que segue.

(a) Pareceres das Contos Gerais do Estado de 1946 e 1947, pp. 187 e 181; Ensaios de Economia Aplicada, de Araújo Correia, pp. 105 e segs.