que dezoito anos depois foi comparada com outra idêntica, mas sem carpas. Eis os resultados:

As carpas, com as preferências alimentares que lhes são peculiares, destruíram a flora aquática e o fundo ficou praticamente em condições desérticas. Isto conduziu a uma alteração quase total da associação ictiológica primitiva: Cinco espécies, em onze, desapareceram;

b) Apareceram quatro espécies novas;

c) Dos indivíduos pertencentes u antiga associação apenas restam U,5 por cento;

d) Finalmente, na fauna actual quase só há carpas (98,1 por cento).

A biologia das espécies de água doce nas suas relações nutritivas merece uns momentos de atenção.

Na natureza a alimentação realiza-se segundo ordem precisa, que regula-as relações predador - presa , em que intervêm relações de tamanho e de número entre as várias espécies, com as quais se estabelecem nichos alimentares mais ou menos fechados. A truta castanha de Inglaterra come qualquer animal de pequenas dimensões existente no seu habitat; o principal factor limitante nestas formas polífagas é o tamanho da presa. Assim, a truta só come jovens e lagostins de água doce» (espécie que, praticamente, não existe em Portugal), e não os indivíduos mais idosos. Há também peixes de água doce que só comem o crustáceo Gammarus pulez da segunda e terceira muda.

De igual modo, a dependência dos peixes em relação à microfauna e à microflora suscita problemas variados. As águas interiores ocupam espaços limitados pelas margens e pelo fundo, de modo que/as possibilidades aliment ares suo, de maneira paralela, finitas.

O plâncton nutritivo é a massa que satisfaz as exigências de vitalidade do complexo ictiológico - e regula a sua quantidade. Desta maneira, toda a. água interior possui uma capacidade de- alimentação que J lie é característica (com variações anuais por vezes drásticas)e que fixa a população média de peixes e

Esta pobreza de plâncton dulçaquícola é, provavelmente, responsável pela exiguidade de tamanho das nossas espécies (a que se junta a pesca prematura, etc.).

Se se recordar que as carpas e as trutas, mesmo abundantemente alimentadas, levam dois ou três anos para atingir o peso de l' kg, compreende-se a importância fundamental que tem a/riqueza das águas interiores quanto aos outros componentes - dda fauna e da flora

Pelo que diz respeito à reprodução das espécies piscícolas, muitos são os factos que é necessário conhecer e analisar, por via experimental, relacionados com as condições físicas das águas que se pretende repovoar. Por exemplo, o meio exerce influência marcante sobre a postura e a fecundação.

A carpa precisa de uma temperatura ambiente da água de aproximadamente 20ºC para se dar a expulsão dos elementos reprodutores; sem estas condições os ovos entram em necrose no abdómen da fêmea o os ovários regressam. Para a truta o factor primacial é a quantidade de oxigénio dissolvida nu água.

Poderiam citar-se neste sentido muitos outros fenómenos, como os relacionados com a deposição ou flutuação das posturas, nidificação, etc.

E ainda um facto biológico conhecido que uma população excessiva de indivíduos de determinadas espécies ictiológicas provoca o declínio da mesma. A causa pode residir na ausência de depredadores habituais (pobreza faunística do biótopo), que eliminam os indivíduos doentes ou de menor vitalidade. A depuração assim operada impede a propagação de epidemias e dos factores genéticos responsáveis por numerosas anomalias.

A grave poluição das nossas águas interiores, fenómeno de que se ocuparam já largamente alguns dos ilustres Deputados que me precederam na discussão deste projecto do lei, actua directa e indirectamente sobre a fauna ictiológica, neste último caso pela destruição operada na microfauna e na microflora.

A alimentação fundamental de muitas espécies ictiológicas é constituída por vermes, moluscos (com seus ovos e larvas), posturas e girinos de batráquios, larvas de insectos, posturas e alevins de peixes, crustáceos e suas larvas, etc.

É óbvio que o aniquilamento ou rarefacção destes complexos biológicos não pode deixar de ter responsabilidade importante na pobreza ictiológica dos nossos rios.

Perdoem-me VV. Ex.ª se alonguei de mais esta explanação biológica, mas assim era necessário para poder tirar dos factos apontados as conclusões a que eles conduzem.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

A Oradora: Sr. Presidente: do exposto conclui-se que toda a legislação que vise a protecção ou o repovoamento ictiológico das águas interiores terá de comportar, necessariamente, a participação de biologistas especializados na matéria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - Deste modo : o conselho técnico da Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas (base vnr, n.º 3) não pode deixar de incluir um ou mais especialistas em hidrobiologia.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: Igualmente se justifica a presença neste organismo de um representante do Instituto de Biolo-