O Orador: - Como nunca, neste caso, se verifica a exactidão do baron Louis - e perdoe-se-me o socorrer-me desse bolas de elástico, em vez de citar, pelo menos, de Keynes para cá -, ao formular o sabido ditame: «Dai-me boa política, dar-vos-ei boas finanças», ditame a que a nossa diuturnidade de trinta anos de contínua e assaz boa política e finanças óptimas nos poderia autorizar a acrescentar-se-lhe: se as perspectivas certas de largo progresso económico».

A nossa imensa gratidão por tão indiscutível obra operante não se poderia deixar de tributar, sem grave injustiça, ao Sr. Presidente do Conselho, que tem vindo tornando isto tão naturalmente realizável que até se compreende possa parecer às gerações que chegam coisa trivial e corrente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E, coadjuvantemente, cumpre associar :i esse tributo de gratidão n devida à equipa dos seus colaboradores na esquematização e justificação deste Plano, e em que vincou destacada projecção o Prof. Martelo Caetano.

Vozes: - Muito bem!

só e sempre platonicamente, para as vantagens da institucionalização orgânica da continuidade política, em termos de a indispensável firmeza do comando melhor se poder coordenar com flexível e cristã moderação, sub specic [...], ou seja, transportado o conceito à linguagem terreno, indefinidamente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E então se poderia falar com mais garantida segurança do que aquela que deve resultar das previsões do actual projecto de um III e de subsequentes planos de fomento. Já se vê que só estão em causa planificações não soviéticas...

A outro aspecto político, embora menor, se mais .imediato, quero ainda aludir: o da falta de suficiente conhecimento deste Plano pela generalidade do público. O seu conhecimento tem estado confinado praticamente aos componentes desta Assembleia e aos da Câmara Corporativa, chamados a seu propósito. E muito pouco. Não digo que dele se faça espalhafatosa propaganda; mas é indispensável a sua divulgação, e esta constituiria a mais sólida das suas propagandas.

Decerto que o volume dos respectivos relatórios é veículo impróprio para atingir o público em geral.

Mas façam-se folhetos sumariados e palestras; não serão o Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo e tantas instituições de interesse público entidades adequadas para essa divulgação?

E, a este propósito, não reconsiderará o Governo, que está com a mão na massa, ou seja na Lei de Meios (risos), quanto à conveniência de ampliar de novo a divulgação do que nesta Assembleia se trate, para mais justo e suficiente conhecimento do público? A lição do passado próximo deve tê-lo esclarecido assaz de quanto tudo que aqui se disser e malèvolamente possa ser aproveitado em desfavor da situação política será desvirtuadamente recortado, coligido e publicado em tempo útil.

Em contrapartida, o público não tem fácil, à mão, os textos íntegros, que seriam implícitos desmentidos de tendenciosos recortes.

Ergo a doutrina constante da sugestão do Sr. Deputado António Soveral a este: propósito e outras opiniões já aqui manifestadas no mesmo sentido não podem deixar de ter o meu aplauso.

E, Sr. Presidente, passemos a concretizar as nossas observações concernentes a algumas rubricas da proposta marcadamente agrícolas.

Em contraste com o I Plano, neste II já se vê figurar a lavoura em digno nível de investimentos.

De resto, esse relegar-se este fundamental ramo da produção para II Plano explicava-se um pouco no I Plano pela impreparação de trabalhos preliminares indispensáveis e pela urgência dos investimentos na energia eléctrica, prementes até para ulteriores largos investimentos aproveitáveis pela lavoura.

Consolem-nos assim as perspectivas deste Plano das águas passadas que já não podem moer.

É de aceitar, em princípio, tudo quanto criteriosamente se investir em matéria de investigação e experimentação agrícola e pecuária e outro tanto para a multiplicação de escolas técnicas e de instrução primária, de orientação rural - aqui vão os meus cumprimentos a S. Exa. o Ministro da Educação Nacional, que ousou abrir horizontes de realização prática neste sentido. Para uma reactivação da vida rural serão sempre de natureza cultural e espiritual os seus melhores impulsionadores. Ao princípio era o verbo.

E passemos ao capítulo da hidráulica agrícola.

Propõe-se o Plano promover largamente a conversão do sequeiro em regadio; que tenha, em consequência, o Alentejo a precedência, é natural, e que lhe seja destinado um investimento de perto de l milhão de contos, compreensível. Parece-nos, no entanto, bem pertinente a sugestão da Câmara Corporativa no sentido de que sejam, de preferência, ultimados os aproveitamentos começados, a abrirem-se novos trabalhos.

O problema da irrigação transtagana já foi aqui também sabiamente versado por vários ilustres oradores, de que me ocorre lembrar os Srs. Nunes Mexia, Amaral Neto, Melo Machado e Araújo Correia. Divergem apenas em aspecto relativamente secundário, sobretudo se os aproveitamentos a preferir de início sejam os mais rendáveis, por já mais dispostos a receber água imediatamente, ou não. Neste particular se podem invocar contra e pró o exemplo da Idanha e o da veiga de Chaves, Res inter alios; com insuficiente conhecimento das coisas, evitarei discuti-las. Decerto que o Conselho Económico e o Governo ponderarão como merecem as respectivas dialécticas, e presto a minha inteira aprovação a tal investimento.

A lição da Idanha nos ensina, e por isso me nào parece excessivamente cara, que o problema da irrigação não pode ser simples problema técnico de barragens e canais, com a imediata rentabilidade e complemento fiscal, mas que é um problema muito complexo