Todavia, não consta que se praticassem tais realizações em grande escala, para além de novos prédios de habitação dotados com ar condicionado.

(Nesta cultura assumiu a presidência o Sr. Deputado José Soares da Fonseca).

Nas lições dos mestres, nas discursos políticos responsáveis, finda a ocupação dos territórios e a sua nacionalização, entrando em convulsões de crise o parlamentarismo estreme, Marnoco, Lopo Vaz e outros propugnaram e ensinaram que no Sul de Angola caiam milhões de portugueses e para ali deviam ser desviados os emigrantes do Brasil.

Era o tempo em que na vanguarda das preocupações legislativas vogavam a antropologia social e a geografia económica de Jean Brunbes.

Assim fomos ensinados.

Reconheciam-se os erros e fracassos do colonato liberal - falta de selecção dos colonos, formação de células perfeitamente independentes e sem preocupação de serviço social -, e reconheciam-se para os não cometer ou tornear.

Vicente Ferreira publica a sua magnífica monografia ao II Congresso da União Nacional, no qual fui o primeiro a entrar e o último a sair, e recebi do País o costumados agradecimentos.

Vieira Machado apresenta o projecto de estatuto de colonização, que a Câmara Corporativa relata em magnifico parecer.

Colado às ideias salazaristas, já em pleno florescer da Revolução Nacional, um grande construtor e um grande homem do bem na época do planejamento social, ideia, teoriza, aformoseia, eleva um pensamento dotado de tais asas que muitos não vêem o seu comprimento.

Transplantemos para os trópicos o vigor social e a beleza da aldeia lusíada !

Estabeleçamos pequenos lavradores independentes em sociedade familiar com os seus para fertilizar a terra livre de Angola.

Façamos do casal de família assim constituído um núcleo de grande futuro, tal era o pensamento dum homem modesto de parecer, mas sumamente construtivo - Silva Carvalho.

E agora uma palavra de louvor devida ao meu patrício comodoro Sarmento Rodrigues, o homem público que do Terreiro do Paço dirige este altíssimo, mas arriscado, empreendimento, e, por certo, ao Presidente do Conselho, a quem se deve mais uma «coisa nova» em Portugal.

E porque em Portugal, a Câmara que me dispense de referir os depoimentos estrangeiros sobre a realização grandiosa da Cela!

Comecemos pelo panorama:

Panorama. - Um vale que se estrela e semelhante a um pequeno Ribatejo, entre serras ásperas de morros gigantescos.

Aldeias alvinitentes, lindas e estiradas, a 1324 m de altitude e de clima temperado, análogo ao europeu. Terras fartas de regadio, que dão batata duas e três vezes no ano.

A uma certa distância dos mercados da Gabela, do Amboim, da Ganda, da linha de Benguela e com ligação de autocarros a Nova Lisboa.

Banham três rios o [...] ao longe parecem desdobrar-se em novos vales.

Chamo agora a atenção para a mecânica social, para ela ser bem compreendida:

Numa encosta desenvolve-se, sobranceira, acolhedora e concentrando alguns fios sociais daquele novelo, uma vila mãe - Santa Comba.

Esta nova vila possui estabelecimentos, armazéns, garagens, oficinas de toda a espécie, clubes desportivos, órgãos vários de assistência. Os nativos trabalham ali, mas não podem faze-lo em baixo.

Estendem-se pelo vale as aldeias, organizadas ao jeito das ribatejanas minhotas, transmontanas, etc, mas estendidas sobre o cumprimento.

Quando eu visiteu a Cela, além das aldeias ocupadas havia seis ou oito aldeias prontas para habitação.

Cada aldeia dispõe de vinte e seis ou vinte e oito fogos.

Aspectos individualizados. Cada família dispõe de uma casa alpendrada, com cozinha, sala, três quartos, sanitários, pequenas dependências e anexos para os animais domésticos. Creio que essa casa valeria entre 70 e 90 contos. A casa custou 66 contos e os estábulos, pocilgas e arrecadações valem 30 contos.

Aspectos colectivos - Cada aldeia dispõe de fontanários, posto médico, fornos colectivos para algumas famílias e telheiros para trabalhos profissionais e arrumações, capela escola, eiras, oficinas de reparações, armazéns, a os grandes empreendimentos de construção política e social, não pode ser foco de convergência de apreciações lisonjeiras ou incondicionais.

Mas as críticas que lhe são dirigidas lá fora provêm de meios de pouca responsabilidade.

Pequenas discussões jornalísticas; impressões tão rápidas como fugazes; condenações definitivas sem ver nem ouvir; apreensões sobre a origem e o destino pouco explícitas - a Cela condensou já alguns entusiasmos e desesperos intelectuais.

Como se trata dum estado de espírito colectivo, incumbe u Câmara tomar devida nota da essência e da direcção tomada pelas críticas.

A primeira delas é esta: a Cela é um grande dispêndio, consome meios desmesurados e, para os nossos recursos, pode dizer-se, de custos verdadeiramente desproporcionados.

Estas rápidas observações são seguidas de cálculos não inteiramente de rigor para significar que a Administração gastou sem olhar para trás.

Mas as estimativas exibidas têm de ser depuradas e corrigidas.

Não está certo que a conta da Cela se lancem as redes do estrada de ligação e acesso, as despesas com serviços públicos administrativos, os encargos do funcionalismo, que pertencem aos quadros centrais, nem mesmo a assistência técnica e os financiamentos que possam ser atribuídos em qualquer ponto do território. Não está certo que se reportem os custos de 1.º estabelecimento para muitas centenas de famílias.

Essa obra foi estudada, planeada e executada vivamente por um organismo que, suponho, está em vias de desaparecer ou de se reformar - a Bricon.