A estes valores juntar-se-á a produção do Alva (talvez 35 milhões de kilowatts-horas e um possível escalão no Porto de Raiva (no sistema II), cuja produção aumentará de cerca de 40 milhões de kilowatt-hora.

Calcula-se que a energia marginal garantida nas condições actuais pelos sistemas deveria ser superior a 1000 milhões de kilowatts-hora.

Do exposto, poderemos concluir:

1.º Que o rio Mondego tem um valor energético muito' considerável;

2.º Que a irrigação dos campos sairá muito desonerada, dado que a produção de electricidade suportará parte dos encargos dos aproveitamentos.

5.º) ABASTECIMENTO DE ÁGUA. - Projecta-se, a partir das albufeiras do Mondego, abastecer cerca de meio milhão de habitantes, que se distribuem por vinte e um concelhos dos distritos da Guarda, Viseu e Coimbra.

O mapa que se segue indica os concelhos servidos e as albufeiras donde se faz a respectiva derivação das águas:

(Ver tabela na imagem)

Seria, assim, o primeiro grande empreendimento de conjunto a realizar no nosso país, em matéria tão carecida, como é a do conveniente abastecimento de água.

Um esquema integral do Mondego não poderia esquecer ainda outros aspectos, como o da navegação, da criação junto de Coimbra de uma conveniente toalha líquida, do melhoramento sanitário da capital do Mondego, da salinidade do estuário, etc.

Mas o problema que aqui a todos se avantaja é ainda o do porto da Figueira da Foz.

Ás obras previstas para melhorar as condições de acesso e de funcionamento do porto da Figueira são, em suas linhas gerais, segundo informação oficial que me foi facultada: A construção de obras exteriores com vista à melhoria de acessibilidade do passe exterior e do canal que conduzirá às instalações interiores ;

2) A realização de obras acostáveis e outras facilidades portuárias para as actividades comerciais e de pesca que o porto já serve e virá a ser chamado a servir;

3) O arranjo e apetrechamento dos terraplenos existentes e a criar e, bem assim, conexões

Ser estrada e caminhos de ferro com as vias e acesso ao hinterland que o porto serve;

4) A regularização ou correcção da zona fluviomarítima do rio para que adjuve os objectivos referidos na alínea 1).

Creio que a Figueira da Foz deverá vir a constituir o tercei m grande porto do País, elemento de descongestionamento de Lisboa e Leixões. A necessidade de um terceiro porto, a que se refere o parecer das contas públicas de 1957, encontraria na Figueira da Foz uma adequada solução. Do exposto, podemos concluir:

1.º O rio Mondego oferece largas possibilidades n um esquema de planeamento regional;

2.º Esse esquema justifica-se não só pelo indispensável desenvolvimento da respectiva região, como pelo seu valor complementar relativamente a outras regiões do País;

3.º Os múltiplos estudos realizados possibilitam que não se protele a solução deste problema, mas antes animam a que se definam desde já orientações de molde a que no mais curto prazo se passe ao domínio das realidades.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: temos de reconhecer que o urbanismo é uma tarefa complexa, que só pode conceber-se e realizar-se a mediante um trabalho de equipa em que hão- de participar solidariamente o arquitecto e o economista, o engenheiro e o sociólogo, o geógrafo, o agrónomo, o higienista e o assistente social», enfim, uma variedade de técnicos proveniente de todos os sectores onde se revelam preocupações pela organização e defesa da vida em sociedade.

Ora, não obstante esta realidade, ainda aqui persistimos em dar testemunho daquele espírito ostensivamente individualista que pomos nos labores que nos são cometidos. Seria, na verdade, oportuno indagar se nos trabalhos sobre urbanismo levados a cabo entre nós esteve presente esta preocupação de esforço de conjunto. Nem se me afigura difícil relacionar os nossos insuficientes processos de trabalho com o insucesso notório de alguns planos de urbanização, com o coro de críticas que a este propósito se erguem em algumas terras de Portugal.

Se restringirmos os reparos ao sector profissional, talvez não seja descabido considerar o problema da formação dos urbanistas, o seu sentido das realidades e, finalmente, a possibilidade de ampliar discussões públicas como elemento prévio no processo das definições urbanísticas.

Reconhecesse a inexistência de técnicos urbanísticos em Portugal.

Ora, não podemos confiar ao improviso a resolução dos nossos problemas, como não acreditamos, por outro lado, que os homens nascem formados.

A ausência de um instituto superior de urbanismo em Portugal e a remotíssima presença de estudos conexionados com o urbanismo dos nossos esquemas universitários revelam uma fidelidade a cânones arcaicos, incompatível .com as certezas e as necessidades da vida moderna.

Desejo, Sr. Presidente, secundar, deste local, o voto para que se converta em realidade o instituto superior de urbanismo, há tanto tempo previsto mas incompreensivelmente afastado para o domínio das simples aspirações.

Urge dotar o País de técnicos competentes, libertando-o de exclusivismos onerosos ou de amadorismos sempre prejudiciais.

Queixam-se, por outro lado, os povos de que os planos de urbanização concebidos para boa parte das nossas terras vogam muito no mar do ideal, representam, por vezes, um desconhecimento das realidades e possibilidades das regiões.