ter e defender a soberania e segurança contra os perigos que nos possam vir de fora das fronteiras e rondam, em crepitar de incêndio, a paz dos nossos territórios.

Essas declarações revelaram ainda publicamente quanto o Governo conhece dos nossos problemas e dos nossos anseios, tantas vezes trazidos a esta Câmara pela voz dos Deputados eleitos pelo ultramar, e se esforça por remediar, até onde os recursos o consintam, as deficiências, falhas e atrasos que se faz mister corrigir para se realizar em ritmo dos nossos dias a acção civilizadora que nos pertence e de que não abdicamos no cumprimento de um dever e na concretização de um direito, sem carecermos que no-lo recordem certos arautos ou especialistas internacionais de cuja ciência podemos duvidar, já que dúvidas nos não oferecem as suas intenções.

Carecíamos em África de ver definida pela voz autorizada do Chefe do Governo uma directriz de que se não duvidava, mas que se impunha expressar abertamente.

Soberania e segurança são hoje para nós em África factores decisivos na nossa vida, na continuação do nosso labor pacifico de integração indissolúvel de todos os portugueses no agregado nacional.

Soberania e segurança, que a todos nos impõem deveres e que, acima de tudo e para além de divergências momentâneas, haveriam de por todos ser respeitadas, para que se mantenha a continuidade da nossa presença civilizadora.

Soberania e segurança, para cuja defesa teremos que nos sacrificar, e não se aceita que sejam apenas traduzidas pelo desejo de sobreviver para além de outros, uma vez que para nós, Portugueses, tem de pressupor a manutenção imperecível da nossa presença civilizadora e cristã.

Vozes: - Muito bem; muito bem!

O Orador:-Para tal não temos de pedir licença a ninguém, nem o acordo de areópagos internacionais, que nada pode acrescer aos nossos indiscutíveis e inalienáveis direitos, já que dos deveres temos exacta consciência.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Estamos em África desde há séculos, porque a isso temos direito indiscutível, porque isso se nos impõe como dever maior da Nação, que não resulta de arranjos ou de equilibrios da política internacional.

Aquilo é terra nossa, sangue do nosso sangue, como nossas são as gentes e como nossa é ali a alma viva da Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Foram de corajoso desassombro as palavras do Chefe do Governo. Na verdade, não vivemos momento de meias palavras, nem momento em que se possa, ignorar a gravidade dos problemas, mas em que, como o fez o Chefe do Governo, há que enfrentá-los e pô-los perante o conhecimento de todos os portugueses, para mais decididamente se mobilizar a consciência nacional nessa cruzada dos nossos dias de revigoramento da nossa acção ultramarina, que desejamos realizar em paz e em paz esperamos que nos consintam levá-la a cabo.

Não nos falece, porém, o ânimo ou a decisão para enfrentar os problemas no terreno em que nós portugueses, sem orgulhos nem bravatas, que seriam deslocados, podermos sentir que, quando recentemente a África viveu momentos dos mais críticos, nos territórios das nossas grandes províncias africanas se registou exemplo que o Sr. Presidente do Conselho, no seu brilhante discurso, claramente mencionou.

Vivi pessoalmente esses dias nas regiões fronteiriças de Moçambique; tive ensejo de acompanhar o desenrolar dos acontecimentos de um e de outro lado da fronteira e posso afirmar a V. Ex.ª, Sr. Presidente, e à Câmara que do nosso lado a vida permaneceu tranquila, sem um caso que fosse, já não digo de subversão, mas de menos respeito pela autoridade portuguesa. E, ao afirmá-lo, quero destacar que, a par da tranquilidade dos nativos, que nunca deixaram de em tudo respeitar a autoridade portuguesa, se verificou uma calma e serenidade totais da parte dos colonos dessas regiões que a imprensa internacional indicava como perigosamente ameaçadas ...

Continuando dia a dia o seu labor pacifico, todos souberam afirmar, uma vez mais, as características marcadas da presença portuguesa em África, vincando o valor moral de uma fronteira que ao longo de quilómetros apenas se exprime pelo traço da berma de uma estrada.

E trouxeram, assim, ao Mundo um exemplo que com verdade serena pôde ser assinalado.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Mas outro exemplo, ainda, não posso deixar de referir. Como o afirmou o Chefe do Governo, «em África pode perder-se a Europa». Mas, sendo isto certo, eu desejaria acrescentar que para os homens que vivem naquele continente muitas vezes se apresenta bem vivo o risco de que a África se pode perder na Europa.

E resulta isso da incompreensão tantas vezes infelizmente revelada pelos governos metropolitanos que, presentes na Europa e absorvidos ou comandados pelos seus problemas, evidenciam desconhecimento on desinteresse pelas verdadeiras características e grandeza dos problemas que à África respeitam.

No nosso caso, felizmente, revela o Governo exacta consciência das aspirações ultramarinas, das realidades de uma política nacional que não visa domínio hegemónico de raças, mas a estruturação de um conjunto em que todos participem e em que a todos seja possível a ascensão social e humana a que se reconhece direito, na medida em que se revele aptidão para o cumprimento dos deveres decorrentes da própria valorização da pessoa humana.