altura em que só as possibilidades naturais determinavam as suas bases.

Mas, esgotado esse campo de esperança, é no melhoramento do que é nosso que se têm de fixar as nossas preocupações.

E não lia dúvida de que a floresta tem de ter aqui uma posição bem presente de equilíbrio na modificação do nosso meio rural.

Ainda há poucos dias atravessei a parte confinante do Alentejo com o Algarve, parte deste até à faixa costeira.

Pude assim confirmar a minha impressão do que influi na densidade da população, e não me foi possível deixar de me impressionar pelo escalvado dos montes, como pelo nosso mau arruino no aproveitamento do solo.

Se, por um lado, me sinto assim levado a considerar pequena a verba anual de 105 000 contos que se considera como possível de investir por este Plano, por outro não posso deixar de pensar que são lentos os seus resultados para fins imediatos, que são a premissa fundamental para a acção indispensável deste Plano.

Compreendo, porém, que na sua acção de preparação de melhor futuro tem inteira justificação o investimento que se propõe, assim como compreendo que cautelosamente se lhe não destine maior extensão no conjunto das prestações do Plano, até porque neste campo, como nos outros, não devemos perder a noção das nossas necessidades mais prementes no entregar-nos a puras formas exclusivistas de soluções.

Alguma dúvida tenho, porém, quanto à acção parcelar, que se estrutura no seguinte arrumo:

Contos

Fomento florestal ao norte do Tejo........... 519 000

Fomento florestal ao sul do Tejo............. 12 000

630 000

As nossas maiores necessidades de aumento de produção continental, porém, à vista do quadro a que já me referi, e que, até estudo mais profundo dos nossos problemas, temos de considerar como definindo às tendências preferenciais de influência deste plano, são do trigo, leite e carne.

Ao considerar para o norte do Tejo a verba mais volumosa, receio que se preveja o povoamento florestal de algumas serras, ou parte delas, que no estado actual da nossa exploração pecuária representam ainda um valor real de pastagens, permitindo, por uma certa humidade do clima, o seu aproveitamento por gados permanentes ou transumantes o que pode tornar duvidoso o investimento, que mais útil pode ser onde não haja esse valor a considerar.

Foi esta a situação que há tempos fui encontrar na serra de Ávila, em Espanha, e que levou a suspender o seu povoamento florestal até que o problema se apresentasse noutros termos. Não devemos também esquecer o que resultou do povoamento florestal de alguns baldios.

Se é certo que Portugal já tem uma área de floresta que nos coloca entre os primeiros da Europa, com a sua relação para a área cultivável não quero evidentemente dizer que mais não tenhamos que arborizar. O que temos é que aproveitar o possível investimento onde ele mais corrija deficiências estruturais no meio e promova a defesa das obras feitas. E também verdade que muito da floresta que temos estará mal localizada, quer em relação à aptidão do solo, quer quanto ao aproveitamento deste para o quadro geral das nossas necessidades. Está com certeza mal defendida também quanto a doenças que a infestam.

O problema aqui também não pode ser resolvido em face de simples observação superficial.

É frequente a afirmação de que, tendo o nosso território natural, tendência para a floresta e para a vinha, e produzindo nós trigo, mais caro do que aquele que, com artificialismo, ou não, nos vem do estrangeiro, nos devemos limitar àquelas culturas, trocando amanhã com os outros a árvore pelo trigo. Pelo mesmo trigo trocaremos o nosso vinho. Com a mesma árvore o vinho compraremos- as máquinas, a carne e o vestuário, enfim, tudo aquilo que o estrangeiro nos queira vender por qualquer forma mais barato do que o produzido cá.

Tenho, quanto à aceitação desta simpática teoria, algumas recordações - e uma apreciação da vida real que me levam a uma opinião bem contrária. Abstraindo-me de tudo o resto, e o resto é muito, tenho bem presente a situação em que nos encontrámos nas duas últimas guerras, embora felizmente na situação de neutrais.

Na primeira, embora como simples espectador sem responsabilidade, não pude deixar de sentir as dificuldade», a ameaça de fome, a dependência, para a vida do dia seguinte, da chiada ou não de um barco ao Tejo.

Na segunda, já com responsabilidades oficiais, pude sentir, não do que isso, a angústia dos que vinham pedir que lhes acudisse na insuficiência do pão, do azeite e da carne que lhes eram distribuídos.

São recordações que se não esquecem facilmente.

Julgo, porém, que bem a concretizou o Sr. Presidente do. Conselho, ao declarar, no primeiro ano da nassa suficiência em trigo, que o pão português era a fronteira que melhor nos defendia.

Limito-me, portanto, quanto ao investimento florestal, a recomendação de que seja feito onde de facto móis se imponha, não esquecendo que, mesmo onde tudo o pode recomenda! como óptimo, nos teremos, nesta primeira fase de limitar sobretudo à preocupação do suficiente. Quer isto dizer que para a nossa suficiência de trigo não podemos invadir aquelas terras que, embora, não sejam as que se possam considerar como mais próprias, nos trazem ainda larga quota na sua produção.

O regadio ainda não deu as suas provas de modo e nele podermos descansar, e na produção de trigo por vezes, mais influi a invernia do que a seca. A área não pode ser facilmente limitada.

O Sr. Melo Machado: - V. Ex.ª previ que haja n intenção de aplicar à cultura florestal terrenos que possam dar trigo?