inigualável sentido e rara beleza, generoso fruto de génio ou de talento bem reconhecido.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Sr. Presidente: o que acabo de dizer é prova eloquente da grandeza de que se tem revestido a vida cultural do Porto, grandeza que se continua, e dos altos valores que tem produzido no vasto campo da cultura.

Assim o exigem as figuras do passado, cuja herança transmitida à mocidade de hoje é incentivo forte, marcando caminho que temos de prosseguir.

Mas voltemos, Sr. Presidente, ao problema-base da nossa intervenção, relacionando-o com os números e olhando e interpretando com verdade o mapa de frequência das três Faculdades de Letras, existentes então no nosso país, nos anos decorridos desde 1919-1920 a 1930-1931.

A Faculdade de Letras do Porto, criada pela Lei n.º 861, de 27 de Agosto de 1919, teve até 1928, ano em que foi extinta por decreto de 14 de Abril, uma frequência que totalizou 951 alunos, sendo a frequência da de Coimbra de 953 e a de Lisboa de l 751.

A consulta do mapa que aqui apresentamos assim o demonstra, verificando-se ser sensivelmente igual a frequência respeitante a Coimbra e ao Porto, superiorizando-se em muito a frequência de Lisboa, o que facilmente se compreende e justifica.

(Ver tabela na imagem)

O confronto é claro, elucidativo na eloquência que os números nos fornecem, indicativo da demonstração dos altos serviços prestados à cultura pela Faculdade de Letras do Porto.

Hoje a frequência na Faculdade de Lisboa é extraordinariamente numerosa, tendo sofrido nos últimos anos um acréscimo tal que se torna difícil administração do ensino, o mesmo se dando com a de Coimbra, embora em escala mais reduzida. Quer dizer, uma e outra sofrem duma lotação excessiva. E, caso notável, são presentemente as secções de Ciências Históricas e Ciências Filosóficas aquelas que possuem maior número de alunos, o que aconselha e justifica o seu desdobramento, criando na Universidade do Porto essas secções e completando-se assim o quadro de estudos de ensino superior nessa Universidade, cuja falta é profundamente sentida nos meios culturais do Norte do País.

O Sr. Américo Ramalho: - V. Ex.ª dá-me licença?

É apenas para prestar um pequeno esclarecimento e dizer a V. Ex.ª que a secção mais frequentada na Faculdade de Letras é a de Filologia Germânica.

O Orador:- Muito obrigado!

Para atenuar em parte a falta de tão importante organismo, donde saíram valores que tanto enobreceram e honraram a Faculdade que os formou, criou o Instituto de Alta Cultura, com a colaboração técnica e económica da Câmara Municipal, o Centro de Estudos Humanísticos, anexo à Universidade, dando assim satisfação parcial às legítimas aspirações culturais e espirituais da cidade, aspirações bem compreendidas e sempre defendidas pelo seu corpo universitário.

É de inteira justiça afirmar ter sido brilhante e generosa a sua actividade, não poupando esforços para manter em alto nível todos quantos, libertos de interesse, abnegadamente fiéis ao seu pensamento educativo de valorização do espirito, ali exercem uma missão digna de admiração e do apreço bem ganho e bem merecido.

É seu director o Prof. Luís de Pina, cuja acção é justamente exaltada pelo que representa de amor à cultura e à cidade que tanto lhe deve, divida que os sentimentos do P orto lhe terão de pagar em data próxima, de acordo com o valor que se encerra.

Desempenha as funções de secretário o Dr. António Cruz, homem de letras tão conhecido e admirado pela sua devoção às grandes tarefas do espírito.

A sua frequência é-nos dada pelo mapa aqui apresentado, com o número de alunos inscritos desde 1947 a 1956, atingindo o seu total 2316, dos quais 455 são estudantes universitários, o que bem demonstra o vivo interesse que a gente do Porto tem pela cultura clássica humanística.

E é facto de admiração não habilitarem os cursos do Centro para o desempenho ilegal de qualquer cargo ou função. Ao lado da função inteiramente clássica da cultura ali ministrada são mantidos estudos que particularmente interessam a cultura portuguesa. A revista Studium General, editada pelo Centro, é arquivo fiel do generoso trabalho ali desenvolvido, quer pelos seus professores e investigadores, quer por humanistas categorizados, nacionais e estrangeiros, versando os temas mais variados e escolhidos dentro de programas estabelecidos com o maior rigor cientifico e pedagógico.

(Ver tabela na imagem)

(a) O aumento extraordinário de inscrições neste ano foi devido no facto de tarem começado a funcionar dois cursos de Língua Alemã.

O que se passa com o Centro de Estudos Humauísticos e o sucedido com a extinta Faculdade de Letras, exercendo os dois institutos uma actividade cultural de tão grande e reconhecida utilidade, proporcionando à mocidade que o frequenta, em tão grande número, a aquisição de uma sólida cultura, que, dentro da feição clássica, interessa especialmente a cultura portuguesa, é razão forte, prova eloquente e clara de que o Porto necessita possuir uma escola superior para estudo das humanidades.