Se não fora o agravamento da balança do comércio no ano de 1956 em relação ao quadriénio anterior, poderia considerar-se muito satisfatória a evolução da economia de Moçambique.

Com efeito, estuo a realizar-se em diversos pontos desta província empreendimentos reprodutivos de vulto, alguns dos quais já em produção, como o do começo da obra do vale do Limpopo, atravessada pelo caminho de ferro, e, já concluído parcialmente o do aproveitamento hidroeléctrico do Revuè, além de pequenas empresas de valorização do indígena em diversas regiões e melhorias consideráveis nos portos da Beira e Nacala, caminho de ferro de Moçambique e trabalhos de investigação na bacia do Zambeze e em várias zonas.

Por outro lado, o exame da conta geral, apresentada em devido tempo, revela saldo positivo, obtido sem dificuldades de relevo nas cobranças.

E a balança de pagamentos, apesar do grande volume das importações relativamente ao que se exportou, mostra igualmente saldo positivo razoável, alcançado por influência de coberturas invisíveis provenientes em grande parte dos serviços prestados pela província a territórios vizinhos, principalmente nos transportes, e, embora em menor escala, pela afluência de visitantes da África do Sul e das Rodésias.

O déficit da balança do comércio aparece, assim, a sombrear n economia provincial. Será analisado em pormenor adiante, mas convém desde já acrescentar que, em parte, ele se deve a uma espécie de desarticulação entre o nível de vida, que melhora, e as actividades produtivas, que não acompanham o ritmo dos consumos.

Talvez que a própria posição geográfica da província em relação a territórios vizinhos gerasse atrasos no desenvolvimento das actividades produtivas. O desafogo em cambiais, proveniente de serviços prestados, poderia ter levado a certa indiferença pela exploração e recursos potenciais, que açora se sabe serem muito grandes e, em parte, já descritos nas páginas do parecer de 1955.

Seja como for, parece que a grande obra a realizar nos próximos anos pela província -e ela tem recursos de sobra para a levar a efeito- será a de aumentar substancialmente a produção. Só deste modo se podem suprir necessidades internas de consumos, hoje satisfeitas por importações volumosas, e obter os produtos indispensáveis a bem maiores exportações do que as actuais.

A primeira condição para chegar a esta finalidade será naturalmente a de empregar os investimentos disponíveis em obras de maior reprodução económica e aplicar no uso desses investimentos os melhores processos de exploração, quer dizer:- assegurar os princípios de produtividade essenciais a preços de custo que possam concorrer nos mercados externos, para onde naturalmente terão de ser enviados os excessos da produção.

Há, felizmente, potencial idades em Moçambique que podem influir na balança do comércio, como as do tabaco, açúcar, amendoim e intensificação das culturas de chá, castanha de caju e oleagino sas, e ainda para consumo interno e até exportação nalguns casos, como as de produtos hortícolas ao longo do caminho de ferro do Limpopo, cereais, frutas e outros produtos que a província ainda importa. Está a intensificar-se ultimamente em volta de Lourenço Marques e da Beira um movimento industrial de certo relevo, que merece ser acarinhado. Com o abastecimento de energia hidroeléctrica à Beira, proveniente do Revuè, que também a exporta para a Rodésia, e com uma futura conjugação dos sistemas da bacia do Limpopo (rio dos Elefantes) com a região de Lourenço Marques, há-de certamente desenvolver-se a produção industrial, aliás justificada por uma rede de caminhou de ferro orientada no sentido de fáceis ligações com a África Central e do Sul e com um porto de grande movimento.

Tanto Lourenço Marques como a Beira e, talvez mais tarde, Nacala, no Niassa, podou em algumas dezenas de unos assumir papel de relevo na economia industrial da província, que auxiliará a balança do comércio no sentido de reduzir o avultado dificit de hoje. Da visita que o relator das contas fez a Moçambique no ano a que se refere este parecer resultou melhor compreensão das possibilidades e exigências da província. Através de uma longa viagem, que cobriu quase todos os distritos do vasto território, foram-lhe prestados os esclarecimentos e as informações de que necessitava ou requeria, com uma boa vontade e atenção dignas de serem postas em relevo neste lugar. Desde as mais altas entidades oficiais e privadas até às de mais modestas condições, independentemente da origem racial, se manifestaram desejos de elucidar e explicar a obra que está em vias de realização na província, as vezes em circunstâncias difíceis. A impressão colhida é optimista sob muitos aspectos, e em especial no que se refere às potencialidade» agrícolas e industriais do território e ao intenso desejo de dar a obra a realizar e às ideias a incutir nas populações indígenas um carácter a um cunho nitidamente portugueses.

Comércio externo Se for examinado o comércio externo num longo período encontra-se como característica dominante o saldo negativo.

Já em 193S este saldo era superior ao total das exportações. A guerra parece ter influído no sentido de o melhorar, porquanto o saldo negativo foi de 585 000 contos em 1950.