breve se transformaria no terrível incêndio que avassalaria a Espanha; nem se ignora que os tradicionais inimigos do regime português encontravam refúgio e vivo apoio em territórios fronteiriços. Na própria França a hora era de dramática incerteza, e os exaltados nacionalismos de outros países não deixavam de perturbar a obra de regeneração em que tão decididamente nos havíamos empenhado sob o sábio comando de Salazar.

O génio político desse homem singular - nada melhor para apreciar a exactidão dos seus juízos do que folhear as páginas da nossa história contemporânea- havia de conduzir-nos à vitória na batalha ingente que se travava em defesa de Portugal. E é exactamente nesse ano de 1933 -sem dúvida dos mais significativos da história do regime - que um plebiscito consagra o novo texto constitucional e é criado o Subsecretariado de Estado das Corporações, através do qual se vão definir, numa série de notáveis diplomas, os princípios doutrinários que hão-de informar a acção social do regime.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nesse ano, de incessante actividade em todos os sectores da Administração, o Sr. Presidente do Conselho funda o Secretariado da Propaganda Nacional, que vai desenvolver uma acção da maior fecundidade e interesse. Evocando essa obra maravilhosa - poucas vezes o adjectivo será empregado com tanta propriedade -, naturalmente presto sentida homenagem de respeito, admiração e saudade a António Ferro, que a imaginou e, depois, realizou durante dezassete anos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Na verdade, conforme justamente afirmou o Ministro da Presidência, em discurso pronunciado sábado passado, «as obras brotavam das mãos de António Ferro cheias de frescura e de cor e tudo o que criou dentro do seu querido Secretariado teve o selo inconfundível do seu espírito».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nem sempre compreendido, António Ferro agiganta-se na perspectiva histórica que a morte infelizmente lhe concedeu e surge ante nós na mágica presença do seu inconfundível talento de jornalista, poeta e de homem integralmente consagrado à realização do sonho de servir Portugal, servindo Salazar e a sua doutrina.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Entrega-se com tão inexcedível amor e entusiasmo à sua tarefa que a transforma em missão a que totalmente se dá.

Os derrotistas e os inúteis, os que em todos os tempos e latitudes fazem da crítica justificação para clara incapacidade realizadora, não pouparam o seu zelo nem a sua altura, exactamente porque lhe reconheciam imenso e perturbante valimento. Muitas vezes a sua alma terá sangrado perante a injustiça desses ataques, mas prosseguia no combate, como homem de animo forte que era, servindo o seu ideal, na vida e para além dela, como afirmou no momento da inauguração do organismo que tão justamente agora descerrou, por entre dignas e solenes galas, um bronze com o seu busto, numa homenagem a que com gosto muito especial daqui me associo.

E o poeta inundou de beleza Portugal. Inútil enumerar as suas tão variadas realizações, pois todas se podem fundir nesse anseio permanente de tornar Portugal mais português.

Prosseguiu o Secretariado na sua secretário nacional da Informação no expressivo discurso que pronunciou domingo passado, ao declarar, por exemplo, que «lutar pela verdade na primeira linha, sem intolerância, mas sem hesitações, na esteira dos princípios definidos por quem soube determinar exactamente as coordenadas de uma política de espirito, é o primeiro objectivo do S. N. I.».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas, além desta missão, quantas outras lhe incumbem por forma a eficazmente promover uma cada vez mais intensa consagração dos valores do espírito, aqueles valores sobre os quais se alicerçam os fundamentos da civilização a que pertencemos e firmemente defendemos.

Os problemas da cultura nos tão variados domínios que ao Secretariado dizem respeito constituem esquema de acção que tem de encontrar, na diversidade dos meios, processo adequado de dar forma a um pensamento determinado.

E, fundamentalmente, importa que se não petrifiquem os conceitos definidores dessa política, e antes tenham a maior elasticidade, pois convém não esquecer que o novo depressa envelhece e que a juventude, sempre justamente sedenta de diferente, não se acomoda à excessiva rigidez das fórmulas consagradas. O Secretariado não pode, em minha opinião, ser estandarte de qualquer ideal estético, pois a todos deve acarinhar e divulgar desde que não se oponham à essência dos princípios que defendemos.

Ouvi, por isso, com vivo aplauso, as palavras pronunciadas, domingo, pelo Dr. Moreira Baptista, estando seguro de que encontraram o melhor oco naqueles a quem cumpre continuar Portugal.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O estimulo aos menos conhecidos, o aplauso aos não consagrados, as possibilidades que lhes são dadas pela publicação dos seus escritos ou exposição dos seus trabalhos, é tarefa de fundo interesse nacional, pois visa o presente e o futuro, que desejamos limpo de alguns dos miasmas que perturbam certas consciências mais ingénuas ou menos prevenidas.

Senti, realmente, nas palavras do Dr. Moreira Baptista aquele mesmo espírito criador que saudàvelmente levou António Ferro a cuidar de tudo o que era nacional, arrancando do desconhecido a inconfundível beleza e a extraordinária graça da terra portuguesa. Alta missão a que incumbe ao organismo que comemorou agora o 25.º aniversario da sua inauguração, pois, nunca tendo sido fáceis os tempos, não hão-de os que vivemos constituir excepção.