desejado equilíbrio. São inúteis mais palavras de concordância e justificação.

A central do Távora, embora venha dar ao conjunto uma participação marginal pequena, perdido o interesse da sua produção de Inverno em face das produções do Douro, constitui uma parcela com utilidade, em relação à qual há compromissos e cujas obras estão em curso; se o custo de tais obras não é susceptível de trazer surpresas, nada temos a opor à sua continuação. O que não se afigura razoável como justificação do Távora é o argumento invocado no Plano de convir atenuar o déficit: de produção em 1960; nem o déficit existirá, como vamos ver, nem a central estará pronta nesse ano.

Antes de mais nada, observemos que, no mapa IV do relatório final (pp. 310 e 311), os saldos negativos de produção em relação aos consumos normais (respectivamente 320 GWh, 440 GWh, 420 GWh e 190 GWh em cada um dos anos de 1959 a 1962) não têm grande significado e alarmam, sem motivo, o leitor pouco avisado , que será tentado a pensar que devem construir-se mais centrais; de facto, está-se a comparar a produção num ano excepcionalmente seco (tipo 1948-1949) com a soma dos consumos permanentes e não permanentes, atribuindo a estes o valor máximo previsto, isto é, a comparar coisas que se sabe serem incompatíveis e se aceitam como tais.

Á comparação que vai servir-nos de guia é a que se faz com os consumos permanentes, porque são esses que queremos garantir em todos os anos, e desde já se chama a atenção para o elevado grau de segurança com que neste Plano se trabalha em relação ao anterior, por se partir de produções hidráulicas em ano excepcionalmente seco, em vez de produções em ano médio; não vem esta secção da Câmara contestar tão prudente doutrina, antes a apoia calorosamente, mas vem apenas afirmá-la para que conste e se não caia no exagero de querer, por cima disto, uma grande margem de segurança.

De facto, a repetição de um ano hidrológico tipo 1948-1949, como atrás se disse, tem uma probabilidade da ordem de 2 por cento, tanto quanto pode deduzir-se do período de trinta e cinco anos de que há registos de caudais (1922-1923 a 1956-1957); e, embora este período seja efectivamente curto e os registos incompletos, não merecendo os mais antigos a confiança dos mais modernos, aquela probabilidade de 2 por cento e o facto de se fazerem as contas para o ano mais seco que conhecemos devem ser motivo de segura tranquilidade. Evidentemente que ninguém assegura que no próximo sexénio não possa haver um ano igual - ou pior; mas não deve esquecer-se que a nossa civilização, mesmo nas mais sólidas conquistas do mundo físico, chama certezas às grandes probabilidades.

As produções atribuídas no referido mapa IV aos diversos sistemas de centrais afiguram-se baixas, porque no seu cálculo não se puderam ter em conta os elementos do projecto mais recentemente conhecidos, nem se exploraram os benefícios de assegurar alguma reserva interanual, mesmo em albufeiras de pequena regularização, o que é sempre possível, salvo se se supuser uma sucessão de regimes extremamente secos, em que uns anos não possam ajudar os outros, o que é pior que o pior ciclo plurianual conhecido. Na realidade, o Repartidor Nacional de Cargas acaba de concluir um estudo, longo e complexo, em que, partindo dos dados mais recentes sobre as características dos aproveitamentos contemplados no Plano para conclusão dentro do sexénio, admitindo, no conjunto da rede interligada, as albufeiras exploradas como uma só unidade em regime interanual e considerados os ciclos plurianuais estatisticamente registados como mais desfavoráveis, encontrou os seguintes valores para níveis de produção, que podem ser garantidos dentro do diagrama de cargas nas piores hipóteses hidrológicas conhecidas:

(ver tabela na imagem)

A produção marginal do Távora em ano muito seco pode ser traduzida, certamente com erro por defeito, pela soma de 60 GWh aos valores acima.

O apoio térmico considerado nas duas últimas colunas deste quadro foi, respectivamente, de 110 MW e 650 GWh na primeira e 150 MW e 900 GWh na segunda, o que corresponde a reduzir a potência das centrais actuais a 60 MW e 50 MW. Os números adoptados estão de acordo com as conclusões da comissão oficial para estudo do apoio térmico.

A partir destes dados, a necessidade de novas fontes produtoras pode escalonar-se como mostra o seguinte quadro:

(ver tabela na imagem)