referência especial é devida ainda aos Srs. Ministros das Obras Públicas e das Finanças pelos valiosos contribui os que deram ao Plano e ficam a traduzir-se em estudos de viuvado mérito, o que muito me apraz salientar, embora com pesar, por não terem tido melhor resultado alguns dos trabalhos preparados pelo Ministério das Obras Públicas.

Posto isto -estas merecidas e indispensáveis referências-, ocupar-me-ei do condicionalismo de ambiento e da finalidade social de que tem necessariamente de revestir-se a execução do Plano de Fomento.

Já tive ocasião de afirmar e repetir nesta Gamara que a tarefa do desenvolvimento económico não é apenas uma obra de governo, pois exige a compreensão activa, a adesão consciente de todos os portugueses. Careço, assim, de um ambiente próprio, o que supõe uma campanha activa o constante de esclarecimento das inteligências, de solicitarão das vontades, de adesão dos sentimentos dos Portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Creio haver-se já perdido tempo neste particular, assim como estranho que durante período recente e triste tivesse havido algum esquecimento a este respeito, certamente involuntário, mas a dar a medida da campanha a fazer, inclusive junto de muitos que seria de esperar manifestassem maior compreensão de quanto é mister fazer seriamente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Esperamos, porém, que possa remediar-se a falta, tomando o tema e fazendo-o viver na consciência do País, e que a Administração, com a indispensável colaboração dos meios de informação, consiga criar um ambiente colectivo e o conhecimento individual bastantes pura que a Nação o tenha como seu, como meio de satisfazer os seus anseios, e lhe empreste a valiosa e indispensável cooperação, para benefício de todos e engrandecimento da nossa terra.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Neste domínio temos, porém, de reconhecer, realistamente, que algo falta fazer, que é necessário, não só afastar ràpidamente as nuvens que apareceram no horizonte com a última campanha eleitoral, como desfazer alguns motivos de desconfiança, certas manifestações de ressentimento e determinadas razões de tensão social, e ainda criar um clima novo, com mais idealismo o novos motivos de adesão da consciência doa Portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E não se julgue que dar agora o pilo e a justiça que, porventura, foram demorados será, necessariamente, creditado a uma política, porque bem poderá ser-lhe debitado, se antes se não criar o indispensável clima, se não se construírem novos motivos de adesão.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Outro condicionalismo, aliás muito imbricado com o anterior, é o sentido e finalidade social em que devem traduzir-se os resultados do Plano.

Não podemos ignorar o ambiente que desde há anos. a pouco e pouco, vem adensando-se no País a este respeito. Para mim a questão não é nova, mas pode bem tê-lo sido para alguns. Confiemos, todavia, em que tenha sido perceptível a todos.

É indispensável que os resultados do Plano não sirvam apenas alguns, mas todos; é indispensável que o Plano venha a propiciar a todos os portugueses, especialmente aos mais desafortunados, os benefícios que permite esperar.

A finalidade de distribuir mais justamente a riqueza criada, quando não for possível melhorar a sua posse; de limitar os usos e abusos de uns afloramentos capitalistas, já fora de estação; de combater as ostentações, nem sempre raras, que ferem a modéstia e criam escândalo público; de distribuir anais igualmente os bens produzidos, tem de constituir na execução, tal como representa no Plano, um objectivo constante, persistentemente- seguido, perseverantemente defendido, se quisermos que os Portugueses acreditem nos seus benefícios, confiem no seu resultado e ...cooperem na sua execução.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: -Esta atitude -determinante do clima propício -, que é tanto uma necessidade política como uma exigência da economia, tara de resultar, não só do medidas gerais, algumas das quais breve ficaremos a dever ao Sr. Ministro das Finanças, como da acção de cada dia, porquanto o dirigismo económico tanto pode servir para corrigir como para agravar defeitos. Se quisermos a adesão da juventude e a confiança dos Portugueses teremos de agir decididamente neste campo, porque à indiferença de uns já se soma a descrença de muitos, e até o desespero de não poucos.

A preocupação social, que representou sempre para mim e para os da minha geração a essência do regime e a sua maior razão de ser constitui hoje absorvente, quando não desesperada, preocupação das camadas novas. É, pois, indispensável que, libertos das influências de quantos tiveram artes de a ensombrar ou, mais ou menos discretamente, combater, retome a posição cimeira que lhe é devida, retorne a ser a aresta viva das nossas preocupações, de novo constitua bandeira, ideal e fim de uma revolução que é mister cumprir.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E não se julgue quo o tempo sobra ... Os ressentimentos acumulados já são alguns, as tensões sociais criadas podem levai do desespero à subversão se a acção não for rápida, enérgica e firme, doa a quem doer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -E não esqueçamos o aviso, velho de séculos, de Aristóteles (Política, capítulo XIX):

É um erro, que até estas constituições aristocráticas não ocultam, dar indefinidamente mais aos ricos e demasiado pouco ao povo.