O Sr. Cerveira Pinto: - Sr. Presidente: venho falar de música. Venho fala r da Orquestra do Conservatório de Música do Porto, agrupamento artístico cuja existência se deve aos melómanos que constituem n respectiva Associação (entre os quais é de justiça destacar, pela sua acção benemérita, a Sr.ª D. Maria Borges), ao Município portuense, no Instituto de Alta Cultura e à Emissora Nacional de Radiodifusão.

Após algumas fases de vária fortuna, n Orquestra do Conservatório de Música do Porto subiu, graças no talento e á tenacidade do maestro Silva Pereira, a um nível artístico tão elevado que, com justiça, se pode considerar lio j e p primeiro agrupamento sinfónico do País.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Da múltipla, intensiva e brilhante actuação da Orquestra e do seu ilustre maestro apenas quero salientar agora um ponto, precisamente aquele que de mais perto toca a minha inteligência e a minha sensibilidade.

Pretendo somente referir-me, Sr. Presidente, nesta minha breve intervenção, aos concertos culturais para a juventude.

Um dos fins que, nos respectivos estatutos, a Associação da Orquestra do Conservatório de Música do Porto a si própria se assinalou consiste na realização de concertos sinfónicos, aos domingos, de manhã.

Ao pretender-se dar realidade a este preceito estatutário, o maestro Silva Pereira quis que estes concertos dominicais fossem exclusivamente dedicados u juventude, sobretudo à juventude escolar do Porto.

Mas para que assim pudesse suceder mister seria que esses concertos fossem inteiramente gratuitos.

Exposta tão bela e generosa ideia, logo ela foi alcançada pela direcção dá Associação da Orquestra e pelas entidades sob cuja égide vive e actua este agrupamento sinfónico.

Verificava- 30, porém, serem incomportáveis para o apertado orçamento da Orquestra os encargos que » os concertos gratuitos fatalmente acarretariam e, por isso, necessário era

director estão a realizar uma acção educativa eminentemente nacional, que, ipor isso mesmo, há-de alastrar ao Puís inteiro.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E, porque esta bela iniciativa partiu do Porto, eu, que fui eleito pelo círculo que tem o velho burgo por cabeça, ao .pedir a palavra V. Ex." apenas quis cumprir o dever honesto de prestar a minha respeitosa homenagem aos que a conceberam e lhe deram vida e fazer que no Diário desta Casa fique memória de tão transcendente sucesso.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Urgel Horta: - Sr. Presidente: na sessão de 11 do mês corrente realizei aqui uma intervenção em que me ocupei, com certa largueza e devidamente documentado, de um problema de alto valor social, económico o até moral, ao qual se havia prendido a minha atenção: o problema do encerramento da fábrica de Xabregas e da Fábrica Portuense do Tabacos, esta, possivelmente, a mais antiga do País, com fundas raízes na vida industrial, social e económica do Porto e do Norte.

Essa intervenção, efectuada dentro do espírito de isenção que sempre e através de tudo orientou as minhas atitudes, sem outro intuito que não fosse o de impedir e obstar à consumação de um facto de perniciosos efeitos e nefastas consequências no meio industrial e operário, contrário a todos os preceitos de justiça social e humanidade, sempre tão defendidas, despertou o mais justificado interesse em diferentes sectores, muito especialmente no Norte do País.

Facilmente se compreende que assim fosse, visto tratar-se do desaparecimento de uma unidade fabril com Larga existência, empregando na sua laboração muitas centenas de operários especializados nas tarefas tabaqueiras, ali ganhando o sustento necessário u manutenção das suas famílias em períodos de actividade constante, que se estendem desde quinze a trinta e cinco anos de bons serviços.

E se o interesse pelas minhas afirmações cansou justificado alarme nos meios indicados, fez-se igualmente sentir na. administração da Companhia Portuguesa de Tabacos, que, numa demonstração de consideração e respeito pela Assembleia Nacional, me procurou, a fim de mu dar explicações sobre o seu pensamento acerca da minha intervenção, considerando-a justa, perfeita e completa, apenas com o senão de lhe atribuir culpas e responsabilidades (pie lhe J ião pertencem.

Nessa conformidade, o administrador - delegado da Companhia Portuguesa de Tabacos, alta figura do regime e personalidade por quem mantenho a mais elevada consideração, teve comigo uma larga entrevista, expondo motivos e razões justificativos da atitude assumida pela Companhia, atitude que, um tanto contrariada., era forçado a tomar por imperativo de razões de Estado defendidas pela legislação posta em vigor polo Governo.

E , nessa ordem de ideias, foi-mo enviada a comunicação que passo a ler, assinada pulo presidente do conselho de administração da Companhia Portuguesa de Tabacos: