ções talvez haja interesse em desconcentrar o movimento industrial das duas cidades pela criação de um terceiro porto comercial, que permita a fixação de indústrias dependentes ou em estreita dependência de localização próxima do mar.

O problema tem vasto interesse e precisa de estudo.

Em Lisboa, ou dentro da sua área de influência, nas duas margens do Tejo, estão a concentrar-se grandes unidades industriais: as refinarias de petróleo, a siderurgia, os estaleiros, os adubos e outras pequenas e grandes actividades industriais, que vêm trazer novos aspectos ao já difícil problema da urbanização.

Não se viram a tempo as consequências da criação de zonas industriais em redor de Lisboa, e os resultados estão à vista e mais se notarão num próximo futuro, quando já for difícil, se não impossível, neutralizar os seus males ou, pelo menos, atenuar os perigos sociais das grandes concentrações demográficas.

l. Um dos problemas de maior relevo na vida financeira, e até política, de todos os países é o das despesas públicas.

Elas representam uma parcela relevante no produto nacional. Em 1957 o consumo público foi superior a 6 milhões de contos, que se podem comparar com consumos privados daa ordem dos 45 500 000 contos

O consumo público tende a aumentar. Representou em 1957 cerca de 14 por cento do privado.

Cerca de metade das despesas ordinárias é utilizada no pagamento do pessoal do Estado, e se se acrescentar o que é pago por verbas globais e o que corresponde a algumas das dotações, incluídas, por exemplo, nas consignações de receitas, a percentagem ainda sobe.

Assim, a fiscalização das desposas e da eficiência do seu emprego atingiu sempre importância de relevo.

O problema vai-se tomando cada vez mais agudo com o decorrer do tempo.

Com efeito, apesar de esforços em contrário, a influência do Estado na vida económica e social do País me formas diversas em diversos países, em todos conservando aturada vigilância sobre as despesas públicas, com excepção de alguns, que se desinteressam do seu emprego, uma vez autorizada u verba. Entre nós a prática seguida tem sido esta. Cada departamento público é juiz do emprego da verba e da eficiência da sua aplicação.

Na verdade, é difícil vigiar o rendimento da despesa. Hoje mais do que ontem, e amanhã mais do que hoje, a administração do Estado sobrecarrega-se de intrincados problemas técnicos, que requerem a atenção de especialistas. E será difícil e muito delicada a interferência de um organismo como o que se delineou no início da reforma financeira, sobretudo se for lenta e discricionária a sua intervenção.

Mas nem todos os serviços do Estado têm carácter de especialização, nem se toma impossível velar pelo uso de certas verbas orçamentais que porventura não produzem os resultados previstos, nem até se utilizem directamente nos fins a que se destinam. Parece, pois, ser altura de rever um problema que está no fundo da administração pública.

E bera certo que para o resolver será preciso tomar orientação semelhante àquela que foi seguida em 1928, quer dizer, estudar o financiamento no que diz respeito a despesas de cada departamento público, de modo a verificar se há abusos e inutilidade no consumo de despesas e se há falhas, que, por existirem, trazem prejuízos ao Estado e ao público.

Este assunto está na base do melhor emprego dos dinheiros públicos. O período decorrido desde 1928 foi fértil em ensinamentos. Produziram-se algumas reformas úteis e também se insinuaram aqui e além erros e vícios tradicionais, que pareciam ter desaparecido com o impulso inicial da reforma financeira.

Em pareceres anteriores, e entre eles o do ano passado, se fez alusão ao trabalho nos serviços públicos e se indicaram as causas de algumas insuficiências, entre as quais tem importância de relevo a remuneração de certas categorias de pessoal. Também se sugeriu há muitos anos uma reforma da própria organização dos departamentos públicos, com a introdução de métodos modernos de trabalho, que poderiam ter influência no rendimento e na rapidez dos serviços. Este aspecto da vida pública tem sempre importância, mas, na medida em que a vida económica e social se intensificar, essa importância aumenta. O comportamento dos serviços do Estado nas suas relações com o público tem também efeitos políticos. Recentes acontecimentos e queixumes vindos à superfície em todo o País tiveram ou têm em muitos casos origem na sua actuação.

À parte a influência que um bom serviço público, convenientemente orientado, tem nas despesas e no cumprimento dos deveres do Estado, ele pode exercer acção fecunda, pelo exemplo, na actividade privada. Assim, o recrutamento e a orientação e actuação da engrenagem burocrática têm grande projecção na vida do País.

Um estado pode ser politicamente mal conduzido, ter em pouco s anos muitos governos; se tiver serviços convenientemente enquadrados e inteligentemente orientados, os efeitos de desgovernos e de lutas políticas são consideravelmente atenuados. Há exemplos conhecidos deste fenómeno, com projecção surpreendente na actividade económica, que, com aparência de paradoxo, mostra rápido desenvolvimento e até gera progresso sensível nos índices sociais.

Insiste-se novamente sobre a materialização de ideias formuladas neste lugar no passado, tornadas cada vez mais prementes pelo rápido desenvolver da vida económica mundial, na qual teremos de tomar parte, quer queiramos, quer não.