quase sempre, no sentido das considerações que produzi: protecção à lavoura; incremento da indústria; valorização do ultramar. E se a ninguém seria lícito supor que o Governo me plagiava (mesmo admitindo o absurdo da hipótese, o Plano estava concluído autos de eu efectivar o aviso prévio), a verdade é que muitos haveriam de dizer que eu baseara as minhas considerações nos projectos apresentados pelo Governo se tivesse falado uns dias mais tarde. Seja como for, apraz-me registar que algumas das ideias expressas não serão tão desactualizadas, nem tão irreverentes, como aqui e além se procurou acentuar, dado que o Governo as defende e preconiza no magistral Plano de Fomento que o País e a Assembleia em breve apreciarão.

Sr. Presidente: desejaria individualizar, com uma palavra de justo reconhecimento, as intervenções de todos os ilustres Deputados que a esta mesma tribuna vieram, chamados pela discussão que provoquei.

V. Ex.ª e a Câmara calcularão quanto me seria grato, porque lhe ofendera intenções menos justas.

Ligam-me aos vários responsáveis pela solução dos problemas aqui focados não só relações de amizade e respeito como, a alguns, sementes de gratidão o carinho, que gostosamente cultivo. Se por feitio e princípio não seria capaz de atacar e ofender pessoas, colocado no campo da amizade jamais trairia a estima que me dedicam. Discordar dos métodos ou dos critérios não é o mesmo que atacar os homens - e mal iríamos se assim não fosse.

No dia seguinte àquele em que efectivei o aviso prévio recebi da Presidência do Conselho vários elementos que o Prof. Raul Ventura, ilustre Ministro do Ultramar, solicitara ao Conselho Superior de Fomento, em satisfação do requerimento que em Dezembro fiz.

Pena foi que tão tardo me tivessem chegado tão esclarecedoras informações; não sei se não leriam provocado (gostosamente me interrogo) a revisão de um ou outro ponto que foquei. Reconheço, sem relutância, que os serviços não podem estar ex clusivamente ao dispor dos Deputados e que têm tarefas bem mais urgentes a cumprir. Mas não se perdeu, ao menos, a oportunidade de aqui deixar duas palavras de admiração por esse apaixonado do ultramar português, límpido de intenções, sempre de mãos vazias, que consagrou a sua vida ao fomento dos territórios ultramarinos. Pode discordar-se, como eu, de um ou outro aspecto da sua obra e dos métodos que por vezes deseja impor, mas seria flagrante injustiça não reconhecer no muito que tem planificado e construído o sopro de um fecundo e invulgar talento realizador.

Quero referir-me ao Eng. Trigo de Morais.

Abandono esta tribuna sem apresentar qualquer moção: o País já se esclareceu e o Governo não carece que lhe indiquem caminhos ou o absolvam do supostos pecados. Mas julgo que não poderia encontrar maior justificação para a minha atitude do que o desfilar por esta tribuna dos ilustres membros desta Câmara, que honraram, é certo, o pobre Deputado avisante, mas lambem indicaram ao Governo e ao País, elogiando, concordando ou criticando, que a Assembleia está atenta e não deseja que se esqueça a moção aprovada por unanimidade em 1952, após o aviso prévio do Dr. Armando Cândido.

Se a juventude é promessa, entusiasmo e confiança, termino, Sr. Presidente, agitando essas bandeiras da mocidade, na certeza de que o Governo fará, serenamente, o estudo dos problemas discutidos o que, uma vez mais, sob a égide de Salazar, «estudará na dúvida, para realizar com fé».

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente:- Está concluído o debate.

Vai passar-se à segunda parte da ordem do dia: apreciação das Contas Gerais do Estado e das da Junta do Crédito Público relativas a 1956.

Tem a palavra o Sr. Deputado Dias Rosas.

O Sr. Dias Rosas: - Sr. Presidente: dominado ainda pela profunda impressão que me causaram os notáveis discursos que todos acabamos de ouvir, considero gravemente desfavorável o confronto a que me vou sujeitar.

Ao subir a esta tribuna para falar sobre as Contas Gerais do Estado de 1956 não posso deixar de assinalar a notável sequência com que o nosso ilustre colega engenheiro Araújo Correia tom relatado os respectivos pareceres que as submetem à resolução desta Assembleia, a definir já uma tradição que tem sido fonte de proveitosos ensinamentos.

Sr. Presidente: nas conclusões do parecer sobro as contas da metrópole registam-se dois aspectos que reflectem preocupações largamente evidenciadas ao longo de todo ele, a cuja importância e particular acuidade, até porque também as subscrevi, quero agora referir-me: o agravamento do deficit da balança do comércio verificado no final de 1956 e a necessidade de promover intensamente o desenvolvimento dos recursos das zonas do interior do País pela execução de melhoramentos rurais e inter-regionais que dêem vida própria aos pequenos e grandes agrupamentos demográficos o permitam a criação do actividades produtivas consentâneas com um nível do vida idêntico ao das zonas do litoral.

O primeiro destes pontos tem um gravo significado, que já tive ocasião de focar a propósito da discussão na generalidade da lei de autorização para 1958. Aí procurei analisar a situação do nosso comércio externo e salientei que os males com que se debate denunciam fraquezas estruturais que impõem uma enérgica política de fomento das nossas exportações, estreitamente condicionada à reforma dos nossos actuais órgãos de direcção do comércio externo, em termos do habilitarem o Governo com uma informação completa que lho permita definir essa política e do lhe assegurarem a sua execução pronta e eficaz.

O que então disse está na linha das considerações do parecer em apreciação e é agora reforçado pulo maior desequilíbrio anual da balança do comércio no fim do 1957, que foi de 6 136 000 contos, ou seja cerca de mais de 2 milhões de contos sobre o deficit do