E certo que o problema de alojamentos em Évora melhorou muito nestes últimos oito anos, após a extinção do único hotel, porquanto as pensões subiram de nível nas instalações e surgiram quatro ou cinco restaurantes condignos da cidade.

O Sr. Melo Machado: - V. Ex.ª dá-me licença,?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Melo Machado: - Não deverá V. Ex.ª atribuir falta de iniciativa aos seus conterrâneos?

O Sr. Meneses Soares : - Não deve ser, porque para a cidade de Beja estão pendentes das respectivas repartições três pedidos de hotéis, nos quais não tem sido dado andamento.

O Sr. Ramiro Valadão : - E não tem sido dado andamento porquê? Possivelmente por não terem recursos económicos.

O Sr. Meneses Soares : - Creio que têm.

O Orador: - Vou responder ao Sr. Deputado Melo Machado.

O problema do hotel não tem sido depurado. Houve até uma firma de Lisboa, cujo chefe faleceu há dias, que se propôs fazer um hotel na cidade de Évora. Houve mesmo dois ou três estudos, indo um até à fase da maquette. Simplesmente não seguiu os trâmites normais.

Houve uma empresa que se propôs fazer um hotel em Évora, mas essa empresa devia reservar-se o direito de escolher o seu arquitecto, e o estudo, depois de feito segundo normas preestabelecidas, deveria ser então apresentado às respectivas repartições.

Houve um arquitecto imposto, portanto. Foi um arquitecto, aliás notável e de grande nome no País, quem elaborou o plano, mas esse arquitecto não sente Évora, coimo um eborense pode não sentir o Porto, por exemplo, e Évora precisa de ser sentida sob o aspecto arquitectónico.

Ora o arquitecto designado sacrificava todos os elementos tradicionais e arquitectónicos de Évora ao seu projecto de hotel. O templo de Diana passava a ser objecto de ourivesaria num tabuleiro, visto que os níveis eram transformados.

O projecto em questão deturpava toda a faceta da parte central mais antiga e mais bela da cidade. Foi rejeitado nas repartições da cidade e na dos monumentos, em Lisboa.

E assim não teve êxito essa solução.

Haveria outra solução, mas não sei qual o êxito dela. Tem estado difícil a verdadeira solução tão ambicionada pela cidade e necessária para a sua valorização turística.

Ultimamente está em conclusão um pequeno hotel de trinta quartos e encontra-se em estudo uma pousada de igual número de quartos.

Embora úteis, são precárias estas soluções, por insuficientes, pois que a verdadeira solução, aliás, creio que perfilhada em organismo superior do turismo, assenta na criação de um hotel de turismo, pelo menos do nível do que existe na Guarda.

Évora, o melhor cartaz turístico nacional como cidade monumental de inestimável valor histórico, artístico e arqueológico, pelo que é, sem favor, a verdadeira acrópole de Portugal, bem merece tudo quanto o Governo puder fazer para a solução condigna do seu pungente e arrastado problema hoteleiro.

Outra zona negra é o distrito de Bragança, tão cheio de interesse turístico, infelizmente desconhecido até da maioria dos portugueses, onde não há hotéis nem pousadas, mas apenas uma única estalagem em Macedo de Cavaleiros, quando se impõe um hotel em Bragança e uma pousada em Miranda.

O Sr. Sá Alves: - Em Bragança está em começo de construção uma pousada.

O Orador: - Felicitemo-nos por isso.

Há, pois, caminho extenso a trilhar para se atingir o nível conveniente de uma rede hoteleira eficaz ao alcance de nacionais e estrangeiros.

Corre-se já neste momento o perigo de atrair maior número de turistas e não estar o País em condições de os receber e alojar de forma satisfatória, que só por si sirva de atracção e propaganda.

Também é de assinalar o facto da premente necessidade de, simultaneamente com uma bem orientada propaganda, se intensificar a produção alimentar.

Na verdade, o desenvolvimento substancial do turismo implica fomento da produção alimentar, para que essa tão útil e rendosa indústria turística se não transforme um flagelo da população, sujeita a escassez de géneros e a consequente alta de preços.

Este fenómeno é erónico em algumas praias e termas e corre-se o risco de ser extensivo a todo o País no dia, que parece avizinhar-se, em que a massa de visitantes atinja ou ultrapasse o milhão.

E para este número lá caminhamos, pois, como já indiquei, em 1957 entraram 251 385, quadruplicado em dez anos, como também atrás referi.

Embora fugindo a fastidiosas estatísticas, não posso deixar de indicar os países que maior contingente nos enviaram em 1957 até Novembro. Ocupam a seguinte ordem: 1.º Espanha, com 67 410; 2.º França, com 49 670; 3.º Estados Unidos da América, com 35 808, sendo 24 170 por via aérea ; 4.º Inglaterra, com 20 142; 5.º Alemanha, com 11 744; 6.º Brasil, com 9763; 7.º e 8.º Itália e Bélgica, com 6723 e 6663, respectivamente.

Na lista figuram quarenta e um países determinados de todos os continentes e vários outros não indicados.

É curioso destacar que por terra afluíram 64,5 por cento, por mar 6,2 por cento e por via aérea 29,3 por cento. A aviação ultrapassa o transporte marítimo em quase cinco vezes mais. Para concluir, não resisto à tentação de reproduzir os dados excepcionalmente interessantes do mapa, com base nos elementos forneci dos ao Secretariado Nacional pelo Banco de Portugal:

Estes valores, relacionados com os das exportações do continente - comércio especial-, traduzem-se nas seguintes percentagens: