lúcidos e tão conscientes, a reorganização que acaba de ser feita na Câmara Corporativa, a quem tão notáveis trabalhos e serviços o País já deve.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Hão-de as Câmaras, em momento adequado., colaborar com o Governo no estudo e na aprovação do novo Plano de Fomento para o período de 1909-1964, e nau iremos então esquecer-nos das ponderadas considerações com que a esse propósito V. Ex.ª quis ilustrar-nos no desenvolvimento que em sua mensagem lhe consagrou. E uma reflexão desde já se nos impõe: a de que tudo se conduza, no estudo e na decisão, no mais puro entendimento das nossas responsabilidades, de modo a abarcar a grandeza de todos os problemas e a debelar, nos limites do possível, aquelas duas maiores preocupações do tempo de hoje, a que recentemente se referiu o Sr. Presidente do Conselho: a falta de segurança no trabalho e a falta de segurança da habitação. Possamos nós, ao termo do mandato, ter contribuído, à nossa escala de possibilidades, para dar larga e exemplar solução a estes dois relevantes problemas do nosso tempo e já teremos assim prestado aos que nos elegeram um serviço real e positivo, tanto maior e mais consolador quanto mais favorecer com a liberalidade e justiça a todos, mas, de entre todos são, os mais humildes, os mais necessitados, os mais pobres.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente da República: não será totalmente destituída de fundamento a mal intencionada acusação, hoje espalhada no Mundo e que já em Portugal se nos tem feito, de que quem vive bem, tem todas as boas razões para desejar a paz e a ordem social. Nós amamos sinceramente, a paz e desejamos com veemência a urdem social, mas temos de convencer-nos e de provar que não há verdadeiramente paz sem amor e caridade e que a ordem social não se consegue e não se estabelece na sociedade humana sem uma total renúncia às ambições ilimitadas e desmedidas, à indiferença perante as necessidades e miséria alheias, ao egoísmo que corrompe tantos homens de hoje, à futilidade em que se compraz, por crime de inteligência e de sentimentos, um falso escol .social, que vive no tempo desprendido da angústia dos seus problemas e anda na vileza da terra alheado de tanta desolação existente em todos os quadrantes do mundo contemporâneo.

Já aqui, em idêntica circunstância, se fez apelo e se pediram «novos gestos de nobreza e de benemerência, novos motivos de renovação do nosso património espiritual e moral»; e por excessivo se não tenha agora o reforço desse clamoroso grito, lançado desde o alto desta tribuna a governantes e a governados, as mais altas classes da nossa vida comunitária, às novas gerações, para que elas sejam muito mais do que as anteriores generosas e justas, equânimes e liberais, não por mesquinha especulação política, mas por amor do próximo e fraterna compreensão da solidariedade entre os homens.

É do Evangelho que quem for o maior se faça como o mais pequeno e que aquele que governa seja tal qual aquele que serve. Temos nós o privilégio raro de ser guiados e governados por alguém que não é apenas aquele que serve, pois, desde as primeiras horas, sempre foi quem mais serviu, quem outra coisa não fez senão servir a todos, na sua e nossa pátria e, através dela, os mais belos e os mais nobres interesses de toda a humanidade. Deus ilumine a vida de quem governa, servindo, e a nós nos esclareça com o prodígio do seu exemplo!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente da República: as duas Câmaras que hoje sob a égide de V. Ex.ª iniciam os seus trabalhos vão devotar-se, como é seu integral dever, ao interessei nacional s ao bem comum dos Portugueses. Trairiam a sua missão quando de outro modo se tendessem o mandato de que vêm investidas, e querem secundar o nobilíssimo apelo de V. Ex.ª nas considerações finais da sua esclarecida mensagem: sé necessária ao País a colaboração de todos os homens de boa vontade «numa obra que em Portugal só nós, Portugueses, podemos levar a cabo». Também há dias o Sr. Presidente do Conselho disse, em palavras igualmente claras e «pacificadora», ser penoso, além de altamente prejudicial ao futuro do País, que no torvelinho ideológico do nosso tempo pudessem perder-se «inteligências moças e almas ardentes não manchadas de pecado contra a Pátria e só de irreflexões ou de inquietações desmedidas».

Os Deputados à Assembleia Nacional e os Dignos Procuradores à Câmara Corporativ a acrescentam aos seus propósitos de leal serviço este anseio veemente de paz e de trabalho, de concórdia e de colaboração no plano nacional e fazem chegar a toda a parte, e designadamente até à juventude de toda a dilatada terra portuguesa, um brado de entusiasmo e de energia paia que ela se prepare nos verdadeiros caminhos do espírito para tomar em suas mãos uma grande e gloriosa herança de séculos e lhe acresça novos valores, novas virtudes e a conserve e a transmita grande e livre na integridade e na honra. Pois uma nação como Portugal, quando independente e próspera, sempre serviu a dignidade do homem e os interesses espirituais do Munido, numa larga consciência do seu sentido evangelizador e missionário.

O orador foi vibrantemente ovacionado.

Terminado o discurso do Sr. Deputado José Manuel da Costa o Sr. Presidente da Assembleia Nacional disse:

Em nome de S. Ex.ª o Presidente da República, declaro inaugurada esta (legislatura da Assembleia Nacional,. E, ainda em nome de S. Ex.ª, declaro encerrada a sessão.

Eram, 18 horas e 12 minutos.