tão grande me parece ser a importância de que se reveste.

Com efeito, há presentemente pendentes de comparticipação perto de oito centenas de pedidos para abastecimento de água, de que uma boa parte tem quase dez anos e cujo valor deve orçar pelas seis centenas de milhares de contos.

O número de povoações que não têm ainda abastecimento de água satisfatório - e escuso de encarecer a sua importância e premência - excede os vinte e seis milhares, em pouco mais de três dúzias de milhares, das quais mais de onze milhares, ou sejam 60 por cento, com mais de 100 habitantes e dezena e meia de milhar, ou sejam 80 por cento, com menos de 100 habitantes.

E nem vale apena calcular o tempo que demoraria a satisfazer, no ritmo actual, esta necessidade essencial, porque dificilmente poderia ser observado pelos nossos netos. Todavia, é quase metade da população metropolitana que está em causa e cuja saúde, higiene e conforto exigem uma acção enérgica, decidida, como só um Plano de Fomento pode assegurar. Se quisermos travar o fenómeno migratório teremos que oferecer condições de vida decentes às populações rurais, que não podem continuar a carecer, inclusive, de água capaz para beberem.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não vou ao ponto de considerar que se atenda, nas obras de abastecimento de água a efectuar, não só ao consumo das populações, mas também às necessidades da pequena rega de hortas e pomares. Seria ideal, mas creio não ser essencial. Primeiro vamos assegurar água capaz a quem a não tem.

A inclusão dos abastecimentos de água às populações rurais no Plano de Fomento parece-me, assim, perfeitamente justificada e indispensável.

Como processo de execução dessa tarefa afigura-se-me aconselhável um sistema idêntico ao preconizado para aã estradas municipais, ou seja comparticipações segundo percentagem inversa das possibilidades dos diferentes municípios, de nível superior ao actual para a maioria, e concessão de amplas possibilidades de efectivação da obra com a cooperação das populações interessadas pelo processo da administração directa.

Se o Governo vier a satisfazer este apelo da Câmara mostrará uma elevada compreensão das ansiedades do País e promo verá a realização de uma das tarefas primaciais da vida bem pouco confortável da nossa admirável gente do campo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Para finalizar, queria deixar também algumas notas sobre o problema do desenvolvimento económico regional, especialmente sob o ângulo da localização industrial.

O problema já foi abordado por diversa? vezes nesta Assembleia, permitindo-me destacar as achegas que os nossos ilustres colegas engenheiro Araújo Correia e Dr. João Rosas trouxeram à compreensão, esclarecimento e importância do problema.

Julgo que bastará atentar nas consequências da fortíssima concentração industrial à volta de Lisboa, no crescimento da nossa capital, para ter a noção de que estamos a repetir o que outros estão, de há já anos, a tentar remediar.

Por que não aprender com a experiência alheia, extrair dela as lições que comporte e evitar a repetição dos mesmos erros?

Por estranho que pareça, não consigo resposta coerente para esta interrogação. Razões, causas, explicações para o fenómeno, podem apresentar-se muitas; justificação é que cuido não haver nenhuma.

A e xtensão do fenómeno medir-se-á, talvez, pela razão entre a população da área de Lisboa e a do País, que, a manter-se s ritmo actual. breve estará num oitavo! Se a esta concentração urbana e industrial juntarmos a da área da cidade do Porto, chegamos a números assustadores, mas conhecidos.

Entretanto, despovoam-se as regiões do interior, diminuem as possibilidades de desenvolvimento dessas zonas, caminha-se para o irremediável.

Se Gravier escrevesse sobre este problema em Portugal certamente- teria reservado o titulo do seu livro Paris e o Deserto Francês para nós outros e procurado um diferente para o caso do seu país.

Esta situação carece de ser enfrentada sem detença nem rodeios, se quisermos salvar a vida da nossa província, evitar os já bem conhecidos problemas próprios das grandes concentrações humanas, permitir que se abra um caminho ao nosso progresso agrícola, enfim, fazer com que Portugal seja todo o território, e não apenas uma pequena faixa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se pode haver dificuldades sérias para uma disseminação industrial, o mesmo não acontecerá se forem preparados entre meia dúzia a uma dezena de pólos de desenvolvimento, cujas infra-estruturas podem ser completadas com certa brevidade e donde viriam a irradiar as novas unidades industriais que o nosso progresso vá fazendo nascer dia após dia.

Julgo mesmo que atingimos um ponto tal que não dispensará já a transferência de algumas das indústrias social e economicamente mal situadas e, ainda, à margem de todas as regras da higiene e segurança públicas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Isto porque da localização de algumas dependerá a situação de muitas outras, como ocorre com a nossa refinaria de petróleos e vai acontecer com a siderurgia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Razões políticas, sociais e económicas impõem uma acção rápida e enérgica, a que se opõem a comodidade das administrações e dos administradores, as conveniências da distribuição - coisas de bem pouca monta quando está em causa o interesse da Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!