diminuído pela manutenção do estado do saúde ou de doença.

Uma e outra são factores básicos de influência decisiva na vida económica e social da população, facto que os economistas no estudo das suas incidências colocam no mais alto lugar pela sua rentabilidade. Impunha-se, pois, a criação do Ministério da Saúde, que marca na vida médica do País o dealbar de um novo período, em que o sacrifício, a inquietação e o desengano se substituem por um clarão da ansiada esperança.

De facto, o fosso que se desenhava e poderia revestir aspectos de lamentável gravidade sumiu-se, para dar lugar a um espírito de indispensável compreensão e útil colaboração, que os médicos nunca negaram, mas do qual eram afastados, num acto de verdadeira e bem patente injustiça. Nunca a classe se negou a trabalhar devidamente pela causa da saúde do povo português, como necessidade pública indispensável à vida, ao bem comum e ao império da justiça social, que a humanidade espera ver um dia rea lizada.

Acima de tudo, o cumprimento do dever era, e continuará a ser sua divisa.

Mas perante a classe iam-se esquecendo aquelas liberdades que são sua pertença, que lhe são próprias, no uso das quais assenta inteiramente a base das suas plenamente justificadas exigências. Pelo Ministério da Saúde vão certamente efectuar-se largas reformas, para as quais foi já pedida a nossa colaboração, colaboração que não podíamos negar, tal é a soma de problemas exigindo o parecer da nossa Ordem. Negá-la seria atraiçoar a nossa missão, esquecendo a alta consideração e o respeito que bem merecidamente devemos ao Sr. Ministro da Saúde e Assistência, pelo valor e vontade já demonstrados, como personalidade detentora de um espírito que se tem afirmado eloquentemente em todas as suas manifestações perante a classe médica, possuindo em larga medida envergadura e coragem para a realização de uma obra a que se vem dedicando com o maior interesse e a que nós, médicos, damos inteiro apoio e franca colaboração.

Sr. Presidente: posto que o Estado haja realizado uma notável obra de assistência médico-social, despendendo vultosas quantias - alguns milhões de contos - na construção de hospitais, sanatórios, dispensários e tantos outros empreendimentos destinados ao mesmo fim, obra a que sempre tenho patenteado, como é de inteira justiça, o mais sincero e caloroso louvor, manda a verdade dizer que para a sua realização esqueceu quase sempre o seu melhor colaborador, o médico, obreiro esforçado e sacrificado no combate permanente contra a doença, vivendo intensamente a vida hospitalar, lutando pelo bem da humanidade no alívio da dor e do sofrimento, jamais se afastando daquele sentimento que o guia e a que cegamente obedece, quer por educação, quer até por instinto.

Medidas e providências de grande amplitude e projecção se impõe na hora que passa: no respeito pela ética profissional ditada pelo estatuto que nos rege e na compensação justamente remuneradora dada ao trabalho daqueles que nunca perderam o assentimento de caridade inerente à profissão que querem exercer com toda a independência.

Esquecemos agravos, ingratidões, injustiças, na tentativa de um aviltamento de

Classe, que repudiamos, exigindo o reconhecimento de direitos a todos quantos praticamos a nobilíssima arte de curar, dentro do maior respeito pela dignidade humana. Nunca os médicos faltaram ao integral cumprimento das suas obrigações, mas querem e exigem o reconhecimento dos seus direitos.

O relatório que a Ordem dos Médicos apresentou ao sr. Presidente do conselho, pelo seu ilustre bastonário, é documento claro no seu conteúdo, demonstrando com toda a eloquência da verdade a situação angustiosa da classe, assoberbada com a responsabilidade do seu intenso labor profissional, mas esquecida e diminuída na sua vida social, relegando-a para um plano de insuficiência e inferioridade, que não se coaduna com o nível que lhe é exigido e lhe é inteiramente devido.