Não há aqui o problema de atacar ou defender o colonato da Cela, mas apenas o de dizer a verdade, pois dizendo a verdade faz-se justiça. O colonato da Cela é uma realidade cheia de futuro, convindo, pois, tomar, atenção aos vários fenómenos para salvaguardar esse futuro, que nós queremos seja bom e não pessimista. Eram estas as observações que queria apontar, restando-me apenas pedir desculpa a V. Exa. pelo tempo que lhe tomei.

O Orador: - Agradeço as palavras de V. Exa. e passo a prosseguir na minha exposição.

O outro facto a ter em linha de couta, como muito bem apontou o Sr. Dr. Francisco Tenreiro, é que se nào esqueçam os colonatos indígenas. Não estamos em África apenas para povoar, mas igualmente para civilizar e fazer progredir os povoadores negros que lá estão há milénios. £ a nossa tradição mais bela, e foi porque assim procedemos que nos conservámos e conservamos em África «sem termos uma mão em o morrão aceso sobre a escorva da bombarda e a lança na outra », como há quatro séculos proclamou João de Barros. Os colonatos indígenas também devem constituir, paralelamente, ensaios que forneçam ensinamentos paru o futuro, e por isso devem ser objecto de permanente análise e estudo.

Há uma grande realidade que nunca deve ser esquecida: cerca de metade dos portugueses são da raça negra. Em Angola, Moçambique e Guiné há 11 milhões de pretos e 250 000 brancos; a proporção é de 44 par a 1. Aumenta o número de brancos, pelo saldo fisiológico dos que vivem em África e pela imigração. Mas aumenta igualmente o número de pretos.

Assistidos sanitàriamente de forma cada vez mais eficiente, melhorados nas suas condições materiais de existência, vêem-se baixar os índices de mortalidade mais rapidamente do que os de natalidade, que são altíssimos. Há uns anos os dados então disponíveis faziam prever que a população negra da Guiné duplicaria em cerca de trinta anos se continuasse a crescer no mesmo ritmo.

Tomos de valorizar tudo, a metrópole e o ultramar, os brancos e os pretos, para podermos constituir um grande espaço habitado por cidadãos progressivos cada vez mais conscientes das suas forças de coesão.

E com uma nota de optimismo que desejo terminar. A preocupação da rentabilidade e da produtividade ganha terreno dia a dia; compare-se, por exemplo, a maneira como são apresentados o I e o II Planos de Fomento. Conhecer mais perfeitamente os fenómenos nas suas causas e efeitos, saber pôr os problemas, é meio caminho andado para os resolver.

A grande batalha do nosso tempo trava-se em boa parte no campo económico. Ê preciso multiplicar a riqueza, mas também distribuí-la equitativamente, combatendo dois males crónicos.

Corrigir empirismos administrativos e económicos, estudar criteriosamente para poder estabelecer rigorosa prioridade no investimento dos dinheiros públicos e privados, contrariar tendências tecnocráticas alheadas das condições financeiras e das consequências económicas, não esquecer - pela tentação de tudo querer investir nas grandes obras - a necessidade de tornar eficientes as infra-estruturas dos serviços com especialistas e técnicos em número e qualidade adequados.

Creio que muitos dos problemas da emigração e da colonização verão assim a sua solução.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente : - Vou encerrar a sessão. De tarde haverá sessão à hora regimental, com a dupla ordem do dia que já ontem foi indicada. Está encerrada a sessão.

Eram 13 horas.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

António Calheiros Lopes.

António Carlos dos Santos Fernandes Lima.

António Cortês Lobão.

Fernando António Munoz de Oliveira.

José Guilherme de Melo e Castro.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Américo Cortês Pinto.

Antão Santos da Cunha.

António Pereira de Meireles Rocha Lacerda.

Artur Máximo Saraiva de Aguilar.

Augusto César Cerqueira Gomes.

Belchior Cardoso da Costa.

Carlos Monteiro do Amaral Neto.

César Henrique Moreira Baptista.

João da Assunção da Cunha Valença.

João Cerveira Pinto.

Joaquim Dinis da Fonseca.

José António Ferreira Barbosa.

José Gonçalves de Araújo Novo.

José Manuel da Costa.

José dos Santos Bessa.

Luís de Arriaga de Sá Linhares.

Manuel Cerqueira Gomes.

Manuel Homem Albuquerque Ferreira.

Manuel Lopes de Almeida.

Manuel Luís Fernandes.

Manuel Maria Sarmento Rodrigues.

Manuel Nunes Fernandes.

Manuel Seabra Carqueijeiro.

Purxotoma Ramanata Quenin.

Rogério Noel Peres Claro.

Simeão Pinto de Mesquita de Carvalho Magalhães.

Urgel Abílio Horta.