as substituir por uma outra montada em Lisboa, continuando assim a manter-se o erro, tantas vezes combatido, da concentração de grandes indústrias na capital, esquecendo o resto do Pais ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... e, no caso presente, o Porto.

E porque se adopta este procedimento? A resposta, embora em suspenso, não se torna difícil dá-la.

Depois das considerações que acabo de formular, seja-me permitido afirmar perante a Assembleia Nacional, com a sinceridade que caracteriza as minhas atitudes de verdadeiro nacionalista, que não pede licença para o ser, para o demonstrar e para o afirmar, que a hora escolhida para extinguir uma unidade fabril da importância de Fábrica Portuense de Tabacos, há tantos anos pertença do Porto, foi hora mal escolhida, pèssimamente escolhida, por muitos e variados motivos, que são do conhecimento geral. Atirar-se-ão para o desemprego centenas de operários, lançando as suas famílias num estado de tristeza, de miséria e até de revolta, o que é lamentável. Só no equilíbrio do social com o económico se encontra a verdadeira paz.

Não podem resolver-se problemas económicos através do desemprego. E perante a necessidade de dar nova estrutura a certos estabelecimentos torna-se de absoluta urgência a criação de novos meios de actividade e de produção onde haja lugar para muitos elementos, porque, se assim se não fizer, as consequências de semelhante atitude serão fonte permanente de motivos contrariantes da aplicação dos princípios de verdadeira justiça social e humana.

A mão-de-obra é indispensável à vida e o trabalho é um grande sedativo nas inquietantes perturbações sociais, pelos seus benéficos resultados ou efeitos.

Está muito certo, é muito justo e torna-se indispensável criar novos processos industriais através da modernização de velhos maquinismos, de antigos instrumentos. Mas há que pensar antes de mais no futuro daqueles que forçadamente irão para a inactividade, sem trabalho e, portanto, sem o pão de que carecem para manter a sua vida e dos seus familiares. E não é, como já afirmei, repetindo tantas vezes o que tenho dito e ouvido que se faz frente às dificuldades de que se reveste o p roblema social e económico da hora presente, problema que todos sentimos e pretendíamos ver resolvido.

O que se passa com os operários da indústria dos tabacos é eloquente no seu triste significado e nos seus desastrosos efeitos, ao Governo da Nação presto, como sempre tenho feito, a minha melhor homenagem, chamando a sua atenção para este caso, bem demonstrativo de uma injustiça que não deve ser cometida pela empresa arrendatária dos tabacos para com os seus operários.

E hoje, como sempre, deposito inteira confiança na acção esclarecida do Governo, bem atento às necessidades da população e pronto a actuar em favor dos que querem viver e trabalhar com dignidade e com nobreza para bem da Nação.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Simeão Pinto de Mesquita: - Sr. Presidente: Encontrava-me casualmente fora da sala desta Assembleia quando o Sr. Deputado Urgel Horta, acompanhado pelo Sr. Deputado Augusto Simões, dedicaram sentidas palavras à tragédia decorrida na cidade do Porto, desastre que ocasionou a morte de numerosas pessoas, além de bastantes feridos.

Nessas circunstâncias, não pude imediatamente acompanhá-los, solidarizando-me inteiramente com as justíssimas e magoadas palavras que proferiram.

Esta demora permite-me, depois de informado do que disseram e tendo contactado com os outros Deputados eleitos pelo distrito do Porto presentes, vir aqui, em nome deles, fazer nossas as palavras de SS. Ex.as, numa unanimidade perfeita. Isso dispensa-me de longas considerações.

Em todo o caso não posso deixar de marcar aqui a circunstância de que, não sendo estes Srs. Deputados nascidos na cidade do Porto, embora lhe tenham dedicado tão sentidas palavras, eu, como natural da cidade, tenho infância, quero ainda, em meu nome e no dos Deputados pela cidade ferida, fazer nossas as palavras proferidas pelo Sr. Deputado Urgel Horta.

Os votos por ele manifestados, quer no sentido da desolação e da mágoa para com as vítimas dos Guindais, quer no sentido da homenagem à actividade e às iniciativas das autoridades locais para amparar as vítimas de tamanha desgraça, todos esses votos formulamos nós, Deputados pelo Porto!

Agora, mas apenas em meu nome próprio - embora como gestor de negócios também esteja certo de poder fazê-lo em nome destes Deputados-, aproveito o ensejo de marcar aqui estar ainda de acordo com as considerações formuladas pelo Sr. Deputado Urgel Horta quanto ao encerramento da fábrica de tabacos, que na nossa cidade tantos atingiu.

Não percebi se o Sr. Deputado Urgel Horta nas palavras a que me refiro disse que e «felizmente» ou e «infelizmente» não era jurista.

O Sr. Urgel Horta: - Quis dizer apenas que os juristas é que terão de resolver esse caso.

O Orador: - Isto não tem importância senão para acrescentar, com as responsabilidades que tenho de me supor jurista, que as considerações feitas pelo Sr. Deputado Urgel Horta sobre o assunto estão dentro de um são critério jurídico, além de estarem dentro de uma consciência mais ampla, servida pelos grandes princípios cristãos de humanidade.

Nessas condições, dou também inteiramente o meu apoio às considerações de S. Ex.ª

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O orador foi muito cumprimentado.