Talvez pudesse ser uma solução, no papel ou no pensamento de quem planeia ou tem de justificar; mas seria realmente? Decididamente que não.

Dou a palavra ainda a Manuel Torres. Diz ele:

O problema é complexo e difícil e, sobretudo, não pode regulamentar-se facilmente, porque isso implica algo. assim como pôr portas ao campo. Os agricultores cultivam aquilo que lhes interessa cultivar, digam o que disserem os planos do Estado, e interessa-lhes cultivar aqueles produtos em que obtenham um maior rendimento. Qualquer intervenção que coarcte a liberdade do agricultor para plantar o que quiser é desaconselhável, porque resulta altamente impopular.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Que quererão cultivar os nossos agricultores? Que interessaria mais cultivar aos nossos agricultores? Quais serão os «custos de oportunidade» cias culturas possíveis? Dispenso-me de dar resposta.

Vamos regar o Alentejo? Certamente que teremos de regar a terra alentejana. Mas vamos regá-la quando e em que conjuntura?

Agora e nas actuais condições, certamente que não. De resto, se entre nós não é, presentemente, de temer ou recear que a produção não corresponda e exceda até as solicitações do mercado, seria prudente e assisado promover aumentos de produções já excedentárias, conhecida a escassa elasticidade da procura, tanto relativamente ao preço como ao rendimento, criando, assim, terríveis problemas económico-sociais à zona do litoral (milho, batata e arroz) e à serrana (milho e batata), principalmente onde o povoamento é mais denso, e que não poderiam competir com a produção mecanizada do Sul? Só não responderá negativamente quem não reflectir no problem

Bem sei que isso poderia trazer um aumento da produtividade agrícola, que teremos de procurar. Mas com que sacrifício e por que preço a alcançaríamos?

Seria o mesmo que, de um momento para o outro, racionalizar e mecanizar até ao extremo da automação, por exemplo, a nossa indústria de lanifícios ou algodões, despedindo ainda, de um dia para o outro, algumas dezenas de milhares de operários, cujo sustento passaria a constituir por algum tempo encargo da colectividade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E depois, se queremos minorar a surte da nossa difícil vida agrícola, deixemos, sem receio nem temor, que sejam os estímulos do mercado a solicitar a oferta, e não esta a aviltar mais e mais os já deteriorados preços agrícolas.

Vozes: - Muito bem. muito bem!

Chamou a si a solução do problema e procurou obte-la pulos meios ao seu alcance: a construção de obras que ocupassem os desempregados. Em grande parte por essa firme e decidida acção, em parte também pelo decorrer do tempo, que tudo altera, o problema deixou de estar na ordem do dia das preocupações gerais. Rasgaram-se estradas, fizeram-se diversos melhoramentos, até com prejuízo do resto do Puís, mas ocupou-se a maior parte dos homens desempregados.

Todavia, a solução não podia ser definitiva - acabaria por não haver mais estradas para abrir - e, fora aquilo que o tempo tivesse podido fazer, continuaria o problema a existir com o mesmo cariz e renovada gravidade. Era necessária uma solução de fundo que ocupasse a gente desocupada, que assegurasse trabalho e pão a todos os desempregados o subempregados.

Dentro da esfera de competência do Ministro das Obras Públicas, o único caminho possível era precisamente o de rega, que, aliás, podia ter muitas outras justificações. E tanto bastou para que devotadamente se partisse em demanda do seu estudo, corrigindo processos que já haviam dado os seus resultados. E eis que surge o Plano. E se o Alentejo não fizesse parte de Portugal o problema estaria resolvido.

Assim, surgem to ida s as questões de coordenação metropolitana e ultramarina a anular esperanças e propósitos que só devemos louvar. Lamento sinceramente que a intenção e o propósito, que devem merecer a nossa simpatia e respeito, não possam ter melhores perspectivas, tanto mais que o problema que visava resolver-se existe em boa parte e, portanto, subsistirá. Cuido, porém, ser possível encontrar para ele soluções diversas, mais rápidas e mais adequadas.

Entretanto felicitemos o Sr. Ministro das Obras Públicas por mais esta preocupação de bem servir e resolver os problemas que alguma vez caem sob a sua esfera de acção.

Vozes: - Muito bem!

aspecto julgo poder encontrar-se solução justa alterando as percentagens de comparticipação a conceder pura baixo -se possível- e para cima do nível actual, mas sempre em razão inversa das disponibilidades das diferentes câmaras municipais.

Vozes: - Muito bem !