oa ouvir nitidamente um concerto em Paris, em Madrid ou em Londres, e que já há mesmo esperanças na televisão, que «consiste em ver a grande distância as pessoas com quem se fala»; a de que se aproveita desde, há pouco a energia eléctrica de uma queda de água na ribeira de Nisa e se pensa em aproveitar outra do rio Zêzere; e, enfim, a de que todas as almas bem formadas devem apoiar a Sociedade das Nações, «que funciona na cidade de Genebra, num país da Europa chamado Suíça».

Estes exemplos são bastantes para avaliar do nível do livro, que, aliás, não é pior do que a maioria dos restantes; é apenas talvez mais antigo, visto que já vai na 107.ª edição, e os livros escolares servem sempre, de índice da qualidade do ensino ministrado.

O Sr. Melo Machado:- V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faz obséquio.

O Sr. Melo Machado:-Mas esse livro ainda está em vigor?

O Orador: - Ainda. E, como já disso, a edição é de 1958. E o que se adopta na maioria das escolas.; mas devo esclarecer que nisso não têm os departamentos oficiais qualquer responsabilidade. E aquele que os professores insistem em adoptar por toda a parte.

O Sr. Carlos Moreira: - Os professores adiam que é o melhor ...

O Sr. Melo Machado: - e isso é que é impressionantemente revelador ...

O Orador: - No respeitante, aos quadros a situação pode exprimir-se, pelos seguintes números: em 1957 existiam 25 512 lugares docentes, considerando-se oficialmente necessária a criação de mais cerca de 1500.

Mas o número de professores em exercício era apenas de 14 891, o que representava um deficit absoluto, em relação aos professores necessários, de cerca de 12 000.

Daquela cifra de professores em exercício, cerca de 13 000 eram senhoras. Pouco excedem os 2000 os professores do sexo masculino que se encontram a dar aulas, quando o número necessário seria de cerca de 15 000. E ainda o número de professores varões tende a baixar, pois nos últimos anos tem sido superior o número dos que saíram dos quadros ao dos que neles entraram.

Parte muito considerável dos professores que ainda existem sào já pessoas de avançada idade, que apenas estão a aguardar a oportunidade da aposentação. Muitos há, aliás, que nem por isso esperam; nos três anos compreendidos entre 1954 e 1956 o número dos que pediram a licença ilimitada ou a exoneração foi superior a 1400, e a tendência para o êxodo é de ano para ano mais acentuada.

Segundo os números fornecidos pelo Ministério da Educação Nacional, estavam no fim do ano de 1957 sem professor 4030 escolas e 1209 postos dos considerados como necessários; estavam ao serviço cerca de 7000 regentes de postos de ensino, e destes havia 1231 colocados em lufares que deveriam ser providos por professores.

O Sr. Amaral Neto: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Com muito gosto.

O Sr. Amaral Neto: - Tem sido repetidamente apontado o risco, ou pelo menos o inconveniente, de confiar a formaçào dos rapazes no princípio da adolescência ou no período antes da puberdade a senhoras, mas há um aspecto, o da carência de professores primários masculinos, que nào costuma ser encarado e que reputo também de grande interesse. E, que nos pequenos meios rurais e nas dioceses onde escasseiam os sacerdotes o professor é muitas vexes o único elemento que pude trazer alguma imagem de vida intelectual e alguma orientação de carácter mental superior, de grande necessidade às comunidades, para lhes elevar o espírito a um certo nível de compreensào dos problemas gerais.

O Orador:- Reconheço inteiramente a importância do professorado primário como elemento com o qual há a contar para uma larga obra de formação da juventude e de enquadramento mental da população. Penso até, que, num período caracterizado pelo crepúsculo das antigas estruturas que prendiam os homens à igreja, à. terra, à família, à profissão, essa missào assume particular importância. Só me não refiro ao assunto é porque, sobre professores há matéria ainda mais urgente a considerar. E vou já ocupar-me dela.

E com os regentes que se está a fazer face à cada vez mais grave falta de pessoal habilitado; criados inicialmente para ensinarem os rudimentos da leitura e da escrita em lugarejos de poucos habitantes, os regentes já hoje se encontram a dar aulas nas escolas de Lisboa, do Porto e das restantes cidades do País. Muitos deles, suprindo a falta de preparação com a experiência e a boa vontade, estào a prestar uma colaboração útil, e a sua absorção pelos quadros normais seria um acto de justiça. Mas, de um modo geral, a presença de 7000 indivíduos cuja habilitação é o exame da 4.º classe e a quem se paga