Queixamo-nos outras vezes, com menor ou maior razão, daqueles que actuam desembaraçadamente em terrenos alheios e coutados ...

Oxalá nunca tenhamos de queixar-nos de que, por esvaziada de conteúdo a sua competência, as corporações são aquilo que ao fim de tudo puderam ser, e não o realização das esperanças que nelas pusemos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Particularmente perigosa, para já, a tendência que acaso se desenhasse de aferir pela bondade das opiniões expostas, que não pela autenticidade da representação expressa, a legitimidade da defesa dos interesses corporativamente organizados. Todos concordaremos em desejar que tais opiniões cheguem clara e integralmente a quem deva conhecê-las e as possa avaliar pela bitola do mais alto interesse nacional.

E não será preço demasiado caro da espontaneidade e consequente utilidade do diálogo Estado-corporações, bem como da vitalidade destas últimas, o que houvermos de pagar com pequenas dificuldades emergentes das divergências suscitadas.

Questão mais delicada, não o contesto, a dos outros poderes das corporações. Quanto aos que a base V da Lei n.º 2086 lhes concede, não se terão por certo escandalizado muito os paladinos da liberdade de movimentos dos órgãos estaduais.

Para além deles, fica um largo campo de discussão em que não pretendo embrenhar-me.

Quando ... como ... até onde? Reservo a comodidade própria, com o implícito benefício de VV. Ex.ªs, de não descer a considerações de pormenor, tanto mais que outros o fizeram brilhantemente, com uma ciência dos princípios e um conhecimento de causa, sobretudo na ordem dos factos da vida económica, de que não posso ufanar-me.

Penso, de resto, não estar desta sorte em contradição com as minhas premissas iniciais.

Delas concluiria importar acima de tudo, no momento presente, que não ficassem dívidas sobre o rumo que tomamos.

Salazar dizia há anos estarmos empenhados em encontrar uma fórmula que respondesse, entre outras, a exigência de, através da organização corporativa, «aliviar o hipertrofiado e monstruoso Estado moderno, desembaraçando-o de algumas das suas funções ... e defendendo só por esse facto a liberdade individual e as economias privadas». Como mós situamos longe do pendor socializante no qual, por todo esse mundo de Cristo, tantos se deixam insensivelmente escorregar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Se somos fiéis ao substrato ideológico do Regime, havemos de desejar, salvo melhor juízo, que a Nação, corporativamente organizada, tenha, cautelosamente embora, mas progressivamente, cada vez mais a sua palavra a dizer.

Invocam-se, às vezes, a falta de experiência sobre as virtualidades do sistema e a míngua de formação, de competência, não sei se de isenção e austeridade, dos homens encarregados de praticá-lo.

Passemos além da injustiça das generalizações.

Mas, por Deus, que se não pomos a prova os homens e o sistema nunca teremos o mínimo de experiência corporativa e o quanto baste de consciência corporativa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

legítima, inclusive por ser insubstituível.

E se me permitirem juntar duas palavras saborosas que amenizem o desinteresse do meu arrazoado, buscarei unia delas no nosso bom padre Vieira: «... contente-se cada um de crescer dentro da esfera do talento que Deus lhe deu e logo conhecerão todos que tem bênção cada um no seu elemento». E esta: «Não digo que não trate cada um de crescer, mas conheça cada um o que é. E depois cresça conforme a sua espécie ...».

Sr. Presidente: regresso e já para concluir.

Depois de estudo ponderado, a que não faltou, creio eu, a presença de pontos de vista radicais, desembaraçadamente postos e eloquentemente patrocinados, concertou há três anos esta Assembleia determinado teor de soluções, assente numa orientação tendência!, que reputou necessário acompanhar de prudente expectativa traduzida em situações transitórias e de compromisso.

A construção não pôde ainda ser posta à prova de maneira concludente; revê-la no que tem de esse ncial seria, pelo menos, gesto prematuro.

Os ajustamentos referidos no segundo ponto do anúncio do aviso prévio, esses viriam sempre a tempo e seriam bem-vindos, desde que não significassem implícita deslocação das bases do regime jurídico estabelecido em sentido diverso, e muito menos oposto, do que, por fidelidade a postulados doutrinários, parece a tendência natural da evolução do mesmo regime.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Ferreira Barbosa: - Sr. Presidente: é com extrema satisfação que volto a subir a esta tribuna depois do debate sobre o aviso prévio que tive n honra de apresentar.

Antes de tudo, e como seu autor, cumpre-me agradecer ao ilustre colega Dr. Dias Rosas, que requereu a generalização do debate, e a todos quantos intervieram na discussão.

Que me perdoem não lhes citar os nomes.

Bem hajam todas, que assim demonstraram n interesse enorme de que o problema posto em foco se revestia e reveste.

Só com um dos ilustres intervenientes, confesso, me seria impossível manter qualquer espécie de diálogo, tão grande é a diferença de conceitos que nos separa. Eu sou corporativista sem deixar de ser partidário da economia capitalista.

O objectivo claramente gizado no anúncio do meu aviso prévio foi já, e amplamente, atingido adentro