Howard construiu a sua teoria da cidade-jardim sobre três princípios básicos, ainda hoje válidos em grande parte e, aliás, aplicados praticamente, salvo os ajustamentos derivados de novos condicionalismos: Eliminação da especulação sobre terrenos, que passam a pertencer à comunidade; «Controle» do crescimento e limitação da população, definindo-se os limites do centro urbano por meio de uma «zona verde» circundante, para exploração agrícola, e fixando-se a dimensão da cidade-jardim em 30 000 habitantes;

c) Equilíbrio funcional, estabelecido mediante o estudo das necessárias relações entre a cidade e o campo e dos aspectos mais relevantes da estrutura urbana, designadamente: a residência, o mercado, a indústria, as funções políticas, sociais e espirituais, as diversões, etc.

A concepção de Howard veio a ser concretizada em Inglaterra, primeiro na cidade-jardim de Letchworth e depois na de Welwyn, ambas nos arredores de Londres. Insista-se, porém, em que a teoria da garden-city de Howard não se reporta a uma «cidade com jardins», como alguns erradamente supõem, referindo-se antes a uma «cidade no meio de um jardim» (a zona agrícola circundante), conforme resulta claramente dos princípios antes enunciados.

Outras concepções apareceram ainda, nomeadamente a de Wells (Antedpations), que antevê as futuras cidades disseminadas por extensas regiões urbanizadas. Esta noção pode condensar-se na fórmula «nem cidade nem campo», que, muito mais tarde, o famoso arquitecto Franck Lloyd Wright (The disappearing city) viria a perfilhar e a desenvolver na sua tese de uma broadacre-city, fundada no pressuposto de cada família possuir o seu acre de terreno e que equivaleria, portanto, à disappearing city, isto é, à extinção da realidade urbana tal como a ismo et Aménagement dês Campagnes, Nações Unidas, Novembro 1948, n.º 1). E registe-se, desde já, que a palavra «urbanismo», tantas vezes utilizada para trás na sua acepção inicial do afluxo à cidade e consequente despovoamento rural, aparece agora tomada num sentido diverso e muito mais recente: a ciência das aglomerações urbanas.

Com semelhante significado, embora ainda sem a amplitude e o conteúdo científico que hoje se lhe atribuem, a palavra «urbanismo» foi empregada pela primeira vez em 1910. As considerações anteriores tiveram a intenção principal de destacar uma evolução que chegou até aos nossos dias e culmina no conceito de cidade nova.

Viu-se que a ideia não só é válida e útil para a implantação de aglomerados urbanos inteiramente novos, como também para os já existentes de volume populacional aquém ou além da dimensão óptima. Mas poderá a nova concepção de cidade ter aplicação útil até ao extremo limite doa aglomerados pletóricos, com milhões de habitantes?

Responde-se afirmativamente, sem quaisquer hesitações. E pode corroborar-se a afirmação com o caso típico de Londres e das suas cidades-satélites.

Assente que se impunha o descongestionamento da grande capital, os laboriosos estudos realizados para o efeito concluíram em dois sentidos fundamentais: a criação de cidades-satélites, com o objectivo primacial de transferir pára elas uma grande parte das indústrias que proliferam na periferia e até no interior de Londres, acompanhadas d a respectiva população fabril; a reconstrução de novos bairros da cidade em certas áreas mais devastadas pela última guerra, aplicando-se já a nova concepção das unidades de vizinhança, e bem assim a remodelação de outras zonas urbanas com toda a interferência possível do mesmo princípio urbanístico.

São oito as cidades-satélites de Londres - e já em 1958 o London County Council começou a estudar o estabelecimento de uma nona cidade-, projectadas para um total de 500 000 habitantes, com as respectivas indústrias, e que actualmente estão ainda muito longe desta cifra-limite. Aproveitando-se pequenos ou médios aglomerados populacionais já existentes (entre 5000 e 25 000 habitantes), foi possível delinear as novas cidades com subordinação aos modernos critérios urbanísticos.

Assim, para a implantação da cidade-satélite de Harlow New Town escolheu-se uma região de características rurais, a 30 km de Londres, onde existia já uma pequena vila (com cerca de 5000 habitantes) , em parte aproveitada para o conjunto do novo aglomerado citadino. Planeada para um máximo de 80 000 habitantes (já em 31 de Março de 1958 tinha 41 600) e dividida em seis unidades de vizinhança, cada uma com perca de 15 000 pessoas, tudo ali foi previsto para proporcionar o maior bem-estar da população: delineamento racional das vias de comunicação, consoante o , volume do trânsito, aproveitamento da «cintura verde» para a exploração agrícola, zonas residenciais, localização das indústrias, etc:

A cidade tem o seu town centre, onde se encontram instalados os serviços municipais, bem como as actividades próprias do centro comercial e cultural, além das diversões e de uma zona residencial. Por sua vez, cada unidade de vizinhança (e já funcionam pelo menos três) tem o seu subcentro, próximo da escola primária, onde está localizado o conjunto de lojas indispensável ao abastecimento diário da neighbourhood, e também um centro social.

O Greater London Plan (1944), que propunha a criação de novos aglomerados urbanos à volta de Londres, já não lhes chama cidades-satélites, designação sugestiva que tinha entrado no uso, mas podia deixar a impressão errada de que se tratava de descongestionar a capital mediante a construção de grandes «dormitórios» suburbanos, à semelhança dos que se têm edificado nós arredores de todas as grandes cidades do Mundo.

Para acentuar bem a realidade de verdadeiros centros urbanos autónomos, com população que ali habita e trabalha, a nomenclatura oficial denomina-os hoje pura e simplesmente new towns. E, com efeito, eles constituem, efectivamente, novas cidades, no pleno sig-