homem que vai ao leme não se altera, não teme, não se agasta.

A sua firmeza, serenidade e perseverança nascem da alta compreensão do seu dever, da firme consciência da missão que o transcende e depura as suas nobres qualidades.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A sua constância vigilante e a pureza do sacrifício brotam-lhe da alma como virtude e ponto de honra. No seu lugar, é intocável. Na sua hora vai confiado, está e permanece.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Um dia, na Grécia antiga, um cidadão anónimo aproximam-se do mentor da cidade e rematou a sua fala assim: «Tu nem sempre me deste tudo aquilo que eu desejava, mas leio na tua alma, e também vejo a tua clâmide, que está imaculada. Luta pelo povo, que sempre te seguirei».

Cansado, o cidadão ateniense? A felicidade, já um poeta o disse, nunca a pomos onde nós estamos.

Sr. Presidente: que a Câmara me perdoe se usei de linguagem por de mais simbólica, mas Deus me é testemunha e também me perdoará, porque em meu coração não sofro o negro pecado da feia ingratidão.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados: já ontem, na Emissora Nacional, tive ensejo de prestar perante o Pais o meu depoimento e a minha homenagem ao Sr. Presidente do Conselho, ao termo de trinta e um anos de governo, em breves palavras que serão transcritas no Diário doa Sessões de hoje, já que foram proferidas na qualidade de Presidente da Assembleia Nacional.

Seria redundante, depois disso, e sobretudo depois das orações desta sessão, acrescentar alguma coisa que pudesse avultar a homenagem da Assembleia Nacional. Somente quero afirmar, o alto significado da atitude unânime dos representantes da Nação ao Sr. Presidente do Conselho, pelo que ela traduz de protesto contra a inconsciência de alguns e a ingratidão de outros, e pelo sentimento de justiça ao Homem e à sua obra que resuma das palavras aqui proferidas.

Nesta Casa, onde algumas vezes os actos do Governo têm sido objecto de análise severa e de viva discordância, não há ninguém que não reconheça que acima das nossas críticas e nossas discordâncias para sempre, rodeado do nosso mais profundo respeito, da nossa dedicação e da nossa disciplina, o Sr. Presidente do Conselho.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente:-Esta, uma das lições, e a não menos importante, que se extrai da sessão de hoje, que me apraz salientar. Nesta hora alta do Regime e do Sr. Presidente do Conselho, a Assembleia Nacional pode estar certa de corresponder aos interesses e aos sentimentos da Nação afirmando ao Sr. Presidente do Conselho a sua lealdade inalterável.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - Em manifestação de homenagem ao Sr. Presidente do Conselho, levanto esta sessão.

Amanhã haverá sessão, tendo por ordem do dia a discussão na generalidade da proposta de lei relativa ao plano director do desenvolvimento urbanístico da região e Lisboa.

Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Alberto Carlos de Figueiredo Franco Falcão.

António Calapez Gomes Garcia.

Augusto César Cerqueira Gomes.

Belchior Cardoso da Costa.

João da Assunção da Cunha Valença.

José Gonçalves de Araújo Novo.

Júlio Alberto da Costa Evangelista.

Luís Maria da Silva Lima Faleiro.

Manuel Cerqueira Gomes.

Manuel de Sousa Rosal Júnior.

Manuel Tarujo de Almeida.

Purxotoma Ramanata Quenin.

Simeão Pinto de Mesquita Carvalho Magalhães.

Discurso proferido pelo Sr. Presidente na Emissora Nacional:

Ao cabo de trinta e um anos de governo, apesar dos sacrifícios que teve de impor ao Pais, através das vicissitudes da Europa e do mundo e das graves repercussões na nossa vida interna, por entre os conflitos e os movimentos contraditórios e desconcertantes das ideias e dos interesses, Salazar permanece.

Salazar avulta ainda como símbolo de contradição - de contradição e de esperança, de contradição entre dois mundos: o de um passado longínquo já e estéril e aviltante, o de um presente que ele pacientemente construiu fecundo e digno; o mundo em que se movem e se agitam confusamente todas as ideias de negação moral, de destruição e subversão social, e o mundo dos que sentem as responsabilidades de continuar uma pátria e uma civilização gloriosas; o mundo da violência, da desordem, do esmagamento das consciências e das liberdades; e o da ordem e da paz no trabalho e da defesa das condições de uma vida digna e livre para todos; de esperança: porque, continua a ser nele que o povo português confia a realização dos altos objectivos que a revolução se propôs.

O tempo inexorável que lhe desgastou as forças e a vida nada pode contra a integridade das suas convicções e da sua fé, da sua dedicação e do seu patriotismo. Salazar permanece, com o desespero de alguns, como garantia e esperança da Nação.

Nesta hora alta da sua vida de homem e de governante, ser-lhe-á gratíssimo e à Nação que o acompanhou pensar que não foram vãos os sacrifícios e as esperanças e verificar que nem uns foram inúteis, nem outras foram nem serão fementidas ou frustradas.

Quando reflicto num facto tão extraordinário, no espaço e no tempo, como o da permanência de um homem à frente dos destinos de um povo durante trinta e um anos, sem que nem esse homem nem esse povo se cansem mutuamente, só posso atribui-lo ao mérito do Homem, ao mérito do Povo, às circunstâncias dos tempos. As circunstâncias mudaram, mas as necessidades agravam-se e subsistem.