que não é lícito, ao mínimo, isentarmo-nos das responsabilidades morais e políticas que cabem à Representação Nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Pessoalmente, estimo muito a oportunidade que me é dada para dizer, de viva voz, quanto em mim vai.

Os que em Portugal prezamos o amor da verdade e temos o culto da justiça pode ser que algum dia sejamos trazidos L barra da história para que se averigúe das nossas razões, dos nossos cometimentos e da pureza das nossas almas, e assim nos submetamos ao seu juízo imparcial e definitivo. Dir-se-á então, público e raso, quem fomos e como vivemos e agimos. A história é fonte de direito e também pode ser que as nossas ideias e nossos procedimentos venham a constituir-se como um corpo de normas de conduta justa, tão apreciável ao muitos tenham de seguir e utilizar. Tudo é falível sobre a Terra; só o não é o aceno de Deus e a Sua palavra. Os homens e as instituições são precários por sua própria natureza, mas enquanto demoramos aqui em baixo saiba o nosso livre alvedrio escolher e representar-se nas pessoas e nos bens de menor caducidade.

Sr. Presidente: a memória já não a tenho muito feliz e pronta, como homem da minha idade, mas por condição elementar de nossa natureza começo a lembrar-me de coifas e de factos quase remotos com insistência, que põe um travo amargo em tais reminiscências.

Não quero fazer dessas lembranças nenhuma condição de menosprezo ou de discórdia, mas a justiça fala em min como em homem de 60 anos, que viveu conscientemente meio século, pelo menos, de vida portuguesa. E não só viveu, mas lutou quanto em si coube e luta:- á quanto puder, já que a mão estendida e a pedra na funda parece alvejarem a nossa face e a nossa cabeça, sem respeito e sem cerimónia.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

e não sei de época nenhuma em que se haja assistido a mutações tão bruscas nos mais variados aspectos da vida quotidiana.

Porém, a nossa vida não é exclusivamente o resultado dos elementos materiais de que se prevalece e alcança, per muito que todos eles soframos como imposição de realidades políticas e económicas. O espírito, que é ágil e pronto, sem descuidar essas realidades procura apesar do tudo elevar-se e soerguer-se às contingências materiais e busca reencontrar sempre as linhas essenciais de que se alimenta, as vivências que se prendem ao eterno absoluto.

Nem só de pão vive o homem, por certo é mais importante saber como o adquire e o abençoa.

A fome que se vê no mundo já não é, como outrora, do pão que as lágrimas reclamam, mas é a miséria do vazio da alma, a pobreza inerme dos que deixaram de amar e de rezar em tempo rasgado de dor e consumido de tentação. E ver a gente alguns, que vieram ao mundo com missão de o purificar com o sal da vida eterna, and arem pasmados no mar insosso em que não só se perdem, porque perdem muitos, é de confranger e reprovar com ímpeto.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nesta hora torva e insegura, que lançou sobre o mundo tantas sombras e tantas quezílias, é todavia reconfortante pensar que neste pequeno país do Ocidente está e permanece, na confiança de si mesma e de nós todos, a inatacável figura insigne que os tempos não alteram nem os temporais abalam.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Está e permanece, porque a virtude impõe-se e fala eloquentemente à razão e ao discernimento.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A Câmara recorda-se, por certo, destas palavras que vou citar: ... o Chefe do Governo não corre, não foge, não agrava, não transige, procura a justiça e o bem do povo». Quem há ai que o duvide? Quem há aí que o contradiga?

A verdade, que é sumo bem para as consciências impoluídas, obriga a confessar que tais palavras, bastantes anos depois de pronunciadas, não sofrem despique nem contradita, pois os actos as corroboram e justificam com alvinitente firmeza e insuprível constância.

O mesmo homem, obediente à voz profunda da sua mesma consciência, não corre, não foge, está e permanece, queima-se na luz da sua própria razão, e diz ao mundo que vale a pena viver assim, sacrificado pela justiça e pelo bem que se deve ao povo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - No dia memorável de Julho de 1932 em que o Doutor Salazar assumiu a plenitude da condução da vida pública, quem desde longo o conhecia podia avaliar com clarividência que em suas palavras não se continha a revelação de uma personalidade nova, mas se reafirmava então o homem de sempre, aquele que na cátedra e no gabinete das Finanças fora exemplarmente austero nos seus juízos, dignamente sincero nas suas apreciações e, na sua inteligência, finamente sensível ao bem comum.

Os anos que tem passado, cheios de mil dificuldades e rumorosos de males que afligem e achacam gravemente a consciência europeia e universal, permitiram ao homem de sempre ganhar à face do mundo, pela elevação do pensamento e pela contensão espiritual, uma indisputável ascendência entre os condutores de nações dos tempos modernos, e dar-nos a garantia de que a sua palavra de ordem tem sido da mais oportuna exacção e da mais segura realidade política nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nós, infelizmente, não somos um povo de forte consciência cívica, nem de esclarecida formação religiosa, pois se o fôramos havíamos de saber com nitidez ficar indiferentes às seduções dos adivinhos de