de Trás-os-Montes, Beira e Alentejo, ou uns mais densamente povoadas do Minho, Beira Litoral, Algarve, Madeira e Acures, dia a dia sabem que raras são as famílias que, não tem um parente ou um amigo fora do seu torrão natal, unias vezes vivendo feliz e atraindo para junto de si os familiares, outras curtindo as amargas saudades da terra que deixou e para onde não se sente com ânimo de regressar.

Parece evidente que neste fenómeno da emigração não anda simplesmente a urgência premente de procurar meios de subsistência. A ânsia de melhorar aí condições de vida e em grande parte de afirmar capacidades de que cada um se sente dotado leva um grande número de portugueses a procurar agitar-se num meio mais dilatado do que aquele onde se nasceu.

Assim, descem às grandes cidades, vão para países estrangeiros na mira de triunfar, metem-se ao mar para povoar as terras ultramarinas. E a história de sempre. Se meditarmos, na maneira como foi possível no século XVI tripular a revoada de navios que andavam a esquadrinhar os mares e a descobrir terras nos cinco continentes; construir e. guarnecer fortalezas ainda hoje imponentes ao longo das imensas costas de África, do extremo noroeste, pelo sul ao extremo nordeste, no golfo Pérsico, na Índia, na Malásia, na Indonésia, na China e no Brasil - até ao mais afastado ponto do interior das suas fronteiras; distribuir pelas ilhas atlânticas, pelo Brasil, pela África o pelo Oriente a gente que havia de construir a base sólida do povo português, ou ser o elemento dominante no amálgama de raças que se juntaram ou deixaram arras de si tradições de simpatia e cultura; e se ainda olharmos às actividades basilares que, em relação com este surpreendente movimento expansionista, era indispensável manter aqui nesta, nesga do terra europeia- na indústria da construção naval, no linho -para as velas e cabos e até na pré-fabricação de muralhas, que eram exportadas nos porões das naus; e se, finalmente, soubermos que a população portuguesa era nesse tempo avaliada num escasso milhão o meio de habitantes - nos quais havia que contar com os meninos, as mulheres, os velhos- s os incapazes-, temos forçosamente de concluir que o povo inteiro participava, pensava e vivia inteiramente na grande empresa nacional dos descobrimentos; respirava, dos confins serranos de Trás-os-Montes às praias algarvias, a grande aventura que, nem por ser consciente o meditada, deixava de ser unia aventura para quem nela punha sem reservas todas as energias nacionais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - De maneira que, para o português, o sair da sua terra não é sempre sintoma de um drama, porque, é historicamente uma atracção atávica e nobilitante. Ainda agora, quando repetidas vezes ouço proclamar que é indispensável desenvolver no povo português o gosto pelas terras do ultramar, não reconheço verdadeiro fundamento nesse cuidado, porquanto a todos os apelos feitos em tal sentido - quando se têm deparado possibilidades de ali colocar indivíduos ou famílias metropolitanas- responde, invariavelmente um número muitíssimo maior de concorrentes voluntários. Esse problema de propaganda pode, perfeitamente, pôr-se de lado. por absolutamente desnecessário. Isto quanto à gente, às pessoas, porque no que respeita ao emprego de capitais o caso é muito diferente e precisava de melhor interesse e ate entusiástica compreensão da parte dos elementos competentes.

Portanto, mesmo sem necessidade de discutir e apreciar os motivos determinantes de expansão, ou simplesmente do fenómeno migratório, pode-se perfeitamente concluir a sua importância na vida nacional.

Foram postos pelo distinto colega os variadíssimos aspectos que oferece a questão, assim como a acuidade e o interesse que cada um deles reveste. Todos, sem dúvida, merecem a atenção desta Assembleia. Pela minha parte dirijo-lhe, por esse motivo, as minhas felicitações e agradecimentos.

Além destas sinceras homenagens ao seu trabalho, que desejo venha a ser uma auspiciosa estreia parlamentar, quero ainda prestar-lhe a modesta contribuição de algumas opiniões para o esclarecimento de um dos aspectos focados: o do povoamento do ultramar. Quanto a mini é o mais importante de todos, pois ao mesmo tempo envolve a questão da colocação dos possíveis excessos demográficos metropolitanos e aquela, entre todas principal, do aumento populacional das províncias ultramarinas do continente africano.

Como já por diversas vexes aqui tenho afirmado, como em repetidas ocasiões e lugares tenho icultura e a indústria, etc.

Nas minhas considerações, assim, limitadas como disse, proponho-me ainda apreciar muito rapidamente algumas ideias, com as quais não estou inteiramente de acordo e que por vezes circulam em vários sectores da opinião pública da metrópole e do ultramar. Com muitas delas nada tem o ilustre Deputado Homem de Melo, nem elas constam da sua desenvolvida intervenção.

Não me vou deter com as questões postas ou as soluções a encarar para os casos que unicamente interessam às regiões metropolitanas.

Respeito as melhores intenções para fixar à terra os braços que vão aumentando a riqueza demográfica europeia. Louvo todos os esforços que tenham em vista não colocar um só português na dolorosa situação do ter de sair da sua terra para poder viver. Aplaudo tudo o que possa concorrer paru elevar o nível de cultura e de vida do povo português em qualquer parte do território em que trabalhe.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, acima de tudo, clamo pela necessidade imperiosa de reforçar o povoamento dos territórios de Angola o Moçambique com gente metropolitana, no maior número possível, da melhor maneira possível, da melhor qualidade possível.

Vozes: - Muito bem !