estranho modo este de defender o orgulho nacional ferido!

Mas para lá desse aspecto havemos de reconhecer subsistirem, os motivos, as razões e os objectivos da cobiça de uns, das inibições de outros, não obstante terem talvez já percebido dolorosamente que também sofrerão as consequências se aqueles desideratos vierem a realizar-se e também permanecer a estratégia a mesma.

E nem se julgue que o degelo nas relações russo-americanas e a eventual concretização de uma fórmula de coexistência dita pacifica signifique o abandono daqueles objectivos, a renúncia à luta ideológica, a desistência de tentar quebrar a resistência moral e a unidade política dos povos que altivamente persistem em seguir o seu turno, fiéis ao seu destino histórico, fiéis aos seus valores e à sua missão no Mundo, neste pobre Mundo.

Pelo contrário, por acções e também por omissões, qualquer degelo, como qualquer modus vivendi, assente no temor mútuo e em conveniências materiais recíprocas não terá como efeito atenuar a luta do comunismo contar os valores morais e espirituais da civilização cristã ou levá-lo a desistir de vencer a Europa em África, se não puder corromper-lhe a alma enfraquecendo a sua unidade, dividindo os homens, e assegurar mais simplesmente o domínio de África na velha Europa.

Já se tem dito e redito que o destino da Europa, desta Europa livre e cristã, se joga em África, mas também e verdade igual que a África se pode perder na Europa

Sr. Presidente o objectivo último da ofensiva contra nós - contra a nossa civilização e contra o nosso território, espalhados pelo Mundo - são as nossas províncias ultramarinas, especialmente as portentosas províncias de Angola e Moçambique. Quem o duvida?

O nosso ultramar, para além de constituir o orgulho de um passado feito de sacrifícios de sangue e de fazenda, de epopeia e de glória, de conter túmulos de heróis e de mártires, de espalhar algo do mais íntimo e grande da inconfundível personalidade lusíada, de representar para todos os portugueses um passado no presente, é também um grande e forte e vivo motivo de esperança.

No espírito da juventude portuguesa perpassa constantemente o sonho de África, que, para cada vez maior número, será a terra de seus filhos e a perspectiva de um futuro melhor porá todos Dos mais humildes até aos mais cultos, principalmente para aqueles, o ultramar é a promessa do futuro, o local onde se podem tentar as coisas grandes e belas que estão no fundo do seu espírito, que latejam no sangue quente de latinos, que vivem na alma sempre aberta à epopeia, à poesia e à dádiva dos Lusitanos

Transigir, ceder, abdicar, negociar, significa, para todos os portugueses -aqueles que, a despeito de terem nascido em Portugal, assim não sintam, pensem ou vivam, não são portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - . . transigir, ceder, abdicar, negociar a respeito dos territórios portugueses, derramados pelo Mundo, significa para todos os portugueses uma traição para com o passado, uma desonra no presente e a alienação de uma das mais fortes e vivas e sentidos razões de esperança no futuro

Vozes: - Muito bem!

Apoiados

O Orador: - A intransigência total, completa, absoluta, a este respeito constitui, assim, um imperativo da consciência nacional que todos os portugueses, estejam onde estiverem, sob pena de grave traição à Pátria, têm o imperioso dever de proclamar, a obrigação inalienável de sustentar por todos os meios, inclusive da própria vida.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Assim, e aqui, temos de aparecer aos olhos dos outros, mas primeiro de nós próprios, como força coesa e una, firme e decidida, forte e orgulhosa, sem respeitos humanos, como outrora em tantas e tantas gestas que são o padrão da nossa própria vida.

Vozes: - Muito bem !

regime português e o objectivo da guerra que, daqui e dali, de dentro e de fora, nos movem ter como fim primeiro derrubar o regime político e Sal azar em especial.

Creio, porém, ser simples de explicar e fácil de entender por quantos a paixão não tolde a razão, a ingenuidade não cubra a traição, situem-se seja em que quadrante político for, tenham estes ou aqueles ideais políticos peculiares

A questão é esta. foi a firmeza do Governo, traduzindo fielmente a consciência nacional, apoiado numa ampla base de unidade política, livre da tutela de influências, interesses ou questões acidentais e fora de quaisquer lutas partidárias ou dissídios internos, quem operou o milagre e pôde conduzir a história como há-de ser narrada no futuro com maior evidência.

O Sr. Carlos Moreira: - Não esqueça V. Exa. que foi também a noção patriótica do povo português.

O Orador: - Foi exactamente o que eu disse V. Exa. não deve ter ouvido a frase antecedente.

Não fora a clarividência de Salazar, a firme determinação do Governo, a existência de uma forte unidade nacional, e a consciência dos Portugueses teria sido traída, a Pátria poderia ter sido amputada, porventura depois de muito jogo retórico, de muitas discussões inúteis e ridículas, os horizontes de esperança da nossa juventude teriam sido bruscamente cortados e, em pouco tempo, ter-se-ia negado todo um passado imorredouro e liquidado um futuro promissor

Acaso não é esta a lição da nossa história? Acaso não é esta, na actualidade, a lição de outros povos?

Que é assim nós o sabemos bem - embora alguns e algumas vezes pareçam, finjam ou pretendam esquecê-lo -, que é assim nós o sabemos bem e melhor o conhecem os nossos inimigos