Já um dia pude dizer nesta Câmara quanto importava e importa que as leis do País se vivifiquem no sentido doutrinário que dimana dos princípios político-sociais que nos regem Este é, precisamente, o timbre e o mais alto mérito da obra que o Doutor Antunes Varela tem realizado na pasta da Justiça com tão notável segurança de orientação, lucidez de inteligência e firmeza de acção. Por ela lhe são devidos os maiores, louvores.

Ma» do mesmo significado profundo são também testemunho as novas Casas da Justiça que, por esse Portugal além, ficam como padrões da era de renovação que, sob a égide do Presidente do Conselho, se processa na vida nacional

Em nome dos povos que directamente beneficiam da magnífica Domus lustotice que ontem abriu as suas portas dirijo no Governo, na pessoa do Sr. Ministro da Justiça, a expressão do mais vivo reconhecimento Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O orador foi, muito cumprimentado

O Sr. Alberto Cruz: - Sr Presidente, com a maior singeleza e objectividade, como é hábito meu, vou expor um assunto que reputo da maior importância e gravidade e que julgo merecer duas palavras, embora duras, nu seio desta Assembleia Nacional.

Há tempos já que se lêem diariamente nos jornais telegramas e transcrições de jornais estrangeiros noticiando a actuação de um general do Exército português, embora na situação de reserva e voluntariamente exilado do seu país, que deambula por vários países, fazendo as mais fantasiosas, e por isso falsas, declarações a respeito da nossa situação política, económica, financeira e social,

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador: - denegrindo a nossa esperançosa mocidade e fazendo antipatrióticas e também falsas considerações respeitantes às nossas províncias ultramarinas.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador: - Mas há pior e de maior gravidade acamarada com inimigos da sua pátria, como agora em Londres com um indiano naturalizado e que, por infelicidade nossa, nasceu em território português de Goa e há poucos dias ainda fez parte da delegação indiana no Tribunal da Haia, onde se julgava um litígio entre Portugal e a União Indiana

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Estes factos, que suo do conhecimento público, têm merecido a alguns dos nossos jornais duras pai avia s de repulsa

Sr. Presidente- na minha infância (onde isso vai! ...) ensinaram-me no lar e na escola a amar a Deus e a amar a Pátria. Amar a Deus é declaração que sempre fiz e faço, embora pensem o contrário alguns cretinos de ambos os sexos em face de determinada atitude por num assumida há meses nesta Assembleia por ocasião da votação de determinado diploma Amar a Pátria é sentimento que herdei dos meus pais e que transmito e continuarei a transmitir aos meus descendentes, pedindo a Deus que lhes conserve e avigore, cada vez mais, esse admirável sentimento

Pois são esses sentimentos que me obrigam a perguntar desta tribuna se pode considerar-se português quem pede a estrangeiros a sua intervenção nos assuntos de Portugal ...

Vozes : - Muito bem, muito bem !

O Orador - . . e declara querei invadir o País com brigadas internacionais, arrebanhadas nas alfurjas de várias nações, para derrubar um Governo que nos deu paz e prosperidade, moeda forte e estável, prestígio nacional e internacional, modificando radicalmente todos os sectores da administração pública, no sentido de maior honestidade e eficiência.

Vozes: - Muito bom, muito bem!

O Orador: - Tenha, Sr General, com os seus «7500 bravos apátridas», desembarcar nas praias de Portugal, que lá há-de encontrar a barrar-lhe a entrada essa tal «efeminada» (como a cognominou) Mocidade Portuguesa, devidamente comandada e dirigida pelos briosos oficiais do nosso glorioso Exército, que não esquecem o juramento sagrado que fizeram ao envergarem as fardas com que orgulhosamente se apresentam.

Vozes : - Muito bem, muito bem !

O Orador : - Serão recebidos como sempre foram os inimigos de Deus e da Pátria

Sr Presidente quero também manifestar a minha estranheza em face da atitude de alguns jornais e parlamentares de países que se dizem amigos! ... (que sen a se o não fossem?!).

Que diriam esses parlamentares e esses jornalistas se se invertessem os papéis

Nesta Assembleia Nacional nunca se atacaram países estranhos e os parlamentares portugueses nunca convidaram os inimigos desses mesmos países a virem fazer conferências ou conciliábulos de qualquer natureza respeitantes a essas nações

Vozes : - Muito bem, muito bem !

O Orador: - Os Portugueses só tratam dos seus problemas, não se imiscuem na política de países estranhos, por nós sempre respeitada, e só desejam viver em paz e sossego, interna e externamente, e fazem votos por que os países amigos gozem sempre de prosperidade e sejam felizes.

Não quero deixar sem uma referência especial a atitude do Governo da Holanda, aconselhando o tal Sr General que peregrina neste momento por várias nações, em propaganda antipática e infeliz contra a sua pátria .

O Sr Cortes Lobão: Traição!

O Orador : - Exacto A não fazer declarações públicas aos órgãos da propoganda ou reuniões com o mesmo fim Honra a essa nação amiga, pela lição mestra que deu às outros, e oxalá o seu admirável exemplo sirva de paradigma para futuras atitudes no concerto mundial das nações

Não ficaria de bem com a minha consciência se não traduzisse nesta Assembleia Nacional o pensamento da quase totalidade dos Portugueses, fortemente magoados pelos ataques feitos a sua pátria em países estranhos, e só justificáveis por lamentável psicose que desmanda imediato tratamento, e magoados também por essa atitude de jornais e parlamentares estrangeiros, a que os governos Respectivos deveriam coarctar a liberdade de