Aos variados aspectos da utilidade do latim acabados de referir jantemos agora brevemente algumas palavras sobre o sen valor pedagógico, de que atrás falei.

Na revista belga Bulletin Semestriel de l'Association des Classiques de l'Université de Liège (II, 2, p. 38, 1955) podem ler-se as palavras seguintes: «Estas variadas razões levam a reconhecer ao latim e ao grego um valor formativo excepcional. Se ainda tivéssemos dúvidas, bastaria reler os juízos formulados por muitos homens eminentes: filósofos, homens de ciência, médicos, políticos e literatos afirmam espontaneamente que as línguas antigas são a melhor escola da inteligência. Esta opinião é confirmada pelos números: estatísticas feitas na Alemanha, nos Estados Unidos e na Franca revelam a superioridade dos alunos clássicos sobre os modernos nos domínios mais diversos, por exemplo nas ciências aplicadas».

Na Alemanha, num exame de maturidade, cuja cotação máxima era de 250 pontos, dos alunos que alcançaram 200 pontos pertenciam aos Percentagem

Ginásios clássicos (humanidades greco-latinas) ................ 21,7

Nos Estados Unidos, segundo as investigações de W. H. Winck, os alunos que estudaram latim têm, em relação aos outros, uma superioridade de 13,11 por cento em inglês e de 15,25 por cento em matemática.

Em França, nos exames de admissão à Escola Politécnica, registaram-se 51 por cento de aprovações entre os alunos provenientes da secção A (humanidades antigas) dos liceus, contra 31 por cento dos que vieram da secção moderna.

Devo ainda acrescentar que em países, como a Holanda, onde a cultura greco-latina goza de extraordinário prestigio os estudantes dotados passam geralmente pelo liceu humanístico, incluindo os melhores alunos das Faculdades de Ciências.

Como já um dia escrevi, a utilidade do latim é talvez a única matéria sobre que estão de acordo a igreja católica e a Rússia Soviética. Dos motivos por que esta introduziu no ensino secundário o latim escreveu no Times (12 de Janeiro de 1954) o Prof. D. B. Gregor:

Descobriu-se que o conhecimento do latim era indispensável para o bom entendimento do russo; que ele contribuía para a exactidão do pensamento e da linguagem; que os clássicos do marxismo sempre o tinham defendido; que Lenine o tinha conhecido e usado; que os professores de línguas modernas estavam mal preparados sem ele; que os candidatos às cátedras de linguística indo-europeia deviam tê-lo estudado; em resumo, que nenhum cidadão soviético está devidamente educado sem latim.

Do lado católico, Sua Santidade o Papa Pio XII, que é um famoso poliglota, tem feito repetidas vezes a apologia do latim, em trechos verdadeiramente dignos de antologia. Eis um deles, numa alocução aos alunos dos liceus de Roma, em 30 de Janeiro de 1949:

Além disso, vós, ou a maior parte de vós, tendes, como jovens estudantes, a vantagem de poder conhecer e aprofundar melhor que outros as fontes vivas da história. Com efeito, entre muitas matérias que formam os programas dos vossos estudos, cultivais a língua latina. O latim! Língua antiga, mas não morta, porém, porque, se há séculos que do seu eco soberano estão mudos os anfiteatros

em ruínas, os famosos foros e os templos dos Césares, não se calam as basílicas de Jesus Cristo, onde os sacerdotes do Evangelho e os herdeiros dos mártires repetem e voltam a cantar os salmos e os hinos dos primeiros séculos na língua consagrada dos Quirites.

Hoje, a língua de Roma é principalmente língua sacra, que ressoa nos ritos divinos, nas aulas de teologia e nos documentos da Sé Apostólica e na qual, tantas vezes, vós mesmos dirigis uma saudação à Rainha do Céu, vossa Mãe, e a vosso Pai, que reina lá em cima. Mas o latim é também a chave que nos abre as portas da história. Tudo o que do passado romano e cristão a nós chegou, em inscrições, em manuscritos e livros, salvo parciais excepções dos últimos séculos, quase tudo se vestiu da língua latina.

44, pp. 78 e 79):

Há muito que não sou capaz de traduzir, por exemplo, Tácito à primeira vista. Não tem importância, porque não sou especialista e não é esse o resultado que queriam os bons mestres que me tiraram da ignorância. Uma certa maneira de abordar as dificuldades e de as resolver, o sentido rigoroso do método, uma necessidade de ordem e de luz, um desejo teimoso de julgar, de raciocinar e de compreender, eis o que os estudos humanísticos deixaram no meu espirito.

Sr. Presidente: resta-me agradecer a boa vontade com que V. Ex.ª e os Srs. Deputados, meus colegas, ouviram as simples e desataviadas considerações que acabo de dizer e pedir para este problema de ordem cultural e pedagógica a atenção bem informada e o julgamento esclarecido de S. Ex.ª o Ministro da Educação Nacional.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Ferreira Barbosa: - Sr. Presidente: em 13 de Fevereiro findo solicitei nesta Câmara que, pelo Ministério da Economia, me fossem fornecidos certos elementos que me permitiriam ajuizar de determinados aspectos da vida e funcionamento dos organismos de coordenação económica. Até hoje não os recebi, e assim e desde logo não tenho já quaisquer possibilidades de poder vir a tratar durante a presente sessão legislativa, como desejaria, do aspecto da nossa organização corporativa relacionado com a existência desses organismos,