deixa extinguir, não obstante o pouco entusiasmo em que vai a pouco e pouco esmorecendo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-No plano dos estudos secundários Os Lusíadas têm a sua quota-parte de atenção nesse enciclopédico e informe ano quinto do 2.º ciclo liceal, de que bem pouco em geral ficará no gosto e na sabedoria dos alunos, não se vendo razão para supor que seja precisamente Camões quem se salve da voragem desse vulcão do nosso ensino médio.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- E recordo-me Sr. Presidente, já lá vão quase quatro dezenas de anos, de ter assistido à lição inaugural da cadeira de Estudos Camonianos na Faculdade de Letras de Lisboa e de ter ouvido estas palavras, que vou comovidamente lembrar e repetir, ditas então pela voz convencida desse homem bom e sábio que foi o Dr. José Maria Rodrigues:

Arvoremos bem alto Os Lusíadas como lábaro sagrado, em volta do qual se congreguem todos os portugueses de boa vontade; façamos deles a fonte perene onde vamos buscar a energia que torna felizes as nações, por pequenas que sejam; busquemos neles o estimulo contra o desalento, quando virmos prevalecer erros e vícios que nos amesquinhem, nos vexem e possam perder; tornemo-los o ponto de apoio para, com toda a energia da nossa alma, combatermos o bom combate pelo nome e pelo engrandecimento da nossa querida pátria.

Deriva do que fica dito o sagrado dever de fazermos da epopeia camoniana a base da nossa educação nacional; de o desenvolvermos amplamente nos ' institutos secundários, de o aprofundarmos nas Faculdades de Letras, em cursos destinados não só aos alunos destas Faculdades, mas a todos, estudantes e não estudantes, que queiram completar os conhecimentos já adquiridos; de tornarmos, enfim, popular uma obra tão Intimamente ligada com a nossa nacionalidade.

O Sr. Rodrigues Prata: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: talvez tenha acontecido a V. Exa., como a mim me aconteceu, ter ouvido no Brasil, a brasileiros, recitar de cor longos e longos trechos de Os Lusíadas, num grande contentamento pelo que isso significava para eles de louvor a Portugal, de amor ao estudo, de sensibilidade estética, de gosto oratório, de respeito pelo que é puro e belo e exprime valores eternos. Saber de cor é ter no coração, e os brasileiros têm realmente no coração, um culto de Camões, que, no dizer de um deles, é «poeta de Portugal, poeta do Brasil, poeta da Raça».

Nós podemos dizer, em verdade, que o Brasil nos dá lições de amor e de compreensão de Os Lusíadas... e ainda bem que assim é, pelo sinal evidente que ai se encontra de que a robusta juventude da pátria brasileira tomou em «nas poderosas mãos «essa eterna esperança da forte raça a que pertence b ramo luso, eterna esperança, profética e messiânica, a que, no dizer de mestre Teófilo Braga, Camões havia dado imperecível forma capaz de acordar Portugal, em toda a circunstancia, para a consciência da sua autonomia e missão histórica».

Ponho também aqui uma interrogação, a que não sei responder, de qual será, para além da ingente mas frágil miscelânea do plano de estudos escolares, a convivência da nossa juventude do ultramar com a lição eterna e com o fogo vivo. da nossa epopeia nacionalista do nosso poema universal. Não sei responder, mas u pergunta carece efectivamente de uma resposta de acção prática e efectiva.

Lá no ultramar, como aqui na terra metropolitana, ousamos crer que têm mais do mau do que de bom as leituras a que a mocidade agora se dedica e por intermédio das quais aceita sem critério selectivo tudo o que se lhe afigura de moderno e rejeita, depreciativamente, tudo quanto na tradição se firmou com expoente nacional ou universal, más que perante a angústia da nossa época se tornou letra morta e passado extinto e entrou na gíria irónica com o designativo de matéria fóssil.

Sr. Presidente: sirvo-me assim desta oportunidade da comemoração do Dia de Portugal para lançar um apelo veemente e clamoroso que atinja o Governo da Nação, o escol dos nossos intelectuais, as instituições de cultura, os organismos de informação, os responsáveis do ensino e os guias da juventude: não deixemos, não se consinta que pareça haver verdade na afirmação de que Os Lusíadas são de forma inevitável uma obra ideologicamente desactualizada para um leitor moderno. Não estejamos tão fora do mundo, da verdade do espirito que consintamos serem Os Lusíadas não já um eterno tónico da Pátria, mas apenas um remédio de emergência para o nosso patriotismo.

Ó mocidade portuguesa! Relê palavras que foram ditas algures, mas pensadas para ti, pelo Prof. Carneiro Pacheco, fundador da tua organização nacional:

Livro de ouro da raça e do humanismo, incarnando e universalizando o génio português em lições de toda a espécie, poema de heroísmo da juventude de Portugal, em glórias, aspirações, energia cívica e fé, cristalização de renascimento pátrio, tanto no classicismo da linguagem como em pensamento e acção, Os Lusíadas são a fonte viva do novo renascimento português e Camões é o mestre das gerações para o. permanente estado de consciência em que há-de amar e servir a grandeza de Portugal.

Aceita na tua consciência estas palavras, que elas são palavras de verdade e de salvação, ó juventude de Portugal. Não vejas em Os Lusíadas os martírios da gramática a que te sujeitaram, mas absorve neles as essências da grandeza e da universalidade da tua pátria, do homem que é português como tu o és, do homem que ainda hoje tem um poder de expressão literária capaz de simbolizar e de falar em nome do mundo moderno!

Sr. Presidente: quando estivermos amanhã perante o venerando Chefe do Estado a render-lhe as nossas ho-