toma do aflitivo atraso da nossa economia, da mediocridade do nosso desenvolvimento e das injustiças sociais que unia desigualdade, por vozes exagerada, perigosamente ocasiona.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Não me refiro no facto de haver pobres e haver ricos. Seria ridículo trazer ao debate um problema cuja solução o homem busca e há-de buscar, sem resultado, há milhares de anos. Mas há mínimos que não podemos consentir, sob pena de soçobrarmos ante a justiça que se opõe à nossa comodidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O problema é que há demasiadamente poucos muito ricos para muitos muito pobres. Assim sendo, parece lícito perguntar se o rumo que o Governo esboça presentemente deve conduzir ao agravamento ou à solução do nosso problema social. É que, «no meio das exagerações, das amplificações, de certo lirismo tétrico», a crítica socialista tem, às vezes, alguma razão. Deixemos «ao socialismo a legitimidade moral que lhe provém da existência de certos factos e queixem-se, depois, do resultado definitivo da contenda».

E Herculano, sempre profeta, acrescentava: «onde e quando o socialismo, com a tabuleta do comunismo, de internacionalismo, ou de qualquer letreiro, recorrer à violência, responda-lhe a violência. São negócios que têm de resolver entre si o petróleo e a metralha. Os incêndios não se discutem: apagam-se. Mas onde e quando o socialismo nos agredir com as armas da razão, ouçamo-lo. Se a razão existir da sua parte, dêmos-lha».

Cem anos depois, os factos con tinuam a justificar os receios e as afirmações do nosso grande historiador! ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

gravante de ficarmos desfalcados do melhor capital humano que o País produz - e, então, nem indústria, nem agricultura. Viveremos e sofreremos sempre o subdesenvolvimento que tanto fere o nosso orgulho e que é causa de legítimas apreensões.

Razão tinha, uma vez mais, Oliveira Martins, ao afirmar: «quando uma sociedade está vigorosamente constituída, a emigração não importa uma diminuição da potência demográfica da metrópole. Se mais gente sai, mais gente nasce. A máquina humana, funcionando com mais força, é mais prolífica. Mas quando a emigração coincide com um período de catástrofes, como foi o português a contar do século XVI, ou é determinada pela impossibilidade de viver na metrópole», como sucedia na Irlanda ao tempo em que Oliveira Martins escrevia, «a emigração traduz-se necessariamente por despovoação».

Façamos tudo o que em nossas mãos esteja para evitar tão grande mal!

Sr. Presidente: para analisar a conjuntura migratória do País, descendo da g eneralidade ao pormenor, julgo que a Câmara aceitará que me ocupe mais detidamente dos problemas respeitantes à população que me elegeu, tão fustigada vem sendo pelo fenómeno, tão fortemente vem sentindo os reflexos dele resultantes.

Não será o distrito de Aveiro aquele em que o problema apresenta maior acuidade, mas é, sem dúvida, um dos que mais merecem, pela sua potencialidade económica e crescente desenvolvimento, a atenção dos responsáveis.

Com os seus 483 396 habitantes (censo de 1950), a população do distrito registou em 1956 o seguinte movimento, números redondos: 13 300 nado-vivos, 6000 óbitos, 2600 emigrantes, 200 retornados, 1500 embarcados para o ultramar e 700 desembarcados do ultramar.

Assim sendo, o distrito teve um excedente de vidas da ordem dos 7300, um saldo do movimento com o ultramar de 800 e um saldo emigratório de 2400, donde resulta um saldo líquido de cerca de 4100 indivíduos.

Para onde foram aqueles 2600 emigrantes? Porquê e donde regressaram os 200 retornados? Para que províncias ultramarinas embarcaram os 1500 aveirenses e de quais regressaram os 700 desembarcados?

Os 2600 emigrantes do distrito em 1.956 distribuíram-se conforme o quadro seguinte:

Outros países da África ......... 40

Estes números indicam-nos que a corrente emigratória do distrito (reflexo de todo o País, com reduzidas oscilações) se orienta decididamente entre o Brasil e