Sempre com nobreza, mas sentindo-se ferido, Portugal, pela boca de um ilustre general do seu Exército, recusou com altivez as condições vexatórias que nos eram impostas para a concessão desse empréstimo.

Foi este gesto nobre do Exército que nos salvou.

Esta recusa era já um sinal da Providência que nos indicava o caminho da salvação.

A situação interna entretanto agravava-se assustadoramente e principiava já a sentir-se o desânimo, mesmo entre os mais firmes, o esforço ia perder-se e com ele perdia-se o País e o prestígio do seu Exército, última esperança da Nação.

O Sr. Pinto Mesquita: - Muito bem!

O Orador: - A Providência deu-nos o homem próprio para o momento, e hoje, ao fim de trinta e três anos de vigílias continuadas, de renúncia a todas as comodidades, de sacrifícios sem conto, para que não se perdesse o esforço feito, pode afirmar-se que o Exército se encontra perante o País com a mesma tenacidade, a mesma inquebrantável unidade, o mesmo espirito altivo com que venceu em 3 e 7 de Fevereiro, 28 de Julho, 26 de Agosto e 16 de Setembro na Madeira, por toda a parte onde o inimigo se apresentou a querer entravar o ressurgimento da nossa pátria.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- A trinta e três anos da arrancada salvadora é consolador poder afirmar esta verdade.

O exército de hoje, rejuvenescido, sente-se apto a desempenhar a sua missão intrínseca, porque está materialmente apetrechado para ela e os seus quadros instruídos com um escol de competentíssimos oficiais.

Felizmente vai longe o tempo em que a instrução tinha de ser dada com modelos de armas de madeira.

Temos hoje um exército moderno, pronto a colaborar com os poderosos exércitos aliados.

Este exército sabe bem que, sem a administração honesta e firme de um homem superior, que aceitou sacrificar-se totalmente ao País, ele teria saído do movimento de 28 de Maio aniquilado e com ele a Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- E porque tudo assim se passou e a Nação o sentiu, podemos afirmar a esse grande português que pode continuar a sua obra, porque o Exército está com a Nação e que esta, unida, lhe dá o seu apoio.

O Sr. Alberto Cruz: - Muito bem!

O Orador:- Nada poderá dividir-nos, nada poderá quebrar esta unidade.

Todas as arremetidas das forças do mal se hão-de desfazer diante desta barreira.

Temos um património, feito à custa de grandes sacrifícios, que é bem nosso e que temos e havemos de defender.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Partindo do zero, hoje olhamos para o caminho já percorrido e podemos afirmar que não se perdeu o sacrifício dos nossos bravos nem o sangue dos nossos heróis caídos na defesa deste ideal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Aos novos, aos que vieram depois de nós o já não sentiram os momentos gravíssimos do passado

diremos que muito se tem feito para o seu futuro, mas muito há ainda a fazer.

Compreendemos a sua insatisfação, própria da mocidade, por onde nós também passámos.

Também nós estamos insatisfeitos, porque queremos mais e melhor, mas pedimos aos novos que analisem com serenidade, calmamente, a obra já feita e friamente meditem nas palavras com que terminou a sua exposição última o Homem que tem a responsabilidade de toda a obra presente: «a nossa marcha não poderá nunca comportar nem paragens nem regressos-prosseguimos».

Grande lição nos deu este português, que não conhece a palavra «sacrifício». Mas, principalmente, que grande exemplo de fé, de firmeza e confiança para levar por diante a obra que é para todos nós, mas que se destina principalmente a vós, os novos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Sois insatisfeitos, mas o vosso coração não pode deixar de ser grato a quem tanto tem trabalhado para vós.

Quanto ao Exército, olhando o País engrandecido e respeitado, reconhecido por lhe terem sido dados os meios para defender a Pátria, afirma neste momento: obrigado Salazar; com a ajuda de Deus, continuai a vossa obra, que se estende a todo o mundo português, e o seu Exército a saberá defender aqui ou em qualquer parte onde tremular a bandeira das quinas, como símbolo desta querida Pátria.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Proença Duarte. Convido igualmente S. Ex.ª a subir à tribuna.

O Sr. Proença Duarte: - Sr. Presidente e Srs. Deputados : comecei a frequentar esta tribuna há já recuados tempos. A ela subi pela primeira vez no tempo de Sidónio Pais.

Confesso que hoje aqui volto dominado por uma forte emoção, emoção, Sr. Presidente, que emerge da lembrança de tantos que já não vivem e aqui deixaram lugar vazio nesta Assembleia; emerjo ainda da recordação das angústias e anseios que na cidade de Santarém, no dia 28 de Maio, e dentro das possibilidades que eram postas ao meu alcance para lhe prestar auxílio e concordância, tivemos até que se definiu o momento político.

Ainda, Sr. Presidente, o ter de invocar aqui o momento histórico que representa na vida da Nação o 28 de Maio me faz vacilar. Foi, na verdade, um momento histórico da vida da Nação. Por isso, considero imperativo de consciência relembrar aqui essas horas ainda incertas da vitória e prestar homenagem à maioria dos que para ela contribuíram e já não vivem e à fidelidade dos vivos que continuam a lutar pelo triunfo dos princípios que os determinaram.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- E chamo-lhe um momento histórico, Sr. Presidente, porque, na verdade, ele reintegrou a Nação na linha de rumo das suas tradições e da sua vocação histórica. É que as forças da anti-Nação tinham tomado conta do Poder, tinham-no estruturado e exerciam-no no arrepio das virtualidades e dos sentimentos da alma colectiva.