não toma o interesse pelo serviço que de outro modo tomaria.

É por esta e outras razões que certas dependências do Estado não conseguem obter, em qualidade, pessoal apropriado, que prefere empregar-se na vida privada.

Todas estas realidades concorrem para dificultar a administração pública. Muitos atrasos e queixas são-lhes devidos.

Parece, pois, indispensável rever o problema. Nós estamos no início de uma nova era. Sintomas alarmantes para as economias de países pouco desenvolvidos ou de métodos de produção pouco eficientes obrigam a reformar a sua mentalidade criadora de bens materiais num sentido utilitário. Demoras e atrasos podem trazer sérias dificuldades num próximo futuro. E ao Estado cabe dar o exemplo na luta que está já a travar-se em outros países com o objectivo de criar condições de sobrevivência.

Estes assuntos já foram tratados por diversas vezes nos pareceres das contas, e se agora uma vez mais se insiste na matéria é porque os acontecimentos que então se apontaram nos aspectos técnicos e económicos assumiram acuidade e importância mais cedo do que seria talvez de prever há cinco ou dez anos. Em 1956 as despesas totais atingiram 7 597 433 contos, mais 267 651 do que nos anos anteriores, como pode ler-se nos números que seguem:

Nota-se que o aumento das despesas ordinárias se elevou a 361 223 contos. Havia sido de 344 226 contos em 1955. Nos dois últimos anos a despesa ordinária subiu, pois, mais de 700 000 contos.

Quanto à extraordinária, deu-se uma diminuição de 93 572 contos. Mas as exigências de certos aspectos da vida do Estado, relacionados com o progresso económico, hão-de requerer, naturalmente, o emprego de maiores despesas extraordinárias, como, por exemplo, no caso do sistema rodoviário, no desenvolvimento rural, na investigação técnico-económica dos recursos nacionais, nas obras de hidráulica agrícola e em outras exigidas por necessidades públicas e privadas.

É de notar que, apesar do aumento, bastante apreciável, das despesas ordinárias, elas não vão ainda muito além das de 1938, se medidas a preços constantes - que no quadro seguinte se tomaram como sendo os de 1956 ou 1938, calculados na base do índice de preços por grosso.

Já se deram em pareceres anteriores largas explicações sobre as causas que levaram ao uso do índice dos preços por grosso no cálculo da actualização das despesas e se indicaram os limites que o progresso comporta. Em todos os casos os números devem ser tomados como aproximação, que, de um modo geral, não altera os factos.

Adiante, ao analisar mais demoradamente as despesas ordinárias nos diversos departamentos do Estado, se verificarão as causas do pequeno aumento em relação a 1938.

Se agora se juntarem às despesas ordinárias as extraordinárias, numa longa série de anos, e se for aplicado idêntico método de actualização, obtêm-se os números que seguem para as despesas totais:

Verifica-se, ao examinar as cifras a preços constantes, que só por volta de 1953 as despesas totais de 1938 se aproximam das deste ano, ultrapassando-as largamente em 1955. Em 1956 influíram dois factores na redução das despesas totais, quando medidas a preços constantes em relação a 1955: a diminuição das despesas extraordinárias e o agravamento do índice de preços.

Com efeito, a média deste índice (base - Junho de 1927 = 100) aumentou de 284,6 em 1955 para 300,4 em 1956, atingindo neste ano o seu mais alto valor. Se nos reportarmos ao índice de 1948 = 100, a média do índice geral em 1956 passou de no para 114.

Estas duas razões deram, como se vê, um pequeno aumento nas despesas totais, que nas cifras acima transcritas foi de apenas 17 000 contos, se medido a preços constantes de 1956. As capitações de despesa têm sido influenciadas, quando medidas a preços constantes, pelo pequeno aumento da população relativamente ao passado, ocasionado por fenómenos adiante estudados, e pelo pequeno acréscimo na despesa, quando medida na mesma unidade, como se nota a seguir.