Comércio de Angola com o estrangeiro

(ver tabela na imagem)

Apesar do esforço desenvolvido por todas as actividades económicas de Angola, facto que não podemos negar, verifica-se que a balança comercial do ano findo fechou com um saldo negativo da ordem dos 238 000 contos.

Com efeito, as importações atingiram um valor de 3 565 000 contos, enquanto as exportações apenas somaram 3 327 000 contos.

Este facto não indica ainda uma situação preocupante, mas merece a nossa atenção, pois é a primeira vez que, desde 1931, a nossa balança comercial se encerra com saldo negativo.

Não podemos deixar de reconhecer que ele mostra a necessidade de um estudo atento do problema e duma cuidadosa orientação futura.

O Sr. Melo Machado: - V. Ex.ª dá-me licença?

Pelas informações que me prestou o Sr. Ministro do Ultramar, a meu pedido, dizia S. Ex.ª que esperava que no fim do ano transacto esse assunto já estivesse estudado e resolvido, e afinal de contas estamos em Abril e ainda não há noticia nenhuma dessa solução, tão desejada e necessária. Continuamos a pagar ao estrangeiro e a não pagar à indústria e ao comércio nacionais.

O Orador:- Adiante vou referir-me ao assunto, mas posso desde já elucidar que o problema tem merecido a melhor atenção do Sr. Ministro do Ultramar, e presentemente a sua solução não depende do seu Ministério.

O Sr. Melo Machado: - Muito obrigado.

O Orador:- Com veracidade, temos de salientar o significado destes números, e, quando os comparamos com os dos anos anteriores, somos levados a concluir que a economia da província não deixa de progredir.

É animador verificar que a tonelagem exportada em 1957 é a maior de todos os anos - e maior seria se naquele ano se tivesse conseguido colocar a colheita de milho, da ordem dos 100 000 contos, e as reservas de farinha de peixe, que, devido a certos factores, não foi totalmente exportada e cujo valor andaria por uma verba semelhante, o que, provavelmente, teria anulado o desnível registado tanto na balança comercial como na posição do Fundo Cambial.

O Sr Melo Machado: - Apesar do desenvolvimento da província.

O Orador:- Sim, não obstante o desenvolvimento da província, o desnível a que me referi verificou-se - o facto é esse.

Por outro lado, o aumento das importações, que em tonelagem apenas se cifrou em 39 000 t, atingiu, porém, o valor de 403 000 contos, o que indica o ritmo de crescimento da província, que tem necessidade de novos apetrechamentos.

Esses apetrechamentos não deixarão de produzir os seus frutos futuros no que se refere ao aumento do exportações.

Passemos agora a analisar o problema no que se refere à metrópole.

Referindo-nos aos anos a partir de 1953, conforme o quadro seguinte:

Comércio de Angola com a metrópole

(ver tabela na imagem)

Verifica-se que, não obstante as dificuldades de transferências já assinaladas, as importações da metrópole não diminuíram no ano findo.

Com efeito, nos onze primeiros meses comprámos à metrópole 1 279 000 contos, o que nos permite supor que no fim do ano o total não fique longe dos 1 436 000 contos verificados em 1956.

O que significa este facto?

Somos levados a concluir que o comércio e a indústria metropolitanos têm dado todo o seu apoio à nossa província, continuando a remeter os seus produtos, não obstante o atraso dos pagamentos.

O Sr. Melo Machado: - Apoiado!

O Orador:- Mas também temos de reconhecer que tudo tem um limite, e a capacidade financeira dos nossos comerciantes e industriais não é ilimitada.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Por outro lado - e não podemos deixar de apontar a gravidade do facto-, temos quase a certeza de que, se não fossem as citadas dificuldades, o valor das importações metropolitanas teria sido muito maior.

O Sr. Melo Machado: - Apoiado!

O Orador:- A confirmar o facto, temos o aumento das importações do estrangeiro, entre as quais sabemos existirem mercadorias que poderiam ter sido importadas da metrópole, e que, não o sendo, redundaram em prejuízo da indústria nacional.

O Sr. Melo Machado: - v. Ex.ª dá-me licença?

Agradeço muito as palavras de V. Ex.ª, porque elas corroboram exactamente o que disse.

Continuando neste regime, estamos a proteger a importação estrangeira contra a nacional, apesar de os Srs. Ministros das Finanças e do Ultramar terem afirmado que não podemos sequer pensar em diminuir as exportações da metrópole para Angola.