timidade - que do empreendimento decorram os esperados frutos: o desenvolvimento económico da região.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Doutra sorte sentir-se-ão os Trasmontanos frustrados e desiludidos nas suas esperanças persistentemente mantidas.

Todos os trasmontanos compreendem que a riqueza que os empreendimentos da poderosa fonte de energia com que a Providencia os dotou sirvam e tenham de servir o País e todos os portugueses, mas não perceberão de maneira nenhuma que os não sirva também e primeiro a eles - aliás os mais carecidos e de há mais tempo!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Utilizar uma das grandes riquezas trasmontanas, a primeira na ordem lógica do desenvolvimento económico, exclusivamente em beneficio directo de outros constituía para eles uma sensação de exploração colonial, que já nem em África se pratica, que só no Leste europeu se usa. Seria escamotear as suas esperanças, roubar as suas possibilidades, condenar o seu futuro.

Acontecerá que o destino seja irónico a ponto de criar sentimentos de revolta contra uma exploração colonial naqueles que, pela falta de condições de vida, mantêm mais vivo do que ninguém o espirito de colonização e vêm praticando-a em maior percentagem de que quaisquer outros? Acontecerá?

Carecemos urgentemente que indústrias se localizem na região, aproveitando as possibilidades da energia, o que para o homem da rua parece sensato e requerido por princípios de elementar economia.

Disse elementar economia porque a alta, às vezes, pretende demonstrar-nos o contrário.

Carecemos imediatamente de luz nas nossas terras e energia em condições de se poder utilizar, não vá acontecer que, pelo facto de o Douro estar ali mesmo ao lado e produzir a energia mais barata, por espirito de geometrismo estreito ou tecnicismo desligado das realidades, precisamente por isso, seja negada à maior parte a utilização teórica, pela falta de rede de distribuição, e a todos a utilização prática, pela usura dos preços.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Até agora assim acontece e nada prenuncia que seja diferente no futuro próximo. Porquê?

Sr. Presidente: o distrito de Bragança viveu dias de festa com a inauguração da barragem do Picote e o anúncio do adiantamento dos trabalhos do aproveitamento de Miranda.

Pelo que se refere ao de Bemposta, nada sabemos, mas algo nos inquieta. Não virá a acontecer que a execução desta obra seja preterida, ao contrário do que se previa no Plano de Fomento tal como foi elaborado pelo Governo?

A quem não tenha receio de se afogar em energia, tanto por conhecer as consequências que para todos resultaram desse errado temor em tempos, não muito recuados, como por saber ser a abundância a maneira mais segura de romper com os propósitos maltusianistas que costumam ser atributos de monopolismos ou feudalismos de ordem privada ou tecnocrática e ainda por não desconhecer estar em boa parte dependente do preço e abundância de energia a possibilidade de não poucos empreendimentos industriais, precisamente daqueles mais adaptados às nossas peculiares condições, a dúvida constitui forte preocupação.

Esperemos que assim não aconteça, até porque, para já, se dispensariam mais uns vultosos investimentos na rede de transporte, sempre cara, mas entre nós especialmente cara, que poderiam servir para a electrificação rural ou instalação de indústrias fortemente reprodutivas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O distrito de Bragança, dizia eu, viveu um dia de festa, em que comungaram grandes e pequenos, aldeões e citadinos, um dia que ficou gravado na sua memória, um dia que espera seja o começo do caminho do seu indispensável e urgentíssimo desenvolvimento económico.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Apenas uma nota nestes dias de festa e alegria ensombrou os espíritos dos meus conterrâneos. É que faltou uma palavra ao Sr. Ministro da- Economia, uma palavra por que todos esperavam, mas não foi dita.

A palavra diz respeito ao problema da electrificação da região e do incomportável regime tarifário a que está sujeita.

O Sr. Ministro da Economia deve saber bem que estas questões constituem um grave problema de Trás-os-Montes, pois sem a solução delas nem pode haver desenvolvimento económico, nem melhoria sensível das condições de vida, que estas questões se converteram em apaixonado problema político e sentimental dos Trasmontanos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Ao técnico, qualquer que seja a sua envergadura, qualificação ou função que ocupe, por um defeituoso entendimento das coisas da vida podem ser indiferentes estas questões e pequenas (?) coisas, mas ao Ministro, isto é, ao político que todo o Ministro tem de ser antes de mais, é que não é licito fazê-lo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nem os povos aceitam, nem os homens deixam de reparar nessas omissões.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Proença Duarte: - V. Ex.ª não entende que o Sr. Ministro da Economia enunciou precisamente a resolução de todos esses problemas da distribuição da electricidade?

Esperemos que S. Ex.ª, pela sua alta competência, saber e conhecimentos, lhes dê as soluções adequadas.

O Orador: - O que eu estava a dizer é que, havendo, a este respeito, um problema político grave e agudo, deveria ter sido proferida uma palavra, que não foi dita, mas era esperada.

O Sr. Proença Duarte: - A mim parece-me que essa palavra política foi dita com a enunciação dos problemas que têm de ser resolvidos, e que hão-de sê-lo.

O Orador: - V. Ex.ª, como pessoa ligada ao Ribatejo, pode ter ficado satisfeito com o enunciado do Sr. Ministro da Economia, mas eu, como Trasmontano, com um problema concreto, localizado e agudo, é que não fiquei. Não fiquei eu nem nenhum dos meus conterrâneos.