Ao contrário do que acontece com aquela oleaginosa, o arroz, produto básico da alimentação indígena, fornece escassos excedentes à exportação, tirados do seu consumo interno.

Gradualmente, às produções de mancarra e arroz seguem-se os produtos da palmeira, milho, cana sacarina e mandioca.

Segue-se um quadro elucidativo sobre as exportações dos principais produtos no último quadriénio:

(ver quadro na imagem)

Na apreciação do quadro a, seguir, sobre o movimento de cambiais havido no quadriénio 1953-1956:

(ver quadro a seguir)

há que notar o facto de o comércio ter beneficiado na distribuição das cambiais pela circunstância de o Estado ter satisfeito um substancial volume dos seus compromissos na metrópole com o produto dos empréstimos contraídos por intermédio do Fundo de Fomento Nacional; mas a partir de 1959, quando começar a satisfação desses empréstimos, o Fundo Cambial terá de se ressentir, concedendo cambiais ao Estado, para as suas necessidades, com as naturais repercussões para o comércio.

Nota-se que as cambiais resultantes das exportações da Guiné são a sua quase única fonte de cobertura, presentemente. Em 1956 as que foram recolhidas pelo Fundo Cambial totalizaram 162:417.202$58 e as transferências autorizadas importaram em 144:062.368$95, transitando para o ano seguinte o saldo de 18:992.799$34, contra o de 637.965$71 que viera do ano anterior.

As cambiais entradas foram, portanto, mais que suficientes para fazer face às importações e outros encargos da província.

Finalmente, tal como fizemos para Cabo Verde, eis um breve resumo, um pequeno historial, da vida agrícola da Guiné e das condições em que se produz o que de lá se exporta:

A cultura da mancarra - amendoim - e do arroz representa cerca de metade de todas as actividades agrícolas dos povos da Guiné. De harmonia com um recenseamento agrícola efectuado em 1953, o arroz ocupava 26 por cento das terras cultivadas e a mancarra 22 por cento. Da mancarra, que é produzida principalmente nas áreas administrativas de Gabu, Farim, Bafatá e Mansoa, são os Fulas os grandes produtores: cerca de metade da produção de mancarra da província sai das suas terras.

A sua cultura é feita em regime de rotação. Raramente a mancarra é semeada num terreno recentemente desbravado. O período de rotação oscila entre três e sete anos; só na ilha de Bissau a mancarra alterna, ano sim ano não, com o milho preto.

Os trabalhos de preparação do solo limitam-se à limpeza do terreno e ao corte das árvores, que, quando muito grandes, são, de preferência, queimadas. O Fula, que, como se disse, é o maior produtor de mancarra da Guiné, lavra o terreno com um arado típico; os restantes povos, em regra, utilizam a enxada de cabo curto, que tão vulgar é em todos os territórios africanos. O solo é armado em camalhão para a sementeira.

Os amanhos culturais compreendem mondas e sanchas que são efectuadas pelos indígenas de forma diferente, de raça para raça, conforme são melhores ou piores cultivadores de mancarra.

No fim do ano procede-se ao arranque e à separação das vagens dos caules. Com a imprevidência, que é característica a alguns indígenas, não é raro ficar a mancarra amontoada no solo, sofrendo estragos por virtude das chuvas tardias.

Não são poucas as deficiências da técnica agrícola posta em prática pelo indígena guineense na cultura da mancarra. Pode, no entanto, notar-se uma certa superioridade sobre praticas agrícolas usadas nos territórios vizinhos. A geral observância das práticas de rotação impede que a expansão da cultura da mancarra constitua na Guiné Portuguesa, como sucede nos territórios vizinhos, fonte de agudos problemas de revalorização do meio natural, esgotado por uma cultura intensiva duma plantta tão exigente como a da mancarra.

Parece-nos, contudo, ser possível aumentar consideràvelmente a sua produção na Guiné, sem cair na chamada «senegalização» das áreas em cultura, por meio não só de uma progressiva melhoria das sementes, como também de uma mais aperfeiçoada técnica de produção e mais perfeita armazenagem do produto.

Quanto pròpriamente ao seu comércio, tem a mancarra duas fases distintas: a primeira decorre antes da abertura oficial da campanha em que o comércio faz «empréstimos ao indígena» por conta da colheita; a seguinte é constituída pelos actos praticados depois da sua abertura e em que se efectua a comercialização do produto.

Com a abertura oficial da campanha, em que normalment e são fixados os preços de compra ao produtor indígena, dá-se início ao maior acontecimento da vida económica da província.

Os centros comerciais, até então semiadormecidos, animam-se com a presença dos vendedores que vêm oferecer o seu pequeno lote de mancarra. Das tabancas deslocam-se diàriamente grandes ranchos de indígenas que vão vender os quilogramas de amendoim equivalentes às necessidades do momento que passa. Nos centros mais importantes do interior da província encontram-se estabelecidos e exercem as mesmas actividades pequenos e grandes comerciantes. É normal, apesar de em muitos casos os primeiros serem financiados pelos segundos, rija disputa entre ambos, quer na compra de produtos, quer na venda de mercadorias. Os preços que praticam são uniformes no que respeita à compra de produtos, mas quase sempre diferentes nas vendas a retalho, sendo muitas vezes mais baixos os dos pequenos comerciantes, o que até certo ponto se explica, dada a sua modesta organização. Desta situação beneficia o indígena que se