menagens de veneração e de respeito na «passagem do Dia de Portugal S. Ex.ª há-de gostar que vá convosco este alto e nobre pensamento e às nossas razões de certeza acrescentará mais uma da sua apaixonada predilecção: O» Lusíadas são o cântico da conquista do mar, são a voz nova e hoje eterna da transformação de Portugal num pais de navegadores, e ali bem perto da chamada Praia das Lágrimas o homem do mar que vai de capitão na nau do Estado há-de viver e reviver a glória da Nação a que preside o esforço do povo que representa e os caminhos do futuro que lhe está confiado. No seu coração largo de marinheiro há-de caber com agrado este nosso culto de Camões, o maior cantor do mar de todos os tempos e de todos os idiomas.

E termino, Sr. Presidente, não sem relembrar as palavras por onde principiei, para solicitar-lhe agora que acrescente o vigor da sua autoridade presidencial e o mérito da sua cultura de humanista a este nosso apelo em favor de uma restauração da consciência camoniana, a única que em todas as épocas e circunstâncias sempre se identificou com a própria consciência nacional.

O grande pensador espanhol que se chamou Francisco Rodrigues Marin disse, num dia do ano de 1924, perante os reis de Espanha, as seguintes palavras, cora que deu fim a um discurso sobre Camões:

Senhor! A prosperidade das nações, a altura do nível da sua cultura, têm por principalíssima causa o ideal. Povo sem outro norte que não seja a concepção materialista da vida é povo que perdeu de todo, lamentavelmente, o direito a florescer ou a reflorescer. Ainda se está a tempo. Que não seja tudo consagrado a matéria, que é de si mesma bruta e pouco nobre, mas que por desdita se vai em tais termos assenhoreando do Mundo que nos ameaça, talvez em curto tempo, com o maior dos males e prenúncio certo de ruína espantosa: com o mal da completa anulação da vida do espirito. E ai daqueles, homens e povos, que esquecem ser o espirito o único que nos diferencia dos animais e nos assemelha a Deus!

Isto disse - e com que razão! -, na Espanha de 1924, D. Francisco Rodrigues Marin a propósito de Camões. Não andam longe da mesma intenção as palavras que eu trouxe a esta Camará em louvor e glória de Camões no seu dia comemorativo, que a vontade da Nação quis e muito bem que fosse o Dia de Portugal.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Castilho de Noronha: - Sr. Presidente: ocorre amanhã a data mais festiva do nosso calendário cívico - Dia da Lusitanidade. Dia em que, numa alentadora visão retrospectiva, se revivem as horas mais gloriosas, os anos. mais venturosos, os séculos mais esplendorosos da história de Portugal.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Muito bem!

O Orador:- Dia que terá a sua comemoração votiva aí onde pulse um coração português.

De facto, português que se preze não pode deixar de vibrar de profunda emoção num dia destinado à recordação das glórias que opulentam a história do seu país.

Poucas nações, ia a dizer nenhuma nação, podem rever com tanto orgulho, com tão legítimo desvanecimento, o seu passado como Portugal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Nessa visão do passado açode-lhe ao espirito deslumbrado essa grandiosa cruzada em que o Portugal quinhentista se empenhou de olhos postos no formoso ideal da expansão do seu nome o da civilização cristã.

Perpassa-lhe ante os olhos atónitos essa plêiade, reduzida em número, mas grande pela sua indomável bravura, de valentes e destemidos guerreiros que, em gloriosas arrancadas, operaram prodígios de valor, implantando em continentes distantes, em terras longínquas, a bandeira do Portugal. As conquistas sucediam-se vertiginosamente unias às outras. De triunfo em triunfo, Portugal estendia assombrosamente os seus domínios.

Mas nem o fragor das duras pelejas em que os Portugueses se empenharam os aturdiu, nem o brilho das vitórias lhes turvou a visão a ponto que não apercebessem a caducidade e a instabilidade das conquistas, materiais que não tivessem a valorizá-las a conquista espiritual.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E por isso as terras que os Portugueses conquistam transformam-se em cenários de uma intensa acção missionária exercida por ardorosos apóstolos que, em magníficos gestos de desinteresse e abnegação, se devotaram a causa da cristianização dos novos domínios de Portugal.

Verdade é que no decurso dos tempos muitas dessas terras se desmembraram de Portugal. Mas nem por isso o sen nome caiu ai no esquecimento.

Valha por todos o exemplo do Brasil, desse grande Brasil que Portugal afeiçoou à sua imagem e semelhança, do que resultou essa amorosa comunhão de ideias, de afectos, de sentimentos, culminando na fraterna e indestrutível solidariedade que liga os dois povos.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Camões cantou, em estrofes de ouro, as grandezas de Portugal. Os Lusíadas são o lampadário aceso no altar da Pátria. A luz fulgurante dessa chama surpreende-se, em toda a sua intensidade, a chama do patriotismo que ardia no peito dos valorosos portugueses que dilataram a fé e o império.

Vozes: - Muito bem, muito bem!