(...) Estado, receando ter de concluir pela incapacidade congénita da raça; quem, mais tarde, ante a decrepitude dos navios de passageiros, ouviu, com amargura, defender a ideia de entregar a um concessionário estrangeiro as ligações da metrópole com as províncias do ultramar; quem, dessa mesma geração de tristes, pousando os olhos nas esquinas de Lisboa, leu cartazes que anunciavam a criação de uma companhia de navegação para o Brasil, a inaugurar com dois grandes paquetes de 20 000 t, para ficar mais triste ainda quando a chuva destingiu os cartazes e o silêncio falou em nome da verdade; quem, durante a última guerra, colaborou no quebra-cabeças de abastecer este País com poucos e velhos navios, alguns dos quais andavam a 8 milhas, e presenciou a impotência nacional, assinando o fretamento de um petroleiro a 95 dólares por tonelada - preço de escândalo, legitimado pela sagrada lei da oferta e da procura; quem assistiu, depois de tudo isto ter passado como nuvem negra, à alegria da chegada dos paquetes portugueses ao cais da Praça Mauá e ouviu em Las Palmas o espanto dos naturais ante a silhueta altiva do Santa Maria; quem conhece as estatísticas dos últimos anos e lê o Boletim da Junta Nacional da Marinha Mercante - só tem uma reacção ante os textos do II Plano de Fomento e do capítulo viu do seu relatório final preparatório: inscrever todos os navios que figuram no n.º 57 deste relatório.

O programa que tal documento contém, que é a reprodução do que foi fixado pelo despacho n.º 123, de 25 de Maio de 1956, do Ministro da Marinha, sobre informação da Junta Nacional da Marinha Mercante, prevê a construção, até 1966, de vinte e quatro navios, com o custo global da ordem de 3,5 milhões de contos (posteriormente corrigida para 4 milhões), com expressa ressalva de excluir os navios nessa data encomendados ou em vias disso, os quais compreendiam, dentro do I Plano, o petroleiro Erati e o grande navio de passageiros destinado pela Nacional à carreira de África, e, fora desse Plano, sete outros navios, designadamente um petroleiro e seis barcos de cabotagem. Acresce um navio de carga para a carreira de África, cuja construção foi autorizada posteriormente extraprograma.

Limitou-se o Plano, porém, a proporções mais modestas, reduzindo o programa a 15 navios «a lançar ao mar» dentro do próximo sexénio; mas como esta redacção parece incluir um dos petroleiros e o navio de passageiros para a carreira de África, excluídos no despacho, mas deverá excluir, naturalmente, todos os que forem lançados ao mar até ao fim do ano corrente, a diferença entre os dois programas, isto é, os barcos excluídos pelo Plano de Fomento, são em número de 9, como mostra a coluna (7) do quadro seguinte, onde não se contaram os 6 barcos de cabotagem referidos acima e que não interessam para este balanço:

frota mercante portuguesa a 1 000 000 t D. W., mas há manifesto lapso neste cálculo.

De facto, o porte da nossa marinha mercante, referido a 1. de Janeiro do ano corrente, é de 527 340 t D. W.; somando-lhe os navios entrados ao serviço em 1958 mais os 15 do Plano, chega-se a um total seguramente inferior a 750 000 t; nem com o programa total inscrito na coluna (5) do quadro se atinge ainda o milhão. Este número é redondo e é bonito; a Câmara estimaria poder atingi-lo, porque reconhece que tal seria útil e não quer repetir o erro de subestimar a vantagem de mais navios, como o fez no parecer de 1952 em relação aos petroleiros, embora tivesse agido sob a pressão da falta de verba muito mais que por imperativo de consciência. A somar a isso, reconhece-se que uma nação realmente marítima não tem no mar menos de l 000 000 t.