Em Março de 1954 foi discutida e aprovada a proposta de lei relativa à indústria hoteleira, cujos frutos benéficos começam s surgir, embora lentamente, uma vez que o fundo de turismo, criado pela Lei n.º 2082, de 4 de junho de 1956, só em 1957 começou a funcionar e naturalmente com parcos recursos de início.

Dois anos mais tarde, em Abril de 1956, esta Assembleia discutiu e aprovou a lei sobre o turismo e certas alterações à lei sobre a indústria hoteleira. Em todas estas fases tive a honra de intervir, embora apagadamente.

(Não apoiados).

Se aditarmos o que em Março de 1954 esta Assembleia legislou, conclui-se que o Governo e a Assembleia nacional têm estado atentos e operantes no sector do turismo nacional.

E realmente não é por simples acaso que a torrente de turistas estrangeiros tem engrossado de ano para ano e em tal progresso que em dez anos o movimento de entradas por terra, mar e ar quadruplicou, pois de 61 266 visitantes em 1947 atingiu-se em 1957 a sugestiva cifra de 251 385.

É óbvio que o milagre não provém apenas das excepcionais condições climatéricas, paisagísticas e monumentais do nosso lindo rincão nacional. Estes factores sempre deram justa fama a Portugal, mas nem por isso o turismo português teve posição de destaque até recentemente. Simplesmente, em complemento do clima geográfico, sobressai aos olhos do estrangeiro o clima político de paz e de segurança, de maiores facilidades de deslocação, de alojamento e de situação económica acessível aos que nos visitam.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - V. Ex.ª dá-me licença?

Não tenhamos ilusões. Parece-me que nem todos entendem assim, porque estão a proceder de modo contrário. Receio as consequências.

Vozes: - Muito bem!

O orador: - muito obrigado pela intervenção de V. Ex.ª e mais adiante referir-me-ei a esse ponto.

Seria justo não pôr em relevo o esforço que o secretariado Nacional da Informação tem produzido em propaganda nos vários países que nos interessam para o turismo intensivo. Há quem julgue insuficiente essa propaganda, mas a verdade é que o Secretariado Nacional da Informação tem trabalhado com seriedade e esforço dentro da exiguidade das verbas que para esse fim lhes são destinadas. A esta conclusão sou levado pelas afirmações do relatório desses serviços em 1956, que aqui tenho presente. Mas, se convém manter-se uma adequada e intensa propaganda no estrangeiro, é sabido que a melhor e mais aliciante é a que resulta da forma de receber. «Realmente, na base da delicada indústria turística está, de facto, a arte de bem receber, que é, sem sombra de dúvida, a mola propulsora e o íman irresistível do turismo. No fulcro dessa arte tem de estar a organização hoteleira nas suas várias modalidades e categorias...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador: - ... quer no ponto de vista das instalações materiais de beleza e conforto, quer no que respeita ao nível e qualidade do pessoal ao seu serviços».

Estas palavras disse-as eu na minha intervenção de 19 de Março de 1954, ao discutir-se a proposta de lei sobre a indústria hoteleira.

Há, porém, que ter presente que a arte de bem receber deve ser extensiva a toda a população, que, felizmente, tem de uma maneira geral confirmado as tradicionais regras de [...] e boa hospitalidade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

conhecem.

Contrariamente, acontece - e o facto já se verifica em algumas cidades - que os particulares, com receio das sanções do citado decreto, voltam ostensivamente as costas a turistas que se lhes dirigem a solicitar mesmo simples informações, provocando estranheza e decepção no espírito de quem nos visita.

De resto, em muitos lugares, vilas e cidades não há guias-intérpretes oficiais, e se os há são em número limitado, incapazes de abranger todos os visitantes na época aguda do turismo. Chamo nesta altura a esclarecida atenção do Sr. Secretário nacional para este delicado e importante problema.

Quanto ao atractivo de facilidades de deslocação, não podemos deixar de ter presente que a nossa rede rodoviária necessita de acabamentos e melhorias em pontos vitais para o êxito turístico, como, por exemplo, a estrada nacional n.º 4 (Caia-Lisboa), a que fiz referência em pormenor na minha recente intervenção sobre estradas do distrito de Évora.

No respeitante a alojamentos, é de salientar que há zonas cinzentas e negras no que respeita á rede hoteleira.

Cinzenta será, por exemplo, Braga, que, apesar de possuir vários hotéis na sua história, bela e monumental cidade e na estância paradisíaca do bom Jesus, temos de convir que estão necessitados de modernização.

Uma das zonas negras é o Alentejo, Alto e Baixo, onde não há um só hotel nas cidades capitais de distrito.

Já em 1954, na minha modesta intervenção quando da proposta de lei sobre a indústria hoteleira, me referi a esta estranha situação nos seguintes termos:

O Alentejo, em geral, sofre de carência hoteleira, especialmente nas três cidades capitais. Em toda esta vasta zona existem quatro hotéis (Elvas, Estremoz, Castelo de Vide e Moura), três pousadas oficiais (Santa luzia, Santiago do Cacém e Serpa, esta ainda por inaugurar) e uma pousada particular (na altaneira vila de Marvão, com o expressivo nome de Ninho de Águias).

Se é estranho que cidades tão importantes como Portalegre e Beja não ofereçam ao visitante o conforto de um hotel, é inconcebível que Évora, a cidade monumental, o coração do Alentejo, tenha estado nestes últimos quatro anos privada de alojar condignamente os milhares de turistas e outros viajantes que a demandam anualmente.